segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Festa de Eduardo Cunha teve impropérios e falatório de impeachment da petista Dilma Rousseff


A vitória deveria parecer surpresa e a festa de comemoração, como se tivesse sido organizada de última hora. Mas a presença de manobristas, seguranças e jovens "promoters" uniformizadas na porta da mansão no Lago Sul de Brasília denunciavam que família e assessores de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já haviam deixado tudo pronto para receber o novo presidente da Câmara domingo à noite, logo depois de concluída a eleição. Entre o tablado e o toldo, mesas iluminadas com velas, garçons circulando com uísque, champanhe e vinho e dois bufês com massa e risoto de camarão. Mas o cardápio principal era o de "pérolas" e impropérios contra a presidente Dilma Rousseff, seu staff e o PT. “Ela vai ter de arrumar um bom articulador político, porque não gosta disso (de política)”, disse um deputado do PMDB. “Eduardo amenizou no discurso a questão das sequelas. Mas Dilma tem que fazer a parte dela”, completou esse parlamentar, em referência à ameaça feita pelo então candidato por causa da interferência do Palácio do Planalto na campanha em favor do derrotado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O público da festa era majoritariamente de membros do baixo clero. O Pastor Everaldo (PSC), ex-candidato à Presidência da República, conversava discretamente sentado em uma mesa próxima à de Cunha e sua família. Já o também ex-candidato à Presidência, Levy Fidelix (PRTB), soltava pérolas para quem quisesse ouvir. “A vida de Dilma vai ser um inferno. Vai vir impeachment”, disse, apesar de Cunha se dizer, horas antes, contrário à saída da presidente. “Ela vai ser ‘impeachada’ e quem vai assumir é o Temer, em nove meses”, profetizava. Fidelix também não poupou o PT do B, que ficou de fora do bloco de apoio de Cunha, apesar do acordo de apoio feito entre os partidos nanicos: “O PT do B é traidor”. Peemedebistas como o deputado Danilo Forte (CE) aproveitavam para fazer campanha pela liderança do partido. Eduardo Cunha ficou à mesa com a família, mas não deixou de circular entre os seus convidados. Na fila do bufê, comentavam que o novo presidente precisou ir ao banheiro para falar ao telefone com privacidade. Conversou com o vice-presidente Michel Temer. No salão, uma banda tocava hits internacionais. Alguns convidados se afastaram um pouco para contemplar cacatuas e tucanos em gaiolas nos jardins da mansão do empresário Venâncio Júnior, de uma família de empreiteiros de Brasília. Curiosos, convidados atravessavam o jardim e davam uma olhada em outra festa repleta de jovens que acontecia à margem da piscina. Ao saber do evento, um deputado disse que não poderia ir até lá e explicou seus motivos: “Menina novinha não gosta de deputado velho. Gosta de dinheiro de deputado velho. E eu não tenho (dinheiro)”, afirmou. Já era madrugada e Eduardo Cunha continuou na festa. Nesta segunda-feira, 2, já estava a postos no Supremo Tribunal Federal para o início dos trabalhos do Judiciário. Nesta tarde, deu início às atividades no Congresso, que amanheceu com uma pilha de lixo que incluía cavaletes, banners e faixas da campanha que chegou ao fim.

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