terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Delator diz que propina na Petrobras do regime petista era institucionalizada


O engenheiro Augusto Ribeiro de Mendonça Neto admitiu em depoimento à Justiça nesta segunda-feira que a cobrança de propina dentro da Petrobras era uma “prática institucionalizada”. Representante da empresa Toyo Setal – uma das envolvidas no esquema de corrupção operado na Petrobras –, Mendonça Neto firmou com a Justiça um acordo de delação premiada e deu detalhes da engrenagem do Petrolão. Nesta segunda-feira, ele foi novamente ouvido pelo juiz federal Sérgio Moro e voltou a explicar como os ex-diretores da estatal Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços), além do ex-gerente Pedro Barusco, pressionavam empresários para pagamento de propina a cada grande obra da petroleira. “Os diretores sempre tinham um poder importante de atrapalhar o andamento de obras. Seria inimaginável não contribuir. Sim, era uma prática institucionalizada”, relatou ele ao juiz Sergio Moro. “Cada empreiteira tinha a sistemática de pagar propina, mas era de conhecimento de todos o pagamento de propina”, disse. “Se não pagasse propina, a cobrança era muito grande. Em determinada época, chegamos a atrasar um pouco e a cobrança era efetiva. A diretoria da Petrobras tem um peso muito importante na operação da companhia e os diretores utilizavam esse tipo de argumentação para discutir tanto a questão das comissões quanto para o pagamento”, completou ele. De acordo com o executivo da Toyo Setal, Paulo Roberto Costa exigia 1% de propina sobre o valor dos contratos de obras, enquanto Renato Duque, indicado ao cargo pelo ex-ministro da Casa Civil, o bandido petista mensaleiro José Dirceu, cobrava, em parceria com o ex-gerente Pedro Barusco, 2%. Barusco também fez acordo de delação premiada e vai devolver quase 100 milhões de dólares à Justiça. Em seu depoimento, Mendonça Neto detalhou ainda a participação do doleiro Alberto Youssef como um dos responsáveis por emitir notas fiscais falsas para justificar pagamentos e dar ares de veracidade à movimentação financeira do grupo. Youssef, segundo o delator, agia em nome de Paulo Roberto Costa, enquanto Duque e Barusco agiam por eles próprios. “No caso de Duque, conseguimos notas fiscais de serviços que deveriam ser prestados à obra e não foram, e os fornecedores faziam os pagamentos onde havia sido indicado, contas no exterior ou em recursos. Não havia um operador para Duque. Ele ou o Pedro Barusco cobravam diretamente propina”, explicou. No acordo de delação premiada que fechou com o Ministério Público, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto já havia afirmado que parte da propina recolhida pela quadrilha que se instalou na Petrobras foi repassada para o caixa do Partido dos Trabalhadores por meio de doações oficiais, entre 2008 e 2011. Segundo ele, os repasses foram feitos por meio das contas das empresas Setec Tecnologia e PEM Engenharia. A maquiagem nos desvios, incluindo os recursos como se fossem doações partidárias, era uma estratégia para dificultar o rastreamento do dinheiro oriundo do crime. Segundo Mendonça Neto, apenas em relação a sua empresa, os ex-diretores da Petrobras, Renato Duque e Paulo Roberto Costa, receberam propina de até de 30 milhões de reais.

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