quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Caixa Econômica Federal está com uma montanha de créditos "podres"

Parcela de créditos em atraso há mais de 180 dias que deve ser recuperada totaliza R$ 1,656 bilhão

A Caixa Econômica Federal fez uma nova "limpeza" em seu balanço ao repassar, em setembro, créditos "podres" de 2 milhões de contratos a uma empresa pública, criada pelo governo para absorver prejuízos dos bancos oficiais com clientes inadimplentes. Pela primeira vez, a Caixa Econômica Federal transferiu à Empresa Gestora de Ativos (Emgea) não apenas créditos imobiliários em cobrança, mas também contratos de outras operações, como financiamentos de automóveis e bens de consumo. No total, estima-se uma carteira "podre" de quase 5 bilhões de reais. A parcela que deve ser recuperada desses créditos em atraso há mais de 180 dias (e contabilizados como prejuízo no balanço do banco) foi calculada em 1,656 bilhão de reais pela Caixa Econômica Federal e Emgea. A projeção foi feita com base em um desconto de 70% no valor total da carteira repassada. Esta é a segunda vez que a Caixa Econômica Federal recorre à Emgea para limpar o balanço e tentar recuperar parte dos calotes. Desde 2001, quando fez a primeira operação com créditos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), o banco expurgou cerca de 50 bilhões de reais em créditos "podres", incluindo essa nova operação. No modelo de permuta adotado pela Caixa Econômica Federal, o banco repassa os contratos sem nenhum custo à Emgea. A empresa recalcula os valores, concede descontos generosos aos clientes para quitação imediata da dívida e devolve à Caixa Econômica Federal o total recuperado. Na prática, a Emgea funciona como uma empresa de cobrança, mas é vinculada ao Ministério da Fazenda. Nessa nova operação, o banco oficial se livrou de créditos adquiridos de bancos menores durante a crise financeira internacional, quando a Caixa Econômica Federal, na contramão dos maiores bancos privados, ampliou a concessão de crédito para ajudar a superar a recessão. Até parte do Banco PanAmericano, adquirido pela Caixa Econômica Federal em 2009, foi incluída no pacote. A prática de vender esses créditos é muita usada por bancos privados, principalmente os estrangeiros. No entanto, a idéia de permutar essa "diversidade" de créditos da Caixa Econômica Federal nunca foi consenso entre a equipe econômica do governo, que já criticou publicamente a operação feita há 13 anos na gestão de Fernando Henrique Cardoso. O ministro da Fazenda, o petista Guido Mantega, chegou recentemente a classificar um repasse feito em 2001 pela Caixa Econômica Federal à Emgea como um exemplo de "pedalada" no governo Fernando Henrique Cardoso, já que, à medida em que a Emgea vende os ativos e reconhece os créditos podres, cria-se uma despesa primária não registrada inicialmente. Como se vê, o petista Mantega transformou-se um ciclista digno da disputa do Tour de France, um pedalador de primeira. Naquele ano, a Emgea recebeu da Caixa Econômica Federal cerca de 1,2 milhão de contratos de financiamentos habitacionais, em um total de 26,61 bilhões de reais em valores da época. No fim do ano passado, a Emgea informou ter recuperado 19,47 bilhões de reais em valores corrigidos. A Caixa Econômica Federal confirmou ter feito, em setembro, a "primeira cessão onerosa" e o repasse de contratos de empréstimos comerciais para pessoa física e habitacionais à Emgea. O banco informou, em nota, que as cessões foram feitas sem "coobrigação", ou seja, não há possibilidade de retorno dos contratos à instituição, apenas dos valores recuperados. Como essa carteira já estava colocada como prejuízo no balanço, o impacto da operação na inadimplência total é marginal. No entanto, o banco reduzirá as provisões que precisa manter para cobrir os riscos de calote. Na medida em que recupera parte desses créditos, o banco libera espaço para emprestar mais - ou seja, alivia o chamado índice de Basiléia (a relação entre capital próprio e os empréstimos concedidos).

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