segunda-feira, 4 de agosto de 2014

ONU DIZ QUE BRASIL TEM 77 MILHÕES DE PESSOAS COM ÁGUA DE MÁ QUALIDADE

Abastecimento de água regular e de qualidade ainda é uma realidade distante para 77 milhões de brasileiros - equivalente à população da Alemanha. O alerta é da Organização das Nações Unidas (ONU), que ainda aponta que 60% da população - 114 milhões de pessoas - "não têm uma solução sanitária apropriada". O informe que traz esses dados foi preparado pela relatora da ONU, Catarina de Albuquerque. Ela não hesita em alertar que o crescimento econômico dos últimos anos ainda não se traduziu em uma melhora em termos de acesso à água no País. Em junho de 2013, a representante das Nações Unidas teve sua primeira inspeção para realizar o levantamento vetada pelo governo. A ONU considerou que o veto tinha uma relação direta com os protestos que, em 2013, tomaram as cidades brasileiras. A viagem só aconteceria em dezembro de 2013, o que impediria que o informe produzido fosse apresentado aos demais governos da ONU e à sociedade civil antes da Copa do Mundo. O raio X reflete uma crise que o País enfrenta no que se refere ao acesso à água e saneamento. "Milhões de pessoas continuam e viver em ambientes insalubres, sem acesso à água e saneamento", indicou o informe, apontando que o maior problema estaria nas favelas e nas zonas rurais. Catarina deixa claro que o crescimento da economia brasileira nos últimos anos não foi traduzida em ganhos nesse setor. "Nos últimos anos, o Brasil experimentou um desenvolvimento significativo, com crescimento econômico e uma melhoria dos indicadores sociais. Mas esses ganhos ainda não foram refletidos nos serviços de água e saneamento", alertou. Segundo a ONU, o baixo investimento em saneamento no Brasil está tendo "custos elevados para a saúde pública". Em apenas um ano, 400.000 pessoas teriam sido internadas no País por diarréia, com um custo para o Serviço Único de Saúde (SUS) de 140 milhões de reais. O informe aponta que, para cada dólar que fosse investido em saneamento no Brasil, o retorno seria de cinco dólares em custos evitados e ganhos de produtividade. As diferenças regionais são profundas. No Norte, 31% da população ainda vive sem um fornecimento adequado de água. No Nordeste, essa taxa chega a 21,5%. Um dos aspectos mais graves, segundo a entidade, é a "privação de água e saneamento" nas favelas. "O direito à água não pode ser negado a ninguém com base no status legal de sua moradia", alertou a relatora. Para ela, nem o governo e nem os provedores dos serviços tem o direito de negar o abastecimento. O abastecimento também tem uma relação direta com a renda dos habitantes de uma região. "Em locais onde a população ganha um quarto de um salário mínimo, o déficit de água é de 35%", indicou a ONU. Em locais onde a renda é de cinco salários mínimos, 95% da população tem acesso adequada ao abastecimento de água. "O Brasil tem ainda um longo caminho para garantir acesso universal a esse direito", afirmou a ONU. Para contornar esse problema, a ONU sugere um teto para o preço da água e alerta que os padrões internacionais apontam que o abastecimento não pode representar mais que 5% do orçamento de uma família.

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