quarta-feira, 3 de setembro de 2014

GOVERNO LULA PERMITIA QUE PARTIDOS POLÍTICOS INDICASSEM DIRIGENTES PARA OBTER "AJUDA", AFIRMA O PETISTA ILDO SAUER

Envolvido no processo que investiga a polêmica compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, o ex-diretor de Gás e Energia da Petrobrás, o petista Ildo Sauer, quebrou o silêncio e admitiu que "o governo de coalizão" do presidente e alcaguete Lula (delatava companheiros para o Dops paulista durante a ditadura militar, conforme Romeu Tuma Jr.) permitia que partidos indicassem dirigentes para obter "ajuda". Ildo Sauer é um trotskista do PT. Durante o processo do Mensalão do PT, ele costumava reunir artistas e intelectuais, no apartamento-mansão funcional da Petrobras, no Rio de Janeiro, em solidariedade ao bandido petista mensaleiro José Dirceu. Segundo ele, "o folclore" na Petrobrás era que Lula estava impressionado com a contribuição do ex-diretor de abastecimento, Paulo Roberto Costa, atualmente preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro. O ex-diretor classifica ainda como "piada" o argumento da presidente Dilma Rousseff, que na época presidia o conselho de administração da estatal, de que aprovou a aquisição de Pasadena com base em um resumo executivo falho, conforme a própria presidente afirmou ao Estado, em março, por meio de nota. Na entrevista, Sauer afirma que a presidente Dilma se notabiliza por procurar um culpado sempre que aparece um problema e conta que a relação entre a direção da Petrobrás e o governo era tensa.
- O senhor teve acesso ao resumo executivo para compra da refinaria de Pasadena feito por Cerveró?
- O sumário executivo serve como notícia de que há uma pauta. Os membros do conselho e mais ainda o presidente (do órgão) têm acesso a toda documentação. E o estatuto permite a ele pedir qualquer informação adicional à diretoria ou contratar consultoria externa. Ninguém decide com base em resumo. Isso é uma piada.
- A presidente Dilma Rousseff diz que se baseou em um resumo executivo "falho" para aprovar a compra da refinaria.
- Eu conheço a senhora Rousseff há pelo menos 14 anos. Ela se notabiliza por procurar um culpado sempre que aparece um problema. Essa é a competência dela. Ela deve ter visto que havia algum problema e chutou na canela do Nestor (Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional). Como presidente do conselho, ela dizer que o resumo executivo era falho é uma piada. O estatuto diz que é privativa do conselho a decisão sobre aquisição e participações em empresas.
- Como era a relação da presidente com o ex-diretor Nestor Cerveró?
- O diretor é subalterno ao conselheiro. A presidente dizer que era tutelada pelo diretor, que lhe faltou informações completas, é uma inversão completa da lógica. Mas não me surpreende. Por que a conduta histórica dela é essa, muito errática. Quem impediu que a Petrobrás aceitasse o resultado da primeira arbitragem contra a Astra, quando os belgas fizeram a put option, foi o conselho. Isso está nos autos.
- Mas todo o conselho ou só a presidente?
- O presidente do conselho representa o governo dentro da empresa. Os demais conselheiros são eleitos pelos votos do majoritário, o governo, e pelos minoritários. Há um ritual de aceitação da superioridade do governo. Quando há divergência de interesses entre a empresa e a política do governo gera conflito.
- Havia conflitos?
- São notórias as divergências. Primeiro, as minhas com ela quanto à conduta do setor elétrico, que virou esse desastre. Também dela com o Gabrielli (José Sergio Gabrielli, ex-presidente da estatal). O ambiente ficava pesado. Não vou falar dos outros. Havia uma nítida situação de quem representava quem lá dentro. Eu e Estrella tínhamos convicção de que éramos apenas representantes dos interesses da Petrobrás, seus acionistas e da população brasileira. Nenhum interesse estava atrás de nós.
- E dos demais diretores?
- À medida que foram sendo nomeados despachantes de interesses... É uma pequena ironia. Quando fui demitido, diz o folclore que o Lula se queixou a um deputado que eu não ajudava e que ele estava muito impressionado com a ajuda de Paulo Roberto, que ajudava muito. Eu não ouvi dele, ouvi de intermediários.
- Como assim despachante de interesses?
- O governo de coalizão do presidente Lula passou a permitir que grupos de parlamentares e partidos se reunissem para indicar dirigentes. Não sei por que eles estavam lá, se é para fazer gestão eficaz não precisa ter apoio de partido. Não me envolvia com isso por que não achava que era pertinente. Acabei demitido por que diziam que eu não ajudava. O que seria 'ajudar', até hoje eu não sei.
- Quando esse processo começou?
- O ambiente na Petrobrás começou a ficar envenenado, em primeiro lugar, nessa relação conflituosa com o TCU, na definição clara dos papeis de cada um para evitar a zona de sombra que envolve recursos. Depois, quando o petróleo explodiu de preço, a Petrobrás passou a investir US$ 30 bilhões, 40 bilhões, 50 bilhões por ano. Então ela virou foco de interesse da chamada base de apoio político. Leia-se partidos e políticos. Que passaram cada vez mais a querer indicar dirigentes. O governo de coalizão do Lula aprofundou aquilo que já vinha do governo Fernando Henrique.
- Você percebia essa influencia no dia a dia da empresa?
- Não só sentia como me manifestei publicamente. Em dezembro de 2006 dei uma entrevista e depois recebi uma ligação do então ministro de Minas e Energia (Silas Rondeau) dizendo que o presidente da República tinha ficado injuriado e que teria consequências. Era o período de auge de divergências. Eu disse (na entrevista) que quem criticava minha gestão é quem não entendia o papel do dirigente de uma empresa pública. Aqueles que me criticam, exigindo a venda de gás pela metade do custo para fazer uma usina no Ceará, como era a pressão do governo na época, na verdade queriam converter o dirigente num despachante de interesses.
- O que disseram após a entrevista?
- Avisaram que isso não era tolerável. Fiz isso publicamente, pois internamente não tinha mais sentido manifestar a minha convicção. Ouvi da própria Rousseff: 'O Ildo não é do governo, ele é um petroleiro'. Que lambança é essa? Não tem divergência nenhuma entre defender a Petrobrás, para que funcione como empresa, e ajudar o governo, desde que o governo queira fazer o que precisa ser feito.
- O senhor tinha conhecimento de irregularidades?
- Quando isso acontece, acontece com muita sutileza. O despachante é bom quando faz tudo e nada transparece. Parecia que aquilo de fato era o que precisava ser feito. Examinei Pasadena com todo rigor em termos técnicos e empresariais. Agora se havia alguma coisa escondida... Cabia ao conselho fiscalizar os diretores. Não os diretores olhar com desconfiança os colegas. É evidente que tendo em vista a história anterior dos gestores, tinha que olhar com todo o rigor.
- As indicações políticas influenciaram o negócio de Pasadena?
- Quem pode responder são os próprios gerentes que fizeram as negociações ou uma investigação policial entorno das negociações, e eu sugiro lá fora. Se houve algo de errado, então o Ministério Público e a Polícia Federal tinham que investigar quem fez, e não generalizar.
- Há politização das investigações de Pasadena?
- O que não entendo é por que abrir uma questão sete anos depois do ocorrido? Esse procedimento abre um precedente extremamente grave na gestão de empresas públicas. Nenhum dirigente sério e competente vai querer assumir em um ambiente desse tipo e vão para lá os despachantes de aluguel, os que alugam crachá para fazer qualquer coisa, como aquele que está na cadeia hoje.
- É um desafio diferenciar a sua conduta à do ex-diretor Paulo Roberto Costa?
- Não há nenhuma dificuldade. Quem junta os diferentes em um lugar só é esse relatório do TCU, que não examinou individualmente a responsabilidade de cada um.  Eu e o Estrella (Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção) estamos muito mais distantes do assunto do que o Conselho de Administração (eximido de responsabilidade pelo Tribunal).

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