quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Cerveró comprou nove imóveis em nove anos, diz a Polícia Federal

Entre 2003 e 2012, o ex-diretor da Petrobras. Nestor Cerveró, adquiriu nove imóveis – cinco à vista e quatro a prazo – no Rio de Janeiro e em Petrópolis (RJ), e vendeu quatro. As propriedades adquiridas na capital fluminense ficam nos bairros Ipanema e Copacabana. Nesse período, Cerveró foi diretor da área internacional da estatal, de 2003 a 2008, e diretor financeiro da BR Distribuidora, de 2008 e março de 2014, além de conselheiro da Liquigás Distribuidora, uma empresa subsidiária da petroleira. Nas escrituras de compra e venda, os imóveis adquiridos por Cerveró custaram ao todo R$ 1,82 milhão. No entanto, a Polícia Federal aponta que o valor é muito inferior ao valor correto praticado no mercado. Um dos imóveis, que valeria apenas R$ 200 mil no papel, sairia por aproximadamente R$ 2,3 milhões, de acordo com uma "avaliação judicial feita sobre o apartamento 201 do mesmo edifício em 3 de junho de 2013". A informação consta em despacho do juiz federal de Curitiba (PR) Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato.


As aquisições dos imóveis foram informadas pela Polícia Federal no inquérito da Operação Lava Jato que levou à prisão de Cerveró na madrugada desta quarta-feira (14) no aeroporto internacional do Rio. Em uma das aquisições feitas à vista, Cerveró fez um depósito em espécie de R$ 192,1 mil na conta do vendedor do apartamento. Segundo relatório do Coaf (unidade de inteligência financeira do governo federal, vinculado ao Ministério da Fazenda), essa aquisição se enquadrou como uma operação sob suspeita, prevista em circular do Banco Central, que deve obrigatoriamente ser comunicada pelas instituições financeiras ao Coaf. No dia 10 de junho de 2014, após a deflagração da primeira fase da Operação Lava Jato, ocorrida em março, Cerveró repassou quatro de seus apartamentos para dois filhos. No despacho que determinou a prisão do ex-diretor, o juiz Moro afirmou: "Nestor Cerveró (...) vem tentando blindar seu patrimônio capaz de ser, a curto prazo, rastreado no País, transferindo-o a pessoas de sua confiança". O advogado de Cerveró, Edson Moraes, disse que ainda não tomou conhecimento de todas as peças do inquérito, não tinha informação sobre as compras e que seu cliente "nunca foi indagado sobre nada disso". "O Nestor se colocou à disposição da Polícia Federal ainda em abril de 2014 e nunca foi chamado para prestar qualquer esclarecimento", disse Moraes. O advogado negou que, ao repassar os imóveis aos filhos, Cerveró tenha procurado se esquivar da Justiça. "É uma doação que ele fez aos seus filhos. O valor é baixo no papel porque foi o valor da época da aquisição, é o valor do registro, isso é comum nos cartórios", disse o advogado. O relatório do Coaf entregue à Justiça Federal pela Polícia Federal também trata como suspeita uma operação realizada em 2009 pela Bancoop, a cooperativa habitacional dos bancários de São Paulo, então dirigida pelo tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto. Em novembro de 2009, o sindicato dos bancários repassou R$ 18 milhões para a Bancoop que, na sequência, depositou o valor na conta da empresa Planner Corretora de Valores. O banco Bradesco informou a operação ao Coaf porque considerou o episódio como "contas que não demonstram ser resultado de atividades ou negócios normais, visto que utilizadas para recebimento ou pagamento de quantias significativas sem indicação clara de finalidade ou relação com o titular da conta ou seu negócio". A operação de 2009 consistiu no pagamento para um grupo de fundos de pensão e outros acionistas que haviam comparecido, anos antes, para ajudar os cofres da Bancoop a partir da aquisição de cotas de um fundo de investimentos lançado pela cooperativa.

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