quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A MORTE DO JORNALISTA MARCOS FAERMAN, 15 ANOS ATRÁS - UM ABRAÇO, MARCÃO

Na data de hoje, 12 de fevereiro de 2015, completa-se o 16º aniversário da morte do jornalista Marcos Faerman, meu cunhado, meu irmão, a pessoa que me colocou também no jornalismo. Marcos Faerman foi um jornalista antológico, produziu reportagens inigualáveis, a grande maioria publicadas no antigo e hoje extinto Jornal da Tarde. Eram reportagens sobre fatos reais, personagens reais, mas que imitavam a arte, como se fossem pequenos romances, pequenas novelas. Marcos Faerman, o Marcão, tinha paixão absoluta por aventuras, Mark Twain e outros autores geniais do gênero. Eu costumava revisar suas matérias, porque Marcão escrevia de uma vez só, com dois dedos martelando os teclados das máquinas de datilografia portáteis. Os textos saíam cheios de "x" sobre trechos que não tinham lhe agradado, e que eram anulados. Ele não prestava atenção para grafia, saía tudo como era preciso sair no momento. Mas, corrigia tudo depois, com muita atenção, e com muito risco. Cada texto era um primor maior do que anterior. Nunca me esqueço do impacto de uma matéria que escreveu: "Relato da destruição de uma família". Era o "Caso Bensadon". Marcão gostava de escrever assim, sobre pessoas anônimas, que se agigantavam em suas histórias. Lembro do dia de sua morte. Era uma sexta-feira de início de carnaval. Ele morreu ao final da tarde, por volta das 17h30, em seu apartamento, em São Paulo. Nessa hora, em Porto Alegre, eu estava chegando em casa para pegar minhas filhas e minha netinha, para irmos para a praia. Parecia que o Brasil inteiro estava indo para as praias naquele dia. Demoramos a chegar em Capão da Canoa, no litoral gaúcho. Chuviscava. No trecho final da estrada, eu ouvia Whitney Houston e cantarolava com ela, sob protestos das minhas filhas, pelo meu desafinamento. Cheguei e fui até a casa de meu pai para buscar a chave da minha casa. Meu pai veio ao meu encontro, debaixo da chuva fina, e me disse: "Tenho uma notícia ruim para ti". Instantaneamente, percebi que era com o Marcão. E era. Deixei minhas filhas em casa, voltei a Porto Alegre, peguei meu cunhado, e seguimos de carro para São Paulo, único meio para conseguir viajar. Foi a mais longa viagem da minha vida. Marcão foi velado no crematório de Vila Alpina, em São Paulo. Ele, apesar de judeu, não queria seguir o ritual de ser enterrado, tinha deixado isso expresso. Não foi impedimento para seu amigo rabino Henry Sobel comparecer ao local e fazer as rezas judáicas. Nunca mais tivemos um jornalista como o Marcão no Brasil. Foi o mais inveterado rato de livraria, que me indicava tantas leituras imprescindíveis. Mas, como tanta figura que se torna imortal, Marcão aí está até hoje, com as palavras que deixou escritas. Um abraço, Marcão.

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