quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

PSD e PR costuram criação de novos partidos para atrair descontentes da base e oposição

Após conquistarem os ministérios dos Transportes e das Cidades, duas das pastas com maior orçamento e capilaridade política do governo Dilma Rousseff, o PSD e o PR decidiram intensificar as ações para criação de dois novos partidos com o objetivo de atrair parlamentares da base e da oposição descontentes com suas legendas. As articulações das duas legendas têm irritado o PMDB, principal aliado de Dilma no Congresso e que se sente, mesmo tendo ampliado de cinco para seis ministérios, desprestigiado com a reforma. A cúpula do PMDB enxerga nos movimentos uma tentativa de enfraquecê-lo politicamente. Uma das principais ofertas para atrai-los é a promessa de liberação de emendas para suas bases eleitorais. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, que assumiu nessa segunda-feira, 5, o Ministério das Cidades, deve contar com um orçamento de R$ 27,88 bilhões. A pasta é responsável por um dos principais programas federais, o "Minha Casa, Minha Vida". Já o novo ministro dos Transportes, Antonio Carlos Rodrigues (PR), deverá ter em sua pasta R$ 19,28 bilhões. A intenção é fundir o PSD de Kassab com o Partido Liberal (PL), ainda em processo de criação, e elevar a bancada da Câmara de 37 para até 70 deputados federais. Com o aval do ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP) - condenado no processo do Mensalão do PT e que cumpre pena em casa - o PR patrocina a criação da legenda Muda Brasil (MB). Ela deverá se tornar um satélite do PR e ajudar a formar um bloco partidário na Câmara com mais de 50 deputados. A princípio, a intenção da cúpula do PR não é se fundir à nova legenda, mas esta iniciativa não está descartada. "Com um partido novo existirão parlamentares que se dirigirão pra pedir filiação", afirmou José Renato da Silva, ex-presidente da Câmara municipal de Suzano, no interior de São Paulo, e presidente da executiva provisória do Muda Brasil. "Temos essa expectativa, porque o MB também pode nascer grande", concluiu. Oficialmente, ele disse que "infelizmente" Costa Neto não atua na formação do novo partido, mas quatro integrantes da cúpula do PR informaram que as articulações têm sido acompanhadas ou respaldadas por ele. O movimento de atração de parlamentares se ampara na legislação eleitoral. Ela permite que deputados e senadores mudem para outros partidos que tiverem sido criados, incorporados ou fundidos com outras siglas sem o risco de terem os mandatos cassados por infidelidade partidária. Outro fator de atração dos congressistas para essas legendas é que, nos casos de fusão ou incorporação, esses parlamentares "carregam" consigo o recursos do fundo partidário e o acesso gratuito ao tempo de rádio e televisão. Esse tipo de transferência não ocorre quando da fundação de um partido - como é o caso da ex-candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, que tenta viabilizar o nascimento da Rede Sustentabilidade. Dirigentes do PSD e do PR envolvidos nas negociações relataram que a estratégia é tentar concluir as duas operações antes de outubro. Um dos interesses é tentar atrair deputados federais que queiram mudar de partido para disputar as eleições municipais de 2016. Pela Lei Eleitoral, para ter direito a concorrer, um candidato tem de estar filiado a um partido político pelo menos um ano antes da realização do pleito. Embora com objetivos parecidos, as estratégias - e apoiadores - dos dois partidos são distintas. O PSD conta com o aval velado do Palácio do Planalto a fim de garantir, pelo menos na Câmara, um bloco de apoio ao governo em contraponto ao PMDB, que busca viabilizar o líder do partido e desafeto do Executivo, Eduardo Cunha (RJ), como presidente da Casa. Com o futuro PL, o governo pretende diminuir a força do PMDB - maior partido do Senado e segundo, na Câmara. No caso do PR, a atuação de aliados de Valdemar Costa Neto na coleta de assinaturas para a criação do partido-satélite foram aceleradas após o segundo turno das eleições e sem respaldo do governo Dilma. "Nossa atuação é totalmente independente", afirmou um deputado do partido envolvido nas negociações. Nos bastidores, deputados e senadores do PMDB, "enfurecidos" com a conclusão da reforma ministerial, acusam a articulação política do Palácio do Planalto de estar incentivando o surgimento das duas novas forças políticas para diluir a influência dos peemedebistas. Mas se mostram céticos quanto o alcance das articulações do PSD e do PR, mesmo sabendo que deputados do partido já estão sendo alvo de assédio para migrarem para as novas legendas. Um cacique peemedebista afirmou que o partido detém o controle sobre as principais comissões da Câmara e do Senado e, mesmo com essas novas legendas, ainda terá poder de influir em votações no Congresso. Para o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), se a intenção do governo é enfraquecer o PMDB ao eventualmente estimular tais articulações, o tiro "pode sair pela culatra". "Para enfraquecer o PMDB, o tiro tem que ser para matar", disse.

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