sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Procuradoria Geral da República aponta propina de US$ 53 milhões da Samsung para operador político do PMDB

Relatório de análise bancária da Procuradoria Geral da República concluiu que um dos delatores da operação Lava-Jato, Julio Gerin Camargo, executivo ligado à Setal, negociou propina de US$ 53 milhões diretamente com o vice-presidente mundial da Samsung, Harry Lee, em arrendamentos de navios pela Petrobras "que superaram US$ 1,2 bilhão". Segundo a perícia, a negociata teria ocorrido a mando do empresário acusado de operar financeiramente para o PMDB, Fernando Soares, o "Baiano", que está preso preventivamente e responde a processo criminal por corrupção e lavagem de dinheiro. Baiano responde à ação penal juntamente com o ex-diretor da área internacional da petrolífera, Nestor Cerveró, também réu na Lava-Jato. "Para viabilizar a negociação do segundo afretamento, Julio Camargo teria negociado com Harry Lee, vice-presidente da Samsung, a complementação de valores para alcançar montante de US$ 53 milhões, necessários para suportar os valores supostamente exigidos por Fernando Soares", diz a perícia. 
O laudo contemplou dados bancários e fiscais obtidos na operação Lava-Jato, dois contratos de arrendamento apresentados pela Petrobras e os termos da delação premiada de Julio Camargo. A estatal forneceu documentos sobre sondas de perfuração da Samsung, dos navios-sonda 10000 e Vitoria 10000. "Os depoimentos (de Julio Camargo) indicam que Fernando Soares teria solicitado recursos financeiros a fim de que fosse efetivada a contratação de afretamento de sondas da Samsung", afirma a análise pericial. O primeiro contrato é de US$ 586 milhões, refere-se ao navio-sonda 10000 e foi estabelecido pela Petrobras International Braspetro PV com a Japan Drillship Investment Co. e a Samsung Heavy Industries Co. Ltd. Foi assinado em julho de 2006 por Claudio Castejon em nome da Petrobras; Yasuyuki Fujitani, pela Japan Drilling; e J.W. Kin, pela Samsung. O segundo contrato, de US$ 616 milhões, foi celebrado em março de 2007 e assinado por Castejon e J.W Kin. "Julio Camargo atuaria como 'broker' (corretor) em relação à Samsung, e para recebimento das comissões celebraria contrato em nome de sua empresa Piemonte Empreendimentos". Segundo os investigadores, a Piemonte é uma das empresas controladas por Camargo, utilizada para repasses de recursos desviados da Petrobras às fachadas controladas pelo doleiro Alberto Youssef, pivô da Lava-Jato. Para o Ministério Público Federal, as "afirmações de Julio Camargo podem ser corroboradas nos contratos, apesar de alguns valores imprecisos". Os contratos apreendidos indicam que os pagamentos feitos pela Samsung passaram pelo The Bank of New York, para crédito na conta The Winterbotham Trust Company Limited, de Piemonte Investment Corp. O Ministério Publico Federal concluiu que as operações podem ser confirmadas, "em sua maior parte, na análise dos dados bancários de Alberto Youssef que evidenciam o repasse da Piemonte para a GFD, de R$ 8.530.918,00, da Auguri para a GFD de R$ 1.150.000,00, e da Treviso para a GFD, R$ 1.850.000,00 líquidos. O total movimentado foi de R$ 17.130.918,57". A GFD é uma das principais empresas de fachada de Youssef, segundo a investigação. Auguri é outra empresa controlada por Julio Camargo. Os investigadores descobriram que o pagamento da propina teve de ser viabilizado pelo esquema de Youssef, que providenciou contratos simulados com empresas que prestavam serviços fictícios, a fim de receber parte dos recursos. O doleiro teria sido acionado como alternativa, para atender à necessidade de repassar recursos no exterior para Fernando Soares, segundo o relatório da perícia. Na acusação feita à Justiça, o Ministério Público Federal afirma que o beneficiário final da propina obtida nas negociações dos contratos, US$ 40 milhões, foi o ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, que também é réu por crimes contra o sistema financeiro nacional, corrupção e lavagem de dinheiro. Foram US$ 15 milhões na primeira negociação e US$ 25 milhões na seguinte, disse Julio Camargo em sua colaboração. A investigação aponta, até agora, que o restante pode não ter sido pago. Para comprovar que Julio Camargo efetuou pagamentos de R$ 700 mil e de R$ 2,6 milhões às empresas indicadas por Fernando Baiano no Brasil, o Ministério Público Federal ainda aguarda a chegada de extratos de contas na cooperação-técnica estabelecida com autoridades suíças. Camargo contou que os pagamentos foram feitos a Technis Engenharia e Consultoria S/C Ltda. e Hawk Eyes Administração de Bens Ltda., que pertencem a Fernando Baiano, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. De acordo com o laudo, "entre Fernando Soares e Julio Camargo foi possível identificar até o presente momento uma operação financeira, de suas empresas, respectivamente Technis e Treviso, na qual esta repassa R$ 656.950,00". Sobre as operações externas, os peritos em contabilidade do Ministério Público Federal analisaram contratos de câmbio e identificaram "remessas de recursos ao Exterior de Julio Camargo, no valor de US$ 1 milhão para sua conta no banco Cramer, que seriam o lastro de supostos pagamentos para contas offshore de Fernando Soares". Os procuradores da força-tarefa esperam identificar parlamentares beneficiários de propinas no Exterior. Os analistas também identificaram "mais de US$ 3 milhões em transferências para contas no Merril Lynch, que, segundo Julio Camargo, viabilizariam empréstimos em favor da offshore Devonshire, de Alberto Youssef". (Valor Econômico)

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