sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Já fora da Petrobras, Paulo Roberto Costa recebeu 228 ligações da estatal

CPI mista da Petrobras recebe ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, no Congresso Nacional, em Brasília (DF) - 17/09/2014

CPI mista da Petrobras recebe ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, no Congresso Nacional, em Brasília (DF) - 17/09/2014 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Paulo Roberto Costa deixou a diretoria de Abastecimento da Petrobras em abril de 2012, mas não perdeu contato com a estatal: dados das quebras de seu sigilo telefônico indicam que o delator do petrolão recebeu ao menos 228 ligações de telefones da companhia entre maio daquele ano e 20 de março de 2014, quando foi preso pela Polícia Federal, durante a Operação Lava Jato. De um ramal da companhia em Macaé (RJ), foi feita, no dia da prisão, uma ligação de 14 minutos. Reportagem publicada nesta quinta-feira no site de VEJA revela que o esquema montado pelo ex-diretor seguiu a pleno vapor na estatal mesmo após sua saída. A Polícia Federal já sabe que, de outubro de 2010 a dezembro de 2013, pelo menos 37,7 milhões de reais desviados da obra da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, foram repassados a empresas do doleiro Alberto Youssef.  
Agora, dados obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo mostram que ligações para Costa partiram de oito números em nome da Petrobras no Rio de Janeiro, sede da estatal, em Salvador e em Macaé, para dois números do ex-diretor no Rio e na cidade do interior fluminense. O ex-diretor cumpre prisão domiciliar no Rio desde quarta-feira, como parte de um acordo de delação premiada. Em troca de redução de pena, ele deu detalhes do esquema de corrupção na Petrobras e aceitou devolver recursos recebidos de forma ilícita no exterior. À PF e ao Ministério Público Federal (MPF), Costa admitiu ter recebido propina na compra, pela estatal, da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), e afirmou que fornecedores da petrolífera pagavam "comissão" para conseguir contratos arranjados.
A maioria dos telefonemas listados nas quebras de sigilo foi feita da Petrobras em Macaé, onde a companhia mantém plataformas de extração de petróleo. O Estado telefonou para todos os números da estatal indicados nos documentos, mas na maioria dos casos as ligações não se completaram. As identificadas foram feitas de telefones gerais, como Central de Atendimento da estatal, e do setor de Exploração e Produção da Petrobras no Rio de Janeiro.
Os relatórios listam ainda dezesseis telefonemas da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, feitos para o genro de Paulo Roberto Costa, Márcio Lewkowicz. O número de origem é geral, da portaria da sede da Petros. A reportagem enviou os números relacionados nos documentos para a Petrobras, que não respondeu aos questionamentos sobre quais são os usuários dos ramais e a quais departamentos eles pertencem.
Sob elogios - Costa renunciou à Diretoria de Abastecimento da Petrobras em 27 de abril de 2012, sob elogios do Conselho de Administração, que destacou seus "relevantes serviços prestados à companhia". Em seguida, abriu empresas que, segundo a Polícia Federal, eram usadas para desvio de recursos da petrolífera. Em delação premiada, após ser preso pela Polícia Federal, Paulo Roberto Costa contou que um consórcio de empresas obteve contratos na Petrobras mediante o pagamento de 3% sobre os negócios. Parte deste dinheiro era repassada a políticos, segundo os depoimentos. Os recursos eram lavados pelo doleiro Alberto Youssef, acusado de operar um esquema que teria movimentado 10 bilhões de reais. O doleiro também recebeu ligações da Petrobras. Elas partiram de um celular corporativo da empresa, que se nega, desde então, a identificar o histórico de usuários da linha.

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