quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A crise hídrica e a questão eleitoral. Ou: Manchete só errada ou também irresponsável? Ou ainda: “Acabar” é verbo que não se conjuga pela metade

A VEJA.com informa que a petista Dilma Rousseff pode usar a crise hídrica em São Paulo contra o tucano Aécio Neves. Nem vai precisar de argumentos. A manchete do Estadão desta quinta já lhe fornece: “Água em SP pode acabar em novembro, admite Sabesp”. É um dos maiores absurdos da historia do jornal. O título foi feito a partir de uma informação de Dilma Pena, presidente da empresa. Na Câmara dos Vereadores, ela afirmou que, se não chover até novembro, pode acabar a água do primeiro volume estratégico — chamado imbecilmente de “volume morto”. Então, é evidente que ela não disse que “pode acabar a água em São Paulo”. Ainda que secasse toda a reserva estratégica do Cantareira, haveria racionamento é claro, mas não “acabaria a água em São Paulo” porque há outras áreas que não dependem daquele manancial. Por que se faz isso?

Eu respondo: porque há a convicção, contra os fatos, de que a Sabesp omitiu a gravidade da crise. Porque há uma espécie de conspiração, digamos, “intelectual”, que envolve até os Ministérios Públicos Estadual e Federal para impedir o uso do segundo volume estratégico da Cantareira e, assim, impor o racionamento. Porque há o esforço para demonstrar que a culpa pela falta de água é do governador Geraldo Alckmin, como se a questão hídrica — que é também energética — dependesse da vontade do poderoso de turno. Alckmin não faz chover — nem em São Paulo nem na cabeceira do São Francisco. A primeira fonte do rio secou. Porque se criou o mito de que São Paulo deveria ter duas Cantareiras, não uma. Ninguém teve essa ideia antes. Ela só apareceu quando parou de chover.
Assim, Dilma vai tentar arrancar um votinhos em São Paulo tentando promover um terceiro turno. Se culpar o Alckmin não deu certo, quem sabe o Aécio…. E, assim, vai se tentando transformar uma contingência da natureza numa questão política. Deu errado da primeira vez. Quem sabe agora…
Se faltava um emblema para demonstrar a disposição de criar um caso político, já temos a manchete do Estadão. Sabiam todos: se não chover até novembro, teremos de ferver o xixi, usar o processo de condensação e beber a água que resultar da operação. Ou, então, sairemos por aí vagando, cavando o solo em busca de água, num cenário de terra devastada — sem água. Afinal, “acabar” quer dizer “acabar”. “Acabar” é verbo que não se conjuga pela metade. Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário: