sábado, 13 de dezembro de 2014

Crise na Petrobras causa atrasos nos pagamentos a estaleiros de Niterói e provoca demissão de 600 operários


As investigações da Operação Lava-Jato da Polícia Federal e as denúncias que pairam sobre a Petrobras criaram um clima de incerteza e colocaram em xeque o futuro da indústria naval de Niterói. Segundo o secretário municipal de Indústria Naval, Milton Carlos Lopes, a estatal tem atrasado pagamentos aos estaleiros da cidade, em consequência de revisões contratuais e de documentações recusadas por exigências rígidas dos órgãos de controle, o que já provocou a demissão de cerca de 600 trabalhadores, o equivalente a 5% da força de trabalho da cidade, que conta com 12 mil metalúrgicos. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, as empresas mais afetadas pelos problemas da Petrobras e que tocam obras da estatal são os estaleiros Mauá, Eisa Petro-Um, Brasa, UTC e Enaval. "A maior parte dessas empresas não pagou a primeira parcela do 13º salário dos trabalhadores. Elas não têm dinheiro em caixa. O setor passa hoje por uma falta de liquidez grande em razão das empresas que têm contrato com a Petrobras não receberem em dia. Tem atraso até de seis meses nesses pagamentos. Em consequência disso, há também atraso nos salários dos trabalhadores. Alguns estaleiros já estão recorrendo a empréstimos de banco", comentou Milton Carlos Lopes, que encaminhou à Câmara Municipal um pedido de audiência pública para discutir a crise da indústria naval da cidade. Segundo o secretário, o estaleiro mais afetado pela crise da Petrobras é o Mauá, na Ponta D’Areia, que demitiu 35 trabalhadores na semana passada. A empresa conta com a encomenda de um total de 15 navios de transporte de petróleo da Transpetro, dos quais mais da metade estariam com as obras atrasadas — o estaleiro entregou apenas quatro embarcações e outras três estão em fase de acabamento final. A subsidiária da Petrobras tem recusado efetuar pagamentos ao estaleiro por causa de casos frequentes de falta de documentação. "A secretaria já notificou o estaleiro e pediu esclarecimentos sobre os frequentes atrasos salariais dos funcionários", disse o secretário. Fundado em 1846, pelo então Barão de Mauá, o estaleiro ainda enfrenta dívidas trabalhistas de R$ 10 milhões, segundo investigações da Procuradoria do Trabalho de Niterói. O procurador Patrick Maia Merísio ajuizou duas ações contra a empresa: "O atraso no pagamento dos salários e a falta de contribuição no FGTS afeta pelo menos mil trabalhadores do estaleiro". O secretário de Indústria Naval também demonstra preocupação de que a ação da Policia Federal possa repercutir em estaleiros da cidade como o UTC, que é alvo da inquérito, e o Brasa, controlado pelo grupo Sinergy e pela holandesa SBM Offshore, que é investigada por pagamento de propina a funcionários da Petrobras. Ambos empregam 2.450 trabalhadores. A presidente da Petrobras, Graça Foster, chegou a afirmar que a SBM está impedida de participar de licitações da Petrobras enquanto não esclarecer para quem pagou propina na estatal. Contudo, garantiu que os contratos em andamento com a SBM não serão interrompidos. Segundo Edson Rocha, presidente do Sindicato dos metalúrgicos de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, o estaleiro Brasa, que deve concluir até fevereiro a construção de dois módulos para plataformas da Petrobras, demitiu cerca de 560 trabalhadores desde julho. "Isso é reflexo da falta de trabalho, de novas encomendas da Petrobras ao estaleiro. Estamos preocupados porque o Brasa ainda tem 1600 trabalhadores", comentou o presidente do sindicato, que admitiu temer que o estaleiro fique impedido de entrar em novas licitações da estatal por ter a SBM como sócia e que ocorram mais demissões. Rocha disse ainda que o mesmo risco paira sobre a unidade da UTC de Niterói, que conta com 850 funcionários. O sócio-proprietário da empresa, Ricardo Pessoa, foi preso na Lava-Jato, sob a acusação de coordenar um “clube” de empreiteiras que teria participação num cartel de fornecedores da Petrobras. "A UTC está finalizando a obra de dois módulos de plataformas de petróleo até fevereiro. Depois disso, há uma grande incerteza sobre a possibilidade de o estaleiro conseguir novas encomendas da Petrobras e manter os trabalhadores", disse Rocha. (O Globo)

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