terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Agora somos eu e Lula a defender a demissão de Graça. Epa! Os motivos são certamente diferentes

Luiz Inácio Lula da Silva vai pedir à presidente Dilma Rousseff que demita Graça Foster do comando da Petrobras. Quando eu e Lula defendemos a mesma coisa, é claro que é o caso de verificar com cuidado o que está em curso, não é mesmo? Certamente, os argumentos e os motivos são diferentes, e todos sabemos que os meios qualificam os fins. Eu defendo que Graça Foster seja demitida por incompetência mesmo. Acho que ela está gerenciando mal a crise da Petrobras — em companhia de toda a diretoria. Na verdade, a minha tese é mais ampla: penso que todo o comando tem de cair fora de imediato. Mas de nada adiantará se a equipe que vier a substituí-lo se deixar orientar por critérios meramente políticos. O Babalorixá de Banânia, suspeito, quer outra coisa. Embora Graça se mostre atrapalhada — e o episódio da divulgação do balanço, convenham, lembrou uma cena de pastelão —, parece fato que ela não compactue com os métodos da quadrilha que deu as cartas por lá durante a gestão de José Sérgio Gabrielli. Na administração Graça Foster, por exemplo, uma comissão interna criada para investigar a compra da refinaria de Pasadena concluiu que Gabrielli teve ao menos dois comportamentos, digamos heterodoxos: foi questionada sua atuação na negociação da compra da segunda metade da refinaria. Sem autorização prévia da diretoria executiva ou do Conselho, ele participou de reuniões com os sócios, instruiu o envio de uma proposta de US$ 550 milhões e acompanhou o envio de carta de intenções por Nestor Cerveró. Posteriormente, orientou a entrada em uma disputa arbitral nos Estados Unidos contra a Astra sem que houvesse autorização formal para isso. A comissão questionou ainda o anúncio feito por Gabrielli ao mercado em 2008, dias depois do fechamento da primeira parte do negócio. O presidente da Petrobras comunicou a intenção de fazer uma modernização da refinaria para a produção de 200 mil barris por dia, mas o contrato assinado dias antes previa a modernização com a manutenção da capacidade de refino em 100 mil barris por dia. Sim, tudo coisinha relativamente leve perto do que se passava naquele esgoto moral. Mas Gabrielli não gostou e chegou a conceder uma entrevista afirmando que seria um tiro no pé se a atual diretoria da Petrobras tentasse comprometê-lo com as lambanças que ocorreram por lá. Ficou com cara de ameaça. Lembro esse episódio só para deixar claro que Lula e os lulistas não têm grande apreço por Graça, pessoa da irrestrita confiança de Dilma. Se o Poderoso Chefão do PT não gosta de alguém, é claro que as pessoas de bom senso são tentadas a alimentar simpatias pelo alvo de sua falta de afeição. Mas nem assim me convenço de que ela deva permanecer. Mantenho a minha proposta: acho que é preciso formar um comitê de crise, com gerenciamento externo, para que o País saiba que diabos, afinal de contas, se passa por lá. Ao menos enquanto houver Petrobras. Por Reinaldo Azevedo

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