terça-feira, 4 de novembro de 2014

Cidade iraquiana tomada pelo Estado Islâmico é forçada a mudar costumes

Depois que capturou Falluja em janeiro, o Estado Islâmico convenceu um homem que fazia capas automotivas a vender coletes para homens-bomba, uma das muitas mudanças na cidade iraquiana que se adapta à vida sob o cerco dos militantes sunitas radicais. O Estado Islâmico ganhou fama por decapitar e executar qualquer um que se colocasse em seu caminho quando tomou cidades pequenas e grandes no Iraque e na Síria e formou seu autoproclamado califado, muitas vezes usando suicidas para promover avanços. Os militantes emitiram diretrizes para a vida de acordo com sua ideologia, exigindo que todas as mulheres usem véus no rosto e proibindo cigarros e cortes de cabelo de estilo ocidental, populares em Falluja até então. Muitos moradores se sentem alienados com as alterações, mas para poder manter seu “império” e sua guerra santa contra governos e Exércitos, o Estado Islâmico também faz acordos com pessoas como o alfaiate, de acordo com visitantes recentes de Falluja. O Estado Islâmico forneceu um gerador e combustível de graça ao profissional liberal, o que lhe permitiu aumentar o lucro com a fabricação em escala de coletes, cintos e calças em um edifício crivado de balas disparadas por militares dos Estados Unidos contra a Al Qaeda quase uma década atrás. “Passei por tempos difíceis. Tenho filhos para sustentar. Escolhi esta nova profissão conscientemente e assumo a responsabilidade pelo desfecho”, disse o alfaiate. Falluja foi a primeira cidade no Iraque a cair diante do Estado Islâmico, uma dissidência da Al Qaeda composta de árabes e terroristas estrangeiros que ameaça tomar a vizinha capital, Bagdá. Durante a ocupação norte-americana, na esteira da deposição de Saddam Hussein, em 2003, a cidade emergiu como principal área da insurgência sunita na província de Anbar, no oeste iraquiano, e rapidamente se tornou um reduto da Al Qaeda. Os fuzileiros navais dos Estados Unidos disputaram com a Al Qaeda em 2004 em duas das maiores batalhas da guerra norte-americana no país. Uma década mais tarde, o Estado Islâmico está profundamente enraizado em Falluja, o que a torna um dos maiores exemplos do que a vida poderia se tornar em vastos trechos de território iraquiano e sírio sob controle do grupo e sua ideologia ultraconservadora. Todas as mulheres que chegam às entradas de Falluja recebem de graça um niqab, um véu que as cobre da cabeça aos pés, e são forçadas a vesti-lo em uma cabine com vidros escurecidos para não serem vistas. O Estado Islâmico tem diretrizes do que é proibido escritas em panfletos colados em prédios e mesquitas pela cidade: nada de cigarros ou narguilés, já que podem desviar a atenção das pessoas das orações, nada de cortes de cabelo de estilo ocidental, nada de camisetas com dizeres em inglês ou imagens de mulheres. Mulheres não têm permissão de sair de casa sem a companhia de um parente masculino, uma regra que aprofundou as frustrações. Uma testemunha recordou o caso de uma mulher que procurou o tribunal do grupo para argumentar que deveria poder andar sozinha por ser viúva e não querer atrapalhar seus irmãos. Ela gritou com militantes do lado de fora da corte. “Vocês dizem que Deus não aceita que uma mulher saia de casa sozinha. Então como Deus pode aceitar vocês matando gente?”, teria dito ela. Um militante respondeu: “Nós a decapitaríamos se você fosse um homem”. O tribunal decidiu que ela fosse expulsa de Falluja, de onde partiu com seus pertences em uma caminhonete. O grupo terroristas ficou com sua casa. Meninas menores de 12 anos, o limite para obrigar o uso do niqab, devem usar um lenço na cabeça.

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