quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

PT implantou roubalheira de R$ 20 bilhões na Petrobras, segundo as investigações


O esquema de corrupção na Petrobras pode ter atingido pelo menos R$ 20 bilhões, informaram fontes de diferentes procedências envolvidas na operação Lava-Jato, que investiga desvios de recursos na estatal. Sabe-se que ao menos R$ 11,5 bilhões foram identificados como "movimentação financeira atípica" pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda. "Certamente esse valor é maior. Pelo menos o dobro, na casa de uns R$ 20 bilhões", disse uma fonte diretamente ligada à investigação. Os investigadores ainda não dispõem de dados para calcular o total desviado da estatal, porque precisam analisar extratos coletados na Suíça e aguardam a chegada de documentação sobre os titulares de contas no Exterior. Os procuradores seguem a trilha de saques e depósitos ocorridos em vários países. O tamanho do rombo ficou reconhecidamente maior a partir do momento em que o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, falou em seu termo de delação premiada sobre os contratos de aquisição de navios-plataforma e a construção de estaleiros. "Braço direito" do petista Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, Barusco também forneceu informações sobre negócios na Transpetro, subsidiária da estatal petrolífera. A Lava-Jato já trabalha com a perspectiva de que os desvios em contratos supostamente superfaturados em refinarias e na área de navios ultrapassem R$ 20 bilhões. A diferença entre o que foi divulgado e as estimativas das investigações tem pelo menos três motivos. O primeiro é que nem toda a "movimentação atípica" nas transações bancárias foi comunicada ao Coaf pelos gerentes dos bancos; o esquema contava com participação de funcionários cooptados por Youssef, que omitiam as informações em troca do pagamento de comissões, segundo apurou a Polícia Federal. "Com certeza o valor não comunicado (pelo Coaf) é muito grande também. Contratos para aquisição de navios-plataforma, por exemplo, dão outro horizonte financeiro ao esquema. Plataformas e navios envolvem cifras bilionárias", diz uma fonte a par do assunto. Outra razão é que uma parte significativa dos pagamentos de propina era feita no Exterior. Na diretoria de Abastecimento, comandada por Paulo Roberto Costa, a proporção era de 70% no Brasil e 30% em outros países, segundo relatou o ex-executivo da Petrobras. O terceiro - e talvez mais importante - motivo para a disparidade de valores é o grande volume de dinheiro em espécie, impossível de ser rastreado, que circulava nas mãos dos envolvidos no esquema. O doleiro Alberto Youssef, um dos delatores da suposta corrupção com dinheiro público, movimentava de R$ 20 milhões a R$ 50 milhões por mês em espécie em seu esquema com o PP na Petrobras. O valor considera movimentações feitas em dólares, euros e reais. A amplitude se justifica pelo fato de que a propina nem sempre era fixa e variava de acordo com o tamanho dos contratos. Vários funcionários de Youssef transportavam dinheiro no corpo, segundo a Polícia Federal, entre os quais Adarico Negromonte Filho (irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, do PP), Jayme Alves de Oliveira Filho, o "Careca" (agente da Polícia Federal responsável por fiscalizar passageiros e bagagens no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro), Rafael Ângulo (espanhol, com passaporte europeu) e João Procópio de Almeida Prado. A investigação revelou que eles faziam viagens domésticas em vôos comerciais com as notas presas ao corpo e conseguiam levar até R$ 500 mil ou alguns milhões em cédulas de 500 (euros). O transportador enrolava as notas em papel filme, utilizado normalmente para embalar alimentos. Elas então eram afixadas às pernas e coxas do "courier", deixando os joelhos livres para movimentação. O dinheiro também era escondido em coletes ortopédicos, usados no tronco das "mulas" de dinheiro. De tal modo, era possível carregar até R$ 500 mil por pessoa. A "vestimenta" da dinheirama no corpo mescla plástico, papel e tecido; ou seja, materiais que não acionam o detector de metais. Os aeroportos brasileiros utilizam raio-x em esteiras para bagagem, não para pessoas. O valor total transportado pelos portadores de Youssef não está, obviamente, incluído na contabilização realizada pelo Coaf. Em trajetos curtos, o dinheiro viajava em caixas de arquivo de escritório (até R$ 200 mil) e sacos de lixo - que não despertavam suspeitas, segundo uma fonte. Existem dezenas de portadores, "couriers" de Youssef e de políticos, além de executivos que iam com frequência ao escritório do doleiro no bairro do Itaim, zona sul da capital paulista, para fazer retiradas em espécie. Quando os pagamentos a políticos e executivos de empreiteiras eram acima de R$ 6 milhões, Youssef alugava jatos. As operações no Exterior, que também não foram captadas pelo Coaf, eram compensadas via "dólar-cabo" - troca de posições entre doleiros. Youssef trabalhava bastante com "as contas da 25 de Março", de comerciantes do centro de São Paulo que forneciam sua contas correntes para o doleiro receber pagamentos. Em troca, recebiam percentuais sobre os depósitos bancários. Para enviar o dinheiro ao Exterior, Youssef contava com um sistema que incluía offshores, contratação de serviços de consultoria, empresas de fachada e fraudes em importação, que eram apenas simuladas, para justificar a remessa de valores ao Exterior. O doleiro contava ainda com "brechas" identificadas no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), que reduziram a fiscalização sobre contratos de câmbio. Youssef não operava contas em seu nome. No Exterior a função era desempenhada por Leonardo Meirelles, um dos sócios do Labogen, laboratório que era uma das fachadas usadas pelo doleiro. Entre os expedientes utilizados por Youssef para a lavagem de dinheiro e evasão de divisas, um é destacado pelos investigadores como sua principal inovação criminosa: o fato de usar empresas fictícias, que só existiam no papel, para simular importações e mandar dinheiro supostamente desviado da Petrobras ao Exterior em operações aparentemente lícitas. O mecanismo, que segundo a Polícia Federal contou com dezenas de operadoras de câmbio e bancos brasileiros, garantiu a evasão de valores para o Exterior - principalmente para bancos em Hong Kong, na China, que não é signatária de acordo de cooperação jurídica com o Brasil para fins de colaboração judicial em casos de evasão de divisas. As investigações da Lava-Jato apontam que uma das empreiteiras investigadas na operação fazia pagamentos apenas no Exterior, e outra, apenas em dinheiro em espécie no Brasil. Na conta do esquema de corrupção também entram as retiradas ocorridas no Posto da Torre, em Brasília, que pertencia ao doleiro Carlos Habib Chater e gerenciava 375 contas bancárias, segundo laudo da Polícia Federal. A perícia constatou que R$ 11 milhões passaram pelas contas entre 2007 e 2014. Sócio de Chater, o também réu Ediel Viana da Silva disse em juízo que o ex-deputado do PP, Pedro Corrêa, buscou dinheiro enviado por Youssef nas ocasiões em que esteve no posto de gasolina.

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