sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A vulgaridade teológica do papa Francisco é pavorosa! Ou: Três Ave, Marias” e um tapa no traseiro

Quo usque tandem abutere, Francisce, patientia nostra? Até quando abusarás, Francisco, da nossa paciência? Sim, eu estou me referindo ao papa Francisco. Sou católico, o que, é evidente, não me dá licença especial para criticar o papa, mas não resisto a pegar uma carona em Cícero para expressar meu desagrado. O que ele fez desta vez? Numa audiência semanal em que tratou de assuntos relativos à família, saiu-se com esta:

“Uma vez, ouvi um pai num encontro com casais que disse: ‘Às vezes, tenho de bater nos meus filhos, mas nunca no rosto para não humilhá-los’. Que lindo! Ele conhece o senso de dignidade. Tem de puni-los, mas o faz de modo justo e dá o assunto por encerrado”.
Não dá! “Est modus in rebus”, escreveu o grande Horácio. Há um limite nas coisas. Eu me opus severamente a uma tolice autoritária chamada “Lei da Palmada”. Fiz picadinho do texto num post publicado aqui no dia 5 de junho do ano passado.
O primeiro problema da lei é sua imprecisão. Pune-se, por exemplo, qualquer tratamento que “ridicularize ou humilhe” a criança e o adolescente, sem que se diga o que são uma coisa e outra. Mais: há uma evidente interferência no Estado em assunto de família. De resto, o Estatuto da Criança e do Adolescente já assegura direitos dessas duas categorias contra a violência familiar. E, por último, embora eu jamais tenha recorrido a tal expediente com as minhas filhas, um tapa na bunda não ameaça, digamos, os direitos humanos.
Mas eu meu pergunto: cabe ao papa tratar dessas miudezas? Cabe ao papa abordar um assunto sem dúvida delicado com essa ligeireza? Cabe ao papa ficar pensando alto, assim como quem suspira?
A cada vez que Francisco fala, sinto uma saudade imensa de Bento 16. Esse papa já concedeu uma entrevista ambígua sobre aborto. Foi vago e impreciso sobre homossexualidade. Falou uma tolice gigantesca ao comentar o atentado contra o jornal francês “Charlie Hebdo”, dizendo que ele daria um soco em quem xingasse a sua mãe. Dia desses, afirmou que os católicos não precisavam se reproduzir como coelhos… Em todas as ocasiões, o Vaticano teve de vir a público para tentar explicar o que ele quis dizer.
Não dá! Com a devida vênia, isso não é conversa para papa, mas para cura de aldeia, para padre de paróquia — sem nenhum desdouro a ambos. Nesses ambientes, sim, um líder religioso pode descer a minudências.
Cristo, é certo, falava por parábolas, recorria a exemplos, tornava viva a palavra de Deus, buscando correspondência no cotidiano dos homens. Mas voltem aos Evangelhos. Tais parábolas, como é próprio da linguagem religiosa, são de tal sorte abertas que todos nós, com as nossas respectivas histórias, nelas nos reconhecemos. Releiam a fala de Francisco: ele transforma uma história tola num fundamento moral.
Mais: um papa fala pelo Trono de Pedro, santo Deus! O cristianismo católico é a única denominação religiosa no mundo que tem “o” hierarca. É bem verdade que o superior geral da Ordem dos Jesuítas — e Francisco é um jesuíta — tem tal poder  sobre seus comandados que é chamado “Papa Negro”, numa alusão à batina preta. Também ele exerce cargo vitalício. O atual superior geral é o padre espanhol Adolfo Nicolás.
Ao falar em nome da Igreja e se entregar a essas ligeirezas, fica a suspeita de que Francisco endossa castigos físicos, dede que moderados. Não é esse o seu papel. Desde os primeiros dias, noto no papa certa vocação midiática bem distinta daquela que exibia um João Paulo II. Aquele reforçava o papel de liderança moral da Igreja e reforçava seu apelo espiritual, místico.
Francisco tem se mostrado de uma vulgaridade teológica pavorosa. Talvez seja um tiozão legal para o “churras” de domingo. Mas é fraco para chefiar a Igreja. Espero que o “Papa Negro” chame o “Papa Branco” para lhe dar um puxão de orelha. Por Reinaldo Azevedo

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