terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Marta, o PT, Juca, machismo vigarista, Haddad, Kassab, Chalita, a “pedagorreia” do amor e a miséria política da cidade de São Paulo

Mas o que quer a senadora petista Marta Suplicy (SP)? Sabe Deus! Freud tentou uma pergunta mais simples: “O que querem as mulheres?” Estou entre aqueles que consideram que ele foi malsucedido no esforço de dar uma resposta. Sim, que ela queira ser candidata à Prefeitura, parece fora de dúvida. Que não o será pelo PT, isso também é certo. Eis aí um ponto de atrito. Que eventualmente possa trocar o descontentamento por uma candidatura ao governo do Estado pelo partido em 2018, quando termina seu mandato no Senado, essa me parece uma possibilidade. Ocorre que o caminho está congestionado. Há muita gente querendo a mesma vaga. Também é verdade que suas bases no partido foram minadas. Seus homens fortes debandaram. Ela tinha bastante força na periferia da cidade. Hoje, desconfio, isso também se perdeu.

Na entrevista concedida ao Estadão, soltou os cachorros contra o PT — “ou muda ou acaba”, segundo ela — e contra Juca Ferreira, que assumiu o Ministério da Cultura. No PT, consta, ninguém pensa num ato de força contra ela, como a expulsão, mas a queimação de sua reputação, em termos politicamente sórdidos, já começou. Marta, é verdade, fez duras críticas a Ferreira e apontou irregularidades em sua gestão. É crítica política, goste-se ou não dela. E como respondeu o petista?

Disse ter levado “uma bolsada na cabeça da Louis Vuitton”, numa referência à marca francesa que distingue, vamos dizer, as ricas e famosas. Marta passou a ser tratada por seu colega de partido como uma dondoca deslumbrada, uma riquinha meio inconsequente, que não aceita ser contrariada. Não faltaram à resposta do novo ministro da Cultura traços explícitos de machismo: “A madame que se cuide, que, uma hora dessas, eu vou responder plenamente a ela. Eu tinha admiração por ela, e tenho. Via ela defendendo o direito ao orgasmo da mulher na televisão. Depois foi uma boa prefeita de São Paulo. Agora, ela não foi uma boa ministra, pra falar a verdade. [...] Ela pegou algumas coisas que a gente fez e deu prosseguimento”.

O que o orgasmo na televisão tem a ver com isso? O propósito de tentar caracterizar Marta como uma doida, que se dedica a irrelevâncias fesceninas e malandrinhas, como o orgasmo feminino, fica evidente. E esse, sem dúvida, é um sintoma importante de decadência do PT. Afinal de contas, simboliza também a perda de um discurso. E tanto pior quando se trata do governo de uma mulher: Dilma Rousseff. Na resposta de Ferreira, não faltou nem a tolice mais infantilóide. Afirmou: “É que fui mais aplaudido que ela num evento cultural. Paciência, não posso ser punido pela popularidade que vocês viram aí”. Santo Deus!

Marta chegou a conversar sobre a possibilidade de se candidatar à Prefeitura pelo PMDB. As portas se fecharam. Fernando Haddad levou Gabriel Chalita para a Secretaria da Educação — agora, a “pedagorréia do amor” dará as cartas na Prefeitura. Haddad e Chalita juntos podem levar a uma intoxicação por excesso de coxinha.

Em que vai dar? Não dá para saber. A turma de Gilberto Kassab, agora ministro das Cidades, contra quem Haddad ganhou a eleição em 2012, também se prepara para desembarcar na Prefeitura. Nunca tive simpatia por Marta, e todo mundo sabe disso. De todo modo, bem ou mal, ela vem de um tempo em que os partidos ainda tinham alguma identidade. No momento, a cidade de São Paulo está sendo administrada pelo PPSC, Partido do Poder sem Caráter. E é o desastre que todos conhecemos.

Faltavam à receita apenas algumas pitadas de discurso incompreensível, mas dito com aquela mansidão de que só a falsa profundidade é capaz. Agora não falta mais nada. Chalita chegou!

E ele ameaça escrever mais 357 livros sobre a sua experiência — amorosa e fofa, é claro! — à frente da Secretaria Municipal de Educação. Tomara que Deus tenha piedade dos paulistanos. Os políticos, como a gente vê, não têm nenhuma. Por Reinaldo Azevedo

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