segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Barusco diz que o PT recebeu R$ 40 milhões de propina no estaleiro Rio Grande


A construção de três navios-sonda de perfuração no estaleiro da Petrobras em Rio Grande teria envolvido o pagamento de R$ 60 milhões em propina – R$ 40 milhões para o PT – e foi combinado entre Pedro Barusco (ex-gerente da estatal), João Vaccari Neto (tesoureiro do partido) e o empresário Milton Pascowich (operador da fraude). A rota do suborno foi detalhada por Barusco em acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Conforme ele, a Sete Brasil – empresa que nasceu de um projeto da Petrobras para fabricar sondas nacionais – venceu uma licitação em 2011 para produzir 21 navios desse tipo nos estaleiros de Rio Grande (RS), Jurong (ES), Kepel Fels (RJ) e Enseada do Paraguaçú (BA). Barusco ressaltou que o "maior contrato de sondas do mundo inteiro" ocorreu dentro da legalidade, mas envolveu um acordo de distribuição de 1% do valor de cada embarcação para as três partes do esquema criminoso. Como cada navio teve um preço médio de US$ 720 milhões (R$ 2 bilhões), Barusco delatou ao Ministério Público Federal que R$ 60 milhões foram desviados do estaleiro de Rio Grande para serem distribuídos entre ele, o PT e a Sete Brasil. O partido da presidente Dilma Rousseff ficou com a maior parte do dinheiro, segundo ele. "A divisão se dava da seguinte forma: dois terços para João Vaccari e um terço para a 'Casa 1' e 'Casa 2'. A 'Casa 1' referia-se a pagamentos no âmbito da Petrobras, especificamente para o Diretor de Serviços, Renato Duque, e Roberto Gonçalves, e a 'Casa 2' referia-se ao pagamento de propinas no âmbito da Sete Brasil, especificamente para o declarante, João Carlos de Medeiros Ferraz, presidente da empresa, e, posteriormente, também houve a inclusão de Eduardo Musa, diretor de Participações", aponta a delação. As 21 unidades estão previstas para ser entregues a partir de 2016 e serão destinadas principalmente à perfuração de poços no pré-sal da Bacia de Santos, incluídas as áreas da cessão onerosa, de onde a estatal está autorizada a retirar 5 bilhões de barris de petróleo. Barusco revelou ao Ministério Público Federal que o operador da fraude em Rio Grande era o empresário Milton Pascowitch, que presta serviços à Ecovix, companhia do ramo de construção naval e off-shore. No depoimento, o ex-gerente da estatal falou que "demorou bastante para se consolidar essa forma de pagamento por conta do grande número de pessoas envolvidas". Para não haver erro na execução do crime, Barusco, Julio Camargo (lobista da Toyo-Setal), Renato Duque (diretor de Serviços da Petrobras) e João Carlos Ferraz (então presidente da Sete Brasil) selaram o acordo em um jantar em Milão, na Itália, em outubro de 2011. Eles acertaram os detalhes da propina com o presidente do banco suíço Cramer e um agente da instituição, chamado Pierino Lardi. No dia seguinte, eles abriram contas em nome de off-shores no banco suíço, exceto Camargo, que já mantinha relacionamento com os europeus. Pedro Barusco contou que foram abertas 19 contas em nove bancos e confirmou que o esquema de propinas teve início em 1997. Uma planilha montada por ele, além de seu depoimento, serviram para a Polícia Federal desencadear a nona fase da Operação Lava-Jato, na última quinta-feira, prendendo quatro pessoas. O quadro montado pelo ex-gerente e entregue aos procuradores da República tem cinco páginas e informa, entre outros dados, a obra, quem pagou, intermediário e destino do dinheiro. O documento de Barusco abrange, no total, 87 dos principais contratos firmados pela Petrobras na última década no País e no Exterior. Somam a quantia de R$ 97 bilhões. Desse total, R$ 1,2 bilhão teriam sido pagos em propina.

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