sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Ministério Público denuncia militares por crimes na Guerrilha do Araguaia

O Ministério Público Federal no Pará denunciou à Justiça nesta quinta-feira (29) dois militares da reserva sob acusação de homicídio qualificado e ocultação de cadáver durante a Guerrilha do Araguaia. Lício Ribeiro Maciel, de 84 anos, conhecido como Major Asdrúbal, foi denunciado sob acusação de três homicídios e ocultação de cadáver. Já Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o Major Curió, de 76 anos, é acusado de ocultação de cadáver. A Guerrilha do Araguaia é um dos episódios mais emblemáticos do combate à ditadura militar no Brasil. Entre 1968 e 1975, guerrilheiros se estabeleceram às margens do rio Araguaia, entre os Estados do Pará, Maranhão e Tocantins. Membros do PCdoB, eles pretendiam conquistar o apoio de camponeses da região para fomentar uma revolução comunista no Brasil aos moldes de Cuba. Os militares, porém, descobriram o plano e prepararam emboscadas e operações para eliminar a guerrilha, matando dezenas de terroristas. Na denúncia apresentada nesta quinta-feira, as vítimas são os terroristas André Grabois, João Gualberto Calatrone e Antônio Alfredo de Lima, mortos numa emboscada em 13 de outubro de 1973. Segundo o Ministério Público Federal, as mortes ocorreram por motivo torpe – nesse caso, "a busca pela preservação do poder usurpado no golpe de 1964". O uso de violência e do aparato estatal, com abuso de autoridade, são outras qualificadoras dos crimes. "Tais condutas, muito além de medidas destinadas a restabelecer a paz nacional, consistiram em atos autoritários e criminosos perpetrados por um grupo que visava eliminar, valendo-se do aparato repressivo do Estado, todos os dissidentes políticos instalados na região", afirma a denúncia. Os procuradores ainda pedem o cancelamento das aposentadorias dos militares, que hoje vivem em Brasília e no Rio de Janeiro, além do pagamento de danos às famílias das vítimas. A Justiça ainda não acatou a denúncia. Só depois da decisão do juiz é que os denunciados viram réus e respondem pelas acusações. Informações colhidas durante cinco anos de trabalho de uma força-tarefa do Ministério Público Federal, além de depoimentos dados por vítimas e militares à Comissão Nacional da Verdade e à imprensa, fundamentam a denúncia. 

Nenhum comentário: