quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Delator afirma ter pago R$ 7,5 milhões em dinheiro ao esquema do petista Renato Duque



O empresário Shinko Nakandakari, um dos onze operadores de propina da Petrobras, afirmou ter pago R$ 7,5 milhões em espécie ao ex-diretor da Petrobras, o petista Renato Duque, e ao gerente Pedro Barusco Filho, entre 2010 e 2013. Deste total, Nakandakari disse que entregou R$ 1 milhão diretamente nas mãos de Renato Duque, em dinheiro vivo, no restaurante Fasano e no restaurante Alloro, no Hotel Windsor, no Rio de Janeiro. No depoimento prestado ao Ministério Público Federal, Nakandakari, que assinou acordo de delação premiada, contou que chamava Duque de "Nobre" e Barusco de "Amigão". Dos R$ 7,5 milhões, Nakandakari diz que R$ 2,1 milhões saíram provavelmente do ‘caixa 2’ da Galvão Engenharia, pois foram entregues em dinheiro vivo. Para justificar o repasse de outros R$ 5,410 milhões foram emitidas notas de sua consultoria, a LFSN. A Galvão Engenharia mantém o que já afirmou à Justiça, que fez os pagamentos porque foi vítima de extorsão. Nakandakari detalhou os pagamentos feitos pela Galvão Engenharia a Duque e Barusco. De setembro de 2008 a agosto de 2010 foram pagos R$ 3 milhões em espécie, dos quais Nakandakari diz ter ficado com sua parte - R$ 900 mil - e entregue R$ 2,1 milhões a Barusco para que ele dividisse com Duque. O dinheiro lhe foi entregue em parcelas por Ubiratan Queiroz, na sede da Galvão e no Hotel Quality Jardins, em São Paulo. A entrega na mão de Barusco ocorreu no Hotel Everest e depois no Sofitel em Copacabana, ambos no Rio de Janeiro. Do que repasse feito por meio da LFSN, a maior parte - R$ 4,410 milhões - foi entregue em espécie a Barusco para ser dividido com o petista Renato Duque. O consultor disse que pagou outro R$ 1 milhão diretamente a Renato Duque porque Barusco saiu da Petrobras e assumiu no lugar dele um novo gerente, Roberto Gonçalves. Duque não queria que Gonçalves soubesse sobre os pagamentos. Até 2009 a Galvão não era convidada a participar de licitações da Petrobras. Segundo Nakandakari, a empreiteira só passou a ser convidada depois que ele passou a intermediar os contatos com Pedro Barusco Filho, gerente de Duque na Diretoria de Serviços, em meados de 2008. Nakandakari contou que a Galvão e a turma de Renato Duque promoveram jantares de confraternização nos meses de dezembro de 2010 a 2013. Num deles, realizado em 2012 no MR LAM, na Lagoa, participou também Eduardo Musa, da Sete Brasil. O delator afirmou que, naquela ocasião, a Galvão Óleo e Gás, em parceria com a Odfjell Drilling, já havia conseguido um contrato de US$ 12 bilhões para afretar três navios-sonda para a Petrobras durante 15 anos, destinados a explorar a camada do pré-sal. Barusco foi diretor da Sete Brasil. Segundo Nakandakari, foi combinado ainda num almoço com Duque e Barusco, realizado no Hotel Tivoli, em São Paulo, que a Galvão iria se associar à Sete Brasil para prestar serviços à Petrobras. Nesta reunião, Dario Galvão, um dos diretores da empresa, afirmou que a empresa "sabia recompensar bem seus parceiros". Segundo o delator, acionistas e conselheiros da Galvão participavam das decisões mais importantes. O empresário contou que havia pressão dos diretores da Galvão para que Duque e Barusco aceitassem aditivos nos contratos. Em troca, pagavam propina. Disse que recebeu email do antecessor de Erton Fonseca na Galvão, email detalhando valores que seriam pagos à dupla. Em depoimento à Polícia Federal, Erton Fonseca havia afirmado que foi extorquido por Duque e Barusco, que teria enviado Nakandakari como intermediário. O empresário negou e apresentou emails ao Ministério Público Federal mostrando que agiu a pedido da própria empreiteira e que era amigo tanto de Erton Fonseca quanto de Dario Galvão. Sua contratação pela Galvão, afirmou, foi feita pelo antecessor de Fonseca, Augusto Distrutti. Nakandakari diz que em agosto de 2013 Duque teria comunicado à Galvão Engenharia que Nakandakari e Barusco não mais o representavam. Soube disso por Dario Galvão, que lhe chamou para uma reunião na sede da empresa. Nakandakari denunciou mais um funcionário da Petrobras que teria recebido propina no esquema de corrupção da Petrobras: o ex- gerente-geral de Implementação de Empreendimentos para a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), Glauco Colepicolo Legatti, recebeu entre junho de 2013 e junho de 2014, R$ 400 mil. Segundo o delator, Legatti recebeu porque comandava a equipe técnica. Em novembro, uma comissão interna da Petrobras afastou Legatti do cargo por suspeitas de envolvimento no esquema. Com o depoimento de Nakandakari, atribui a ele participação ativa no esquema. Legatti era um dos assessores do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras que continuou no cargo mesmo com a saída de Paulo Roberto Costa. Na época, a Petrobras informou que as "mudanças no quadro gerencial" eram resultado das comissões internas de apuração que apontaram o não cumprimento de procedimentos normativos internos. Também de acordo com empresa, não houve demissões porque não havia "evidências de “dolo, má-fé ou recebimento de benefícios por parte desses empregados”".

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