quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A nova diretoria da Petrobras vai fazer a revolução ou referendar a tradição das gerações mortas, que acabaram com a empresa?

Graça Foster e quase toda a diretoria da Petrobras pediram demissão. Até agora, só José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT e um dos “Três Porquinhos” da Dilma Rousseff de 2010, não assinou a carta de renúncia. Só para refrescar a memória: ele foi um dos coordenadores da primeira campanha presidencial da petista, ao lado de José Eduardo Cardozo, atual ministro da Justiça, e de Antonio Palocci. A então candidata os apelidou de seus “Três Porquinhos”. Então tá. Ela devia ter os seus motivos. No Facebook, o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), publicou a seguinte mensagem sobre a saída de Graça: “O curioso na saída de Graça Foster da presidência da Petrobras é que depois de mais de um ano fazendo de tudo para proteger a presidente da República, sua amiga Dilma Rousseff, a presidente Graça Foster resolveu falar a verdade e, há poucos dias, admitiu no balanço da empresa uma perda de ativos de mais de R$ 88 bilhões. No mesmo momento, admitiu um prejuízo de mais de R$ 2,5 bilhões pelo início das obras feitas irresponsavelmente nas refinarias do Ceará e do Maranhão. Falar a verdade não faz bem a ninguém neste governo”. Em parte, claro!, Aécio tem razão. Tenho cobrado há quase um ano a saída de Graça Foster — e de toda a diretoria da Petrobras — em razão de seus defeitos. Mas há uma possibilidade de que ela tenha caído em razão de suas virtudes. De todo modo, é evidente que há muito Graça havia perdido a condição de permanecer no cargo. A reação da Bolsa de Valores diz tudo. A permanência da atual diretoria acabaria levando a empresa à lona. Aliás, está bem perto disso, não é mesmo? Vamos ver quem vai aceitar o desafio. Um monte de gente séria está declinando do convite. Espero que se chegue a bom termo. É preciso que seja uma equipe que inspire credibilidade; que, a um só tempo, tenha conhecimento da área e não esteja disposta a servir de esbirro de um projeto político. Por que as pessoas correm do convite para comandar a Petrobras? Porque nunca sabem quando vão esbarrar em anéis burocráticos na empresa contaminados pela sujeira política. Ora, tomemos José Sérgio Gabrielli: ele diz, por exemplo, que ignorava toda a roubalheira. Curiosamente, tem passado mais ou menos incólume pelo furacão. Logo, deve-se concluir que as diretorias de Abastecimento, Serviços e Internacional — as três enroladas na investigação — gozam de tal autonomia que se podem roubar bilhões sem que o presidente se dê conta ou mande investigar. Será mesmo? Não que eu acredite em Gabrielli. Não acredito numa vírgula! A empresa, no entanto, deve ter mecanismos de decisão que tornam o seu discurso ao menos verossímil, ainda que falso. Logo, a futura diretoria tem de promover uma revolução na estatal. Vai ser fácil? Ah, não vai mesmo! A melhor síntese pode ser buscada no pensamento de um ícone da esquerda, não dos conservadores. Prestem atenção: “A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”. E Marx foi adiante, afirmando que, justamente quando algumas forças parecem empenhadas na mudança, em vez de buscarem o futuro, ancoram-se nas forças do velho. E só para não esquecer: a Operação Lava Jato investiga apenas os desvios na Petrobras. Como a roubalheira era parte de um sistema, não uma exceção que só valesse para a estatal, imaginem a limpeza que está a pedir a vida pública e o estado brasileiros. Por bons ou por maus motivos, Graça vai tarde. O que se lamenta é que sua saída não interfira nos métodos empregados por uma quadrilha para assaltar o estado brasileiro. Por Reinaldo Azevedo

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