quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Vence a voz dos decentes, e TSE autoriza auditoria, mas prefere chamar o procedimento de “rosa”. Ou: GOLPISTA UMA OVA!

Milhares pedem nas ruas decência, não golpe (Foto: Gabriela Biló/Etadão)
Milhares pedem nas ruas decência, não golpe (Foto: Gabriela Biló/Estadão)
É claro que o TSE cedeu à reivindicação do PSDB e autorizou uma auditoria nas eleições. A voz das pessoas decentes, que foram às ruas, venceu. O tribunal nega que seja uma auditoria porque precisa, digamos assim, preservar a pose do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e do corregedor do tribunal, João Otávio de Noronha, que haviam emitido opiniões absurdas a respeito. O segundo falou fora dos autos. O outro misturou alhos com bugalhos e especulou até sobre preconceito regional, num parecer meio aloprado. Conhecem a piada? Se o bicho tem focinho de gato, se mia como gato, se tem patas de gato, se tem rabo de gato, é bem provável que seja um gato — é só naquele desenho animado que um gambá pode ser confundido com um bichano. Atenção! O TSE cedeu a rigorosamente todos os pedidos do PSDB, com exceção de um, e é isso que está gerando a confusão meramente semântica. O partido havia pedido que os dados da eleição fossem tornados disponíveis a uma comissão formada por partidos políticos. Não haverá essa comissão. Mas o PSDB indicará um grupo de peritos que terão acesso a todas as informações — até onde se sabe, rigorosamente todas. As dúvidas suscitadas e as múltiplas denúncias de irregularidades poderão ser confrontadas com o sistema, para saber se ele é seguro. É o que as ruas estavam pedindo. Sabem o nome disso? Auditoria! Ou seja: gato. Mas o TSE quer que se chame de outra coisa. Como já citei aqui, certa estava, neste particular ao menos, Julieta, a adolescente maluquete de Shakespeare: se a rosa tivesse outro nome, ainda assim, teria igual perfume. O TSE não quer chamar a auditoria de “auditoria”. Pois que a chame “rosa”. E, no entanto, será uma auditoria. Não se trata, é bom que fique claro, de uma recontagem de votos — até porque, no sistema eletrônico, o procedimento nem seria exatamente esse. Trata-se de averiguar se as muitas denúncias de irregularidades procedem ou não; se o sistema está ou não sujeito a intercorrências externas. Ninguém quer derrubar a presidente Dilma Rousseff por isso. Não é e nunca foi esse o intento. A menos, claro, que se chegue a uma fraude. O ponto é e sempre foi outro. É mentira que as pessoas que estão protestando nas ruas, cobrando a auditoria, integrem, como chegou a afirmar, lamentavelmente, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), “grupos insatisfeitos com o resultado das eleições presidenciais”. De saída, lembro que, nas democracias, “grupos insatisfeitos com o resultado das eleições” podem, sim, se manifestar, desde que o façam dentro dos limites legais. Mas não! Não era e não é o caso! Os cidadãos querem saber mais sobre o sistema das urnas eletrônicas — um direito legítimo — e pedem o impeachment de Dilma na hipótese, e só nesta hipótese, de que ela soubesse dos desmandos na Petrobras. Ela não sabia? Então fica. Ela sabia? Então sai. Leis existem e têm de ser cumpridas. Não é uma operação tão complexa. Também é mentira que os que pedem intervenção militar dêem a direção do protesto. Essa é uma distorção lançada no mercado de idéias pelo jornalismo “parapetista”, cuja militância é mais pernóstica porque não é clara. Afirma-se como dado de realidade o que é só uma distorção ideológica deliberada. João Otávio de Noronha, corregedor do TSE, estava errado — aliás, é o primeiro a reconhecê-lo. Afinal, votou a favor da auditoria, que pretende seja chamada de outro nome. Rodrigo Janot, procurador-geral da República estava errado. A auditoria não enfraquece a democracia nem põe sob suspeição o resultado das eleições. Na verdade, ela vai fortalecer a confiança das pessoas nas urnas eletrônicas caso não se encontrem falhas. Os que tentaram colar no povo a pecha de golpistas foram derrotados pelos fatos e pela mobilização nas ruas e nas redes sociais. É esse o caminho. Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário: