quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Último ditador argentino recebeu sua quinta condenação por crimes durante regime militar

O ex-ditador e general Reynaldo Benito Bignone foi condenado na terça-feira a 23 anos de prisão pelos sequestros, torturas de 60 líderes sindicais e operários – dos quais 32 foram assassinados – de diversas fábricas na região da Grande Buenos Aires em 1977 durante a ditadura militar (1976-83). No denominado “Julgamento dos operários”, além do ex-ditador foram também ao banco dos réus outros oito ex-integrantes da ditadura por crimes contra a Humanidade, dos quais três foram absolvidos. Este foi o décimo-primeiro julgamento envolvendo crimes ocorridos no quartel do exército de Campo de Mayo realizado no Tribunal Oral Número 1 do município de San Martín. Esta é a quinta condenação acumulada pelo cachaceiro Bignone, que foi o último ditador do regime, aquele que jogou o país e os argentinos na aventura vergonhosa, horrorosa, da rendição nas Ilhas Falklands. Além de duas perpétuas também acumula uma condenação anterior a 25 anos de prisão e outra de 15 anos. Entre os diversos crimes, o ex-ditador – atualmente com 86 anos – esteve envolvido em sequestro de bebês, tortura e assassinato de civis e roubo de bens. Bignone ainda está sendo julgado por outro caso, que deve concluir no ano que vem, sobre sua participação no Plano Cóndor, denominação do programa de cooperação das ditaduras sul-americanas nos anos 70 e 80 para sequestrar e executar pessoas consideradas opositoras dos regimes militares. No mesmo julgamento na terça-feira, foi condenado o ex-general Santiago Omar Riveros, de 91 anos, que cumprirá perpétua. Ele já havia sido julgado à revelia na Itália, no ano 2000, quando foi condenado a perpétua pela morte de três cidadãos italianos. Em 2009 Rivero havia sido condenado na Argentina a perpétua pela tortura – por intermédio de empalamento – do adolescente de 14 anos Floreal Avellaneda, cujo corpo, jogado no rio da Prata, foi levado pela correnteza até as margens uruguaias, onde foi descoberto. Segundo organismos de defesa dos Direitos Humanos argentinos, durante a ditadura, militares e policiais assassinaram ao redor de 30 mil civis, a maioria dos quais sem militância na guerrilha. No entanto, o número de desaparecidos catalogados pela Comissão Nacional de Pessoas Desaparecidas (Conadep), é de 10 mil pessoas. Nos últimos anos, dois ex-ditadores, Jorge Rafael Videla (morto em maio de 2013) e o cachaceiro Bignone, admitiram que assassinaram 8 mil civis com o argumento de “defender o estilo de vida cristão e ocidental” da Argentina. Em 1985, durante “O Nuremberg argentino” – julgamento durante o governo de Raul Alfonsín dos militares responsáveis por crimes contra a Humanidade – Bignone foi julgado e condenado à prisão. Mas, em 1990 foi indultado pelo então presidente Carlos Menem (1989-99). Nove anos depois foi detido graças à uma brecha no indulto, que não contemplava a anistia pelos sequestros de crianças. Em 2004, com a revogação das Leis de Perdão no Parlamento – e a confirmação dessa medida na Corte Suprema em 2007 – Bignone tornou-se o alvo de novos processos. Durante um tempo, pela idade, conseguiu prisão domiciliar. Mas, em 2011 foi transferido para uma prisão comum. “O Julgamento dos Operários” é a denominação que os organismos de direitos humanos argentinos deram ao julgamento dos militares, policiais e integrantes da Guarda-Costeira envolvidos no assassinato de 32 líderes sindicais e operários (e alguns parentes desses trabalhadores) de fábricas da zona norte da Grande Buenos Aires, além da tortura de outros 28 em 1977. As vítimas eram funcionários dos estaleiros Astarsa e Mestrina, das fábricas de cerâmicas Cattáneo e Lozadur e da metalúrgica Bopavi.

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