sábado, 14 de fevereiro de 2015

Após três meses de cadeia, surgem sinais de extrema angústia de empreiteiros presos na Lava-Jato


Três meses depois de serem presos — que se completam neste sábado — empresários e executivos que dividem as celas da carceragem da Polícia Federal em Curitiba, acusados de formar cartel, pagar propina e inflar os preços de obras da Petrobras, já não sentem apenas sinais de depressão e ansiedade. Azedaram as relações deles com muitos de seus defensores. Advogados de renome, que fecharam contratos milionários — e deram a seus clientes a impressão inicial de que poderia ser fácil tirá-los da cadeia —, agora ouvem uma pergunta à exaustão: "Se o Renato Duque (ex-diretor da Petrobras) está solto, e eu? Por que estou aqui?" A cobrança feita aos advogados é generalizada. Quando tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça Federal em Curitiba, alguns empresários deram a seus defensores prazos curtos. “Quero sair em até uma semana”, era uma das declarações mais comuns. Choveram pedidos de habeas corpus, e nada feito. Duque, acusado de ter operado bilhões em propinas, conseguiu ficar livre. Polícia Federal e Ministério Público Federal argumentam que as provas contra o petista Renato Duque são mais difíceis. A maioria das contas no Exterior não estava em nome dele, e é preciso que chegue ao Brasil o rastreamento do dinheiro lá fora. Para os que estão presos, isso é só um detalhe. Ainda que o tom seja de elegância, não são poucos os advogados que ouvem de seus clientes que “são muito eficientes, mas pouco eficazes”. Muita promessa, mas nada de irem para casa. Reina uma espécie de angústia coletiva que dá a interlocutores a sensação de que, em breve, muitos cederão à tentação de seguir o que fez o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, e também pedirão atendimento psicológico. O que mais chama atenção de quem vai visitá-los é que não reclamam, por exemplo, da hospedagem e da comida, que tem de ser a mesma oferecida a qualquer preso na Polícia Federal. Na carceragem, não dá para pedir quentinha. Em geral, os presos da Lava-Jato dizem que são tratados com dignidade e preferem a cela da Polícia Federal a prisão comum.

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