sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Marqueteiro de Dilma desabafa contra rivais

"Estamos vivendo um momento raro na nossa política, que é o dos derrotados fanfarrões. Tenho escutado muita coisa calado, mas acho que é uma hora boa de desabafar". É com essa introdução que o marqueteiro João Santana, responsável pela propaganda de Dilma Rousseff à reeleição, começa a expor suas impressões sobre aquela que ficou marcada como a mais acirrada disputa pela Presidência desde a redemocratização. Em formato de entrevista, a inédita avaliação aparece no livro "João Santana - um marqueteiro no poder", perfil biográfico escrito pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho.

O marqueteiro João Santana e Dilma durante debate em 2010

Desabafo é mesmo o tom da conversa. "É mentira que nossa campanha tenha feito uso profissional da baixaria", diz ele, sobre a acusação do marqueteiro de Aécio Neves (PSDB), Paulo Vasconcelos, feita à Folha em novembro. "Mas é verdade que a dele fez uso amador da mediocridade", completa, após pedir "humildade e autocrítica" do concorrente, "um marqueteiro de segunda divisão [...] que está caindo para a terceira". Comandante em chefe da publicidade do estado-maior petista desde a reeleição de Lula, em 2006, Santana parece bastante incomodado com a acusação de ter feito uma campanha baixa e agressiva. "É a acusação mais falsa, mais hipócrita, mais frágil e sem sustentação da história eleitoral brasileira", protesta. "Fala-se muito que fizemos jogo sujo com Marina Silva, 'uma mulher santa'. Ora, nosso embate com Marina foi 100% político e 200% programático. Você não encontra uma agressão pessoal ou moral. Marina não revidou ou por ingenuidade, ou por fragilidade teórica, ou por soberba". O polêmico filme que associava independência do Banco Central (proposta de Marina) ao desaparecimento da comida na mesa de uma família pobre foi defendido com ênfase pelo marqueteiro. "Se dizíamos que uma política ortodoxa poderia causar retração no emprego e na renda, por que Marina não disse o contrário? Se acreditava tanto em sua proposta, por que não disse que a independência levaria a classe operária ao paraíso? O filme funcionou porque era verossímil", diz. Santana passa então ao papel de acusador: "Foi Marina, aliás, quem começou a bater. A dizer, por exemplo, que a presidenta Dilma era incompetente, que comandava um governo de corruptos, que era legítima representante da velha e carcomida política [...] Isso é campanha positiva?" A lista de reclamações contra o PSDB é grande. Uma delas: "Aécio foi verdadeiro quando acusou, injustamente, o irmão da presidenta de nepotismo?" Outra: "Eles têm coragem de dizer quem espalhou, na véspera da eleição, que [o doleiro Alberto] Youssef tinha sido envenenado?" O marqueteiro diz ter sido bem sucedido ao conseguir recuperar "o déficit comunicacional do governo", mostrando atributos que, segundo ele, o eleitorado desconhecia. Em outro trecho, aponta o que julga ser o erro dos rivais: "Vários políticos e analistas vinham acreditando na própria mentira que eles criaram, a de que o governo Dilma era um grande fracasso", afirma, antes de começar a falar de emprego, Bolsa Família, ascensão social, Mais Médicos. O livro de Maklouf é bem mais que uma sessão de desabafo. Não tem a pretensão de ser uma biografa, conforme o próprio autor. Mas, baseado em muitas entrevistas, o perfil conta, de forma direta, resumida e divertida, vários episódios da vida de Santana.

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