domingo, 1 de fevereiro de 2015

Governo Dilma é humilhado, PSDB perde a chance de participar de uma vitória, e Cunha leva de goleada

Já escrevi aqui o óbvio, e o dito-cujo, sendo o que é, aconteceu. Ao endossar a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT) para a presidência da Câmara, o governo Dilma entrava num jogo de perde-perde. Perderia ganhando, o que era improvável, e perderia perdendo, como aconteceu. Ocorre que a derrota foi maior do que se esperava: Eduardo Cunha (PMDB-RJ) venceu no primeiro turno, com 267 votos. Arlindo Chinaglia teve magros 136 votos, não muito mais, convenham, do que os 100 de Júlio Delgado (PSB-MG), que virou o candidato da oposição. Chico Alencar, o anticandidato (PSOL), ficou com 8, e 2 deputados preferiram o voto nulo. Cunha precisava de 257 votos – metade mais um dos 513 deputados – para vencer no primeiro turno, o que, suponho, nem ele esperava. Obteve 267, 10 a mais, o que humilha a máquina governista, que não viu nada demais em apelar à chantagem explícita para tentar emplacar seu candidato. Três ministros saíram com uma lista de deputados na mão, e os respectivos cargos para os quais indicaram aliados, cobrando fidelidade. A mensagem era esta: se Chinaglia perder, esses postos podem estar ameaçados. Entraram nessa patuscada Pepe Vargas (Relações Institucionais), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) e Ricardo Berzoini (Comunicações). O PSDB também jogou errado na Câmara. Se, no Senado, lançar um segundo nome, de oposição a Renan – que tendia a ser o candidato único – foi acertado, endossar a postulação de Júlio Delgado, acho eu, foi um erro, ainda que sob o pretexto de manter o PSB no terreno oposicionista. Parecia ser uma boa saída quando se imaginava que a disputa iria para o segundo turno, e, aí sim, os votos do PSDB poderiam fazer diferença. Da forma como se deu, ainda que tucanos tenham votado em Cunha no escurinho da urna, o fato é que ele chegou lá sem o apoio formal do maior partido de oposição. Não precisou. Vale dizer: o PSDB poderia ter faturado com a derrota de Dilma, mas não o fez. Reitero: as realidades de Câmara e Senado eram bem distintas. O resultado para o PT é humilhante. Sobretudo porque aderiu ao jogo pesado, inclusive aquele que movimenta o submundo. E perdeu. Nem acho que Cunha vá fazer um mandato de oposição ou algo assim. Mas sabe que tem motivos para cuidar da sua própria agenda sem, digamos, remorsos. Ainda voltaremos muitas vezes ao assunto. Tanto Chinaglia como Cunha tinham uma pauta de apelo corporativo que me parece dinheiro jogado fora. Falo disso outra hora. De imediato, destaco que a vitória do peemedebista, falando em princípio, é positiva quando se cotejam as coisas que ele pensa sobre reforma política com o que pensa Chinaglia – que tem a pauta do PT. Não que eu acredite que essa conversa de reforma prospere. Mas lembro que os petistas querem impor o financiamento público de campanha, por exemplo, que seria nefasto para o País. Cunha se opõe. Já se manifestou também de forma clara contra qualquer censura à imprensa, ainda que velada. Dado que o governo anda tendo idéias esdrúxulas a respeito, melhor ele lá do que Chinaglia. De resto, se e quando fizer alguma coisa, na presidência da Câmara, incompatível com o cargo, aí a gente cobra que ele saia. É simples. Uma coisa é certa: petistas perderam a condição, porque petistas, de presidir qualquer coisa e lhe impor um mínimo de seriedade. Não dá mais. O partido se afundou no opróbrio. O governo foi humilhado. O PSDB perdeu uma chance. E Cunha levou de goleada. Vamos ver o que será. Por Reinaldo Azevedo

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