quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Graça já era. Agora o mercado quer rir de outra coisa. E a agenda é imensa!

Como diria o petista Chico Buarque, uma pergunta, nesta quarta-feira, andou nas cabeças e nas bocas: se a informação não confirmada de que Graça Foster deixaria a Presidência da Petrobras fez disparar as ações da empresa, por que o mesmo não se deu com a confirmação de sua saída e de toda a diretoria?  Porque Graça não é o único problema da Petrobras. Na verdade, ela entrou lá para ser a solução. Quando ficou claro que não conseguiria tirar a empresa do atoleiro, o mercado pôs um preço.

E resolveu fazer a compensação na outra ponta quando ficou claro que Graça iria sair. Mas o valor dessa expectativa positiva já havia sido definido na segunda e na terça. Na quarta-feira, as ações acabaram andando de lado. Outras questões agora se alevantam. Quem será seu substituto? Vem para corrigir ou para alimentar os vícios? Haverá uma profissionalização para valer?
A empresa tem pepinos gigantescos a resolver, e isso é que vai determinar, de agora para diante, o comportamento dos investidores. A Petrobras vai incorporar a seu balanço uma perda de quanto? Os mais de R$ 88 bilhões, que deixaram Dilma enfurecida, não vão sair tão facilmente da cabeça do mercado. Se o valor for muito abaixo disso, o que se tem é desmoralização — e isso custará muito caro. Qualquer que seja ele, no entanto, num primeiro momento, a tendência é que a reação seja ruim. Se os números forem realistas, pode ter início um ciclo de confiança depois do estresse.
A única coisa sensata que Dilma tem a fazer é procurar estimular o otimismo indicando um nome que não seja notoriamente ligado à máquina de desmandos. A depender da escolha, haverá otimismo, mas não se enganem: ainda há espaço para o valor das ações cair bastante. A Petrobras não dispõe dos recursos necessários para ser a parceira obrigatória da exploração do pré-sal. Ocorre que isso se tornou uma obrigação. O endividamento da empresa explodiu. A própria Graça admitiu — outro presidente dirá o contrário? — que a estatal reduzirá ao mínimo necessário a sua atuação na exploração e no refino de petróleo, suas duas atividades principais.
A confiança é muito importante, mas não existe mágica. O ciclo que vem pela frente não é nada animador. Escolham o problema:
a: o preço do barril do petróleo despencou;
b: a Petrobras não tem recursos para arcar com as despesas do pré-sal;
c: a exploração do pré-sal, dado o valor do barril, deve resultar num zero a zero, e olhem lá;
d: a Operação Lava Jato, com seus desdobramento, está longe do fim;
e: as ações judiciais contra a empresa no Exterior têm desfecho imprevisível; podem ser devastadoras para as finanças da estatal;
f: agências de classificação de risco põem a empresa, hoje, no último patamar do grau de investimento; abaixo dele, é grau especulativo.
As ações se valorizaram com o boato da queda de Graça e ficaram estáveis no fato. Isso é parte do jogo. De agora em diante, o que conta é a resposta do governo aos novos desafios, que já, ora vejam, os velhos! Por Reinaldo Azevedo

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