quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Ex-número 1 da Bombardier diz à Polícia Federal que Alstom indicou suposto lobista

O ex-presidente da Bombardier Brasil, André Michel Alexis Guyvarchi, afirmou à Polícia Federal que dois ex-presidentes da Alstom Brasil, Philipe Mellier e José Luís Alqueres, recomendaram a ele, em 2004, a contratação do engenheiro Arthur Teixeira – apontado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público como lobista do cartel metroferroviário que teria atuado em São Paulo no período entre 1998 e 2008 (governos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB). Segundo André Guyvarchi, os dois ex-dirigentes da multinacional francesa sugeriram a contratação de Teixeira “para facilitar a tramitação dos documentos nos órgãos governamentais”. Na ocasião, André Guyvarchi ocupava o cargo de diretor-geral do Setor de Transportes do Grupo Alstom para a América do Sul. Entre os anos de 2000 e 2004, ele exerceu as funções de diretor de Sinalização e presidente geral da Unidade Francesa do Grupo Alstom. Em 2006, foi contratado pela Bombardier como consultor, papel que executou até 2010, na Europa. Em março de 2011 assumiu a presidência da Bombardier Brasil, cadeira que ocupou até abril de 2014. Atualmente, não tem vínculos com a Bombardier Brasil.

VEJA A ÍNTEGRA DO DEPOIMENTO DO EXECUTIVO À PF:
Parte 1
depoimentoandre1
Parte 2
depoimentoandre2
Parte 3
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André Guyvarchi é autor de um emblemático e-mail enviado em 2012 para o chefe da Bombardier Transportes a quem pede apoio financeiro para um parlamentar do PT, que não identifica. Na correspondência, ele diz que “tudo em Brasília é suspeito”. “Fomos procurados pelo nosso deputado federal do PT para participar de um almoço que faz parte da campanha eleitoral de alguém que ele apoia. Estamos falando em pouco menos de 12 mil euros. Precisaremos do apoio dele e ele nos ajudou. Ele se mostrou razoavelmente eficiente. A quantia é bem limitada". André Guyvarchi depôs na Polícia Federal dia 23 de outubro. O e-mail de sua autoria está sob o crivo do Supremo Tribunal Federal porque faz menção à “nosso deputado do PT”. Seu relato no inquérito sobre o cartel metroferroviário preenche três páginas. Ele disse que conheceu Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira – já falecido – no segundo semestre de 2004, “quando estes ofereceram a prestação de serviços de consultoria para a Alstom no setor metroferroviário”. O executivo disse que rejeitou a oferta de Arthur, “uma vez que a Alstom tinha toda a infraestrutura para realizar o serviço que era oferecido”. Afirmou que “tinha conhecimento da reputação de Arthur como intermediário no pagamento de propina no setor metro ferroviário”. Mas fez uma ressalva: “Nunca teve conhecimento de um caso específico em que Arthur tenha pago propina para algum servidor". André Guyvarchi declarou que Arthur Teixeira “queria cobrar da Alstom 1% sobre o valor de cada eventual contrato para prestar os serviços oferecidos”. Ele afirmou ainda que “não contratou os serviços oferecidos por ele (Arthur) pois a Alstom não tinha a menor necessidade desses serviços". O executivo relatou ainda que exerceram a presidência da Alstom Brasil Philippe Mellier e José Luís Alqueres. “Ambos eram responsáveis pela tesouraria, coordenação comercial, técnica, industrial e financeira. Também tinham uma função representativa, eram eles que se encontravam com os chefes dos poderes executivos federal e estadual". “Ambos recomendavam a contratação de Arthur Teixeira para facilitar a tramitação dos documentos nos órgãos governamentais”, disse André Guyvarchi. “Que imagina que Arthur tinha a possibilidade de apresentar dossiês claros para facilitar a alocação de recursos para o transporte público". A Polícia Federal questionou André Guyvarchi sobre um e-mail enviado por José Luís Alqueres para o então presidente da Divisão de Transportes da matriz francesa, Philippe Mellier.
Nesse e-mail Alqueres informava ter recomendado a contratação de Arthur Teixeira por seu “bom relacionamento” com o prefeito e o governador de São Paulo, à época. “Foi o contrário do recomendado por mim”, declarou Guyvarchi: “Tudo o que Alqueres recomendou foi o contrário daquilo que recomendei. Reitero que neguei a contratação de Arthur Teixeira, fato que gerou o e-mail de Alqueres para o presidente da Divisão de Transportes da matriz francesa, Philippe Mellier". Ele disse que, em 2004, colocou como condição a saída do executivo Carlos Alberto Cardoso de Almeida, que foi o responsável por toda a coordenação comercial do Grupo Alstom. Afirmou que os dirigentes da Alstom, Paulo Borges, Geraldo Hertz e José Luís Alqueres, “tinham relacionamento com Arthur Teixeira”. Segundo ele, Borges “era o responsável pelos contatos com consultores, mas não sabe se ele se reuniu com Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira”. André Guyvarchi disse que Paulo Borges “conduziu todo o processo de negociação que resultou na aquisição de 12 trens pelo Consórcio Cofesbra”. Afirmou, ainda, que Antonio Oporto era presidente da Alstom Transportes da Espanha: “Antonio Oporto foi responsável pelo controle do resultado/lucro do Grupo Alstom no setor de transportes para a América do Sul desde 2004. Cesar Ponce de Leon era homem de confiança de Antonio Oporto na Espanha". André Guyvarchi disse que “nunca teve contato” com Oliver Hossepian, João Roberto Zaniboni e Ademir Venâncio de Araújo, ex-dirigentes da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM) que a Polícia Federal indiciou por corrupção e organização criminosa. Segundo ele, Arthur Teixeira começou a trabalhar na Alstom como consultor. Afirmou que “não teve conhecimento de pagamento de propina e formação de cartel no setor metroferroviário”. Ele declarou que também “não teve conhecimento, nem participação” na assinatura de contratos da Alstom com as consultorias uruguaias que estão sob suspeita de pagamento de propinas a políticos e a agentes públicos – GHT Consulting, e Gantown Consulting – no âmbito da licitação da Linha 5 do Metrô. Declarou, ainda, que “não teve conhecimento” da assinatura de contrato da Alstom com a GHT no âmbito do aditivo ao consórcio Cofesbra.
LEIA A ÍNTEGRA DO E-MAIL QUE ANDRÉ GUYVARCHI ENVIOU EM 2012 PARA ANDRÉ NAVARRI, DIRETOR DA BOMBARDIER TRANSPORTES.
“André,
Assunto delicado.
Contexto:
Um dos deputados federais do PT (partido no governo do país) está nos apoiando. Até o momento ele não foi muito útil. Tentou nos colocar num plano para fornecer um trem a Cuba, pois o governo brasileiro está financiando via Odebrecht um novo porto próximo a Havana. Não funcionou, pois os cubanos decidiram procurar os espanhóis. Entretanto, mais recentemente, ele nos ajudou a cancelar um leilão envolvendo a manutenção do metrô de Brasília. Tudo em Brasília é suspeito de corrupção, por causa dos muitos processos sendo julgados. Bastou um telefonema dele ao metrô de Brasília e ao governo da cidade para fazer os funcionários levarem em consideração nosso pedido para abrir o leilão à concorrência, permitindo que participemos. Agora o novo leilão está sendo preparado. Para a Linha 18 (monotrilho ABC), parte do financiamento do projeto virá diretamente da União para a cidade, controlado pelo PT. Solicitarei o apoio do nosso deputado federal do PT para que faça lobby em nosso favor, contra balanceando a influência da Odebrecht. A eleição para prefeito vai ocorrer no domingo (o segundo turno será dia 28)
Problema: Fomos procurados pelo nosso deputado federal do PT para participar de um almoço que faz parte da campanha eleitoral de alguém que ele apóia. Estamos falando em pouco menos de € 12 mil. Ele pediu uma resposta rápida. Eu aceitei. 
Motivos: Precisaremos do apoio dele e ele nos ajudou. Ele se mostrou razoavelmente eficiente. A quantia é bem limitada. Não se trata de corrupção, e sim de despesas oficiais legalmente aceitas. Se minha decisão for vetada, ainda poderemos dar um jeito na situação, mas será muito desagradável.
Espero que aprove, Sem mais, AG".

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