sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Lula tenta contornar insatisfação da base aliada parlamentar em Brasília



Em 24 horas de Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu mais alento à base de apoio do governo no Congresso que a presidente Dilma Rousseff em dois meses de mandato. Em reuniões com as bancadas do PT e do PMDB no Senado, além de líderes de outros partidos, Lula assegurou: a presidente da República está disposta e se esforçar para melhorar. De tudo que ouviu e anotou, Lula concluiu que a atual coordenação política do governo não vira o ano. A visita de Lula deu alento, no entanto, aos mais céticos do PT que temem pela repetição de uma novela: Lula vem eventualmente a Brasília, conversa com todos, diz que a presidente vai mudar, e quando ele decola de volta a São Paulo tudo volta à antiga rotina. A expectativa dos mais otimistas é que a extensão da crise e as ameaças a seu mandato tenham de fato despertado a presidente para a necessidade de fazer mais política. Nas conversas que manteve em Brasília, Lula deixou os interlocutores convencidos de que vai assumir um protagonismo maior neste segundo mandato de Dilma. A avaliação é que a conjuntura não é nada favorável ao governo, no curto prazo, e que Lula é essencial para ajudar a recompor a base aliada, reaproximar o governo do PMDB e na interlocução com empresários. No jantar na casa de Jorge Viana, na noite de quarta-feira, os petistas degustaram salada de bacalhau, peixe com molho de camarão e vinho argentino Angélica Zapata. Em tom conciliador, Lula disse que a disputa entre PT e PMDB pela presidência da Câmara chegou ao fim com a vitória de Eduardo Cunha e desse modo ele não pode mais ser tratado como um adversário, porque se tornou presidente de um poder. Agora o PT e o governo precisam conviver com ele. Sobre o pacote fiscal, Lula disse que o PT precisa se perguntar como deseja ver o Brasil em dezembro de 2018, qual é o país que será entregue ao sucessor de Dilma. Para o ex-presidente o discurso do governo é árido e pessimista, só fala em cortes de gastos. No entanto, há coisas positivas que Dilma poderia anunciar, tais como o PAC 3, já formatado, e novas concessões de rodovias. Lula exortou os petistas a reagir às acusações de que as doações de campanha ao PT - numa alusão implícita às empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato -, são ilegais. Como exemplo, o ex-presidente citou o PSDB e doações de empresas envolvidas na investigação de desvios em licitações relativas aos trens do metrô de São Paulo. "As doações ao PT são roubo, propina, e as deles (outros partidos) são compromisso ideológico, campanha da fraternidade", disse. Lula ressalvou que não adianta surgirem denunciados de outros partidos envolvidos nas denúncias da Lava-Jato, numa referência à iminente lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que na próxima semana segue para o Judiciário. Disse que o PT tem que se preocupar com a sua situação, mas sem permitir que os adversários fiquem "bancando os vestais". Aos petistas, ele reiterou a declaração que fez no ato público em defesa da Petrobras no Rio de Janeiro, quando disse que demorou a andar de cabeça erguida, e não é agora que o obrigarão a abaixá-la. Na ocasião, Lula também afirmou que a presidente Dilma precisa "levantar a cabeça", lembrar que venceu as eleições e governar o País.

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