sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Suíça vai transferir processo do cartel de trens para o Brasil

A Suíça vai transferir para o Brasil todos os processos criminais existentes contra os suspeitos no caso do cartel dos trens de São Paulo. Isso significa que a Justiça brasileira receberá de forma integral os detalhes das contas dos envolvidos que atualmente estão bloqueadas. A informação foi dada a uma delegação de procuradores e promotores brasileiros que, nesta semana, estiveram em Berna para trocar informações sobre o caso envolvendo as empresas Alstom e Siemens e funcionários públicos nacionais. Na segunda-feira, a Polícia Federal indiciou 33 pessoas suspeitas de envolvimento no cartel do setor metroferroviário que operou em São Paulo entre 1998 e 2008, nos governos de Márcio Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB. Entre os indiciados está o atual presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Mário Bandeira. As informações permitirão que o Ministério Público no Brasil e promotores paulistas possam aprofundar as investigações contra João Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM, o lobista Arthur Teixeira e o também ex-diretor da CPTM, Ademir Venâncio de Araújo, que detém cinco contas na Suíça com um montante bloqueado de 1,2 milhão de dólares. Os três são considerados peças fundamentais para entender de que forma as multinacionais Alstom e Siemens operavam para garantir contratos. Outro foco do processo é o ex-juiz do Tribunal de Contas, Robson Marinho. Na Suíça, eles estavam sendo investigados por lavagem de dinheiro e todas suas contas haviam sido bloqueadas. Com a transferência, todos os extratos bancários e todas as informações seriam também entregues. "Esse é o cenário de pesadelo para os suspeitos", disse Silvio Marques, promotor paulista que fez parte da delegação. Para que seja concretizada, a transferência do processo ainda precisa passar pelo Ministério da Justiça na Suíça. O Brasil não seria contrário em aceitar o processo. No caso das contas do ex-prefeito Paulo Maluf no Exterior, o Supremo chegou a pedir a Luxemburgo, França e Jersey que os processos fossem transferidos ao Brasil. A meta tanto dos suíços quanto dos brasileiros é identificar o percurso do dinheiro encontrado em contas em Zurique e que poderiam ser propina paga por empresas como a Alstom e a Siemens para garantir contratos públicos no Brasil. Há meses os brasileiros vinham pedindo para que as informações sobre as contas desses suspeitos e, até agora, Berna tinha evitado abrir seus arquivos. Nesta sexta-feira, porém, fontes do Ministério Público suíço confirmaram que o acesso aos detalhes das contas já bloqueadas foi garantido aos brasileiros. Os documentos seguem nas próximas semanas por meio dos canais oficiais. Mas as informações passadas aos brasileiros durante as reuniões apontaram para novas evidências e novas provas de como as propinas eram pagas pelas multinacionais. A delegação brasileira, composta pelo procurador da República, Rodrigo de Grandis, e pelo promotor de Justiça, Silvio Marques, admitiu que ficou "surpresa" com a indicação dos suíços. Quando retornar ao Brasil, na semana que vem, De Grandis vai avaliar o informe preparado pela Polícia Federal e decidir como incorporar as informações dos suíços. "Vamos avaliar qual é a melhor estratégia", disse. Para ele, os extratos bancários e documentos dos suíços "certamente" vão além da apuração realizada até agora no Brasil desde o início do caso. Em um esforço de demonstrar que existe uma cooperação, um dia antes da reunião de Berna, a Polícia Federal fez busca na residência e no escritório de Zaniboni - uma operação executada justamente a pedido do Ministério Público da Suíça ainda em 2011 e jamais realizada. Berna abriu investigação sobre a origem os mais de 826.000 dólares que Zaniboni manteve depositado em Zurique. O ex-diretor garante que o dinheiro foi resultado de uma consultoria que prestou. Os suíços haviam concluído o caso que existia contra a Alstom, após a multinacional ter pago uma multa milionária e encerrado o processo em Berna. Agora, no entanto, as suspeitas são contra brasileiros que teriam usado o sistema bancário suíço para lavar dinheiro fruto dessa corrupção. O que chama a atenção dos suíços é que parte do dinheiro foi depositado por Arthur Teixeira, apontado pela Polícia Federal como o pagador de propinas do cartel de trens. Dados bancários de posse dos suíços revelam de fato o nome de Teixeira e é justamente essa informação que o Brasil também quer levar de volta ao país quando deixar Berna na sexta-feira.

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