segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Petrobras fraudou licitações para simplificar esquema de corrupção

Além das denúncias de fraude nas licitações da Petrobras por carta-convite reveladas pela Operação Lava-Jato, organismos de controle como o Tribunal de Contas da União e a ONG Transparência Brasil apontam outras brechas para direcionar contratos de compras da estatal. O Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras, criado em 1998 para dar agilidade à companhia, prevê ainda o uso da tomada de preços, do leilão e da concorrência nos moldes do que é feito no setor público. No entanto, a estatal praticamente abandonou essa última opção. Além das cartas-convite, que passaram a dominar as contratações da empresa a partir de 2004, a Petrobras usa a inexigibilidade ou dispensa de licitação para fechar um volume expressivo de contratos. Um levantamento da Transparência Brasil nos contratos da estatal apenas entre 2009 e 2014 mostra que empresas e consórcios citados na Lava-Jato ganharam R$ 3,6 bilhões em acordos sem concorrência. Além de controlar a lista de participantes nas licitações por convite, executivos da estatal podem estabelecer especificações ou decretar urgência nos projetos para contratar por inexigibilidade ou dispensa de licitação. Foi o expediente usado, por exemplo, para contratar parte das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, por R$ 1,4 bilhão. Esse tipo de contratação está na mira do Tribunal de Contas da União, que desde 2005 pede ao Supremo Tribunal Federal para obrigar a Petrobras a seguir o regime de licitações do setor público, regido pela Lei 8.666. As delações premiadas da Lava-Jato revelaram que a modalidade convite também deu aos diretores da Petrobras condições de direcionar as contratações. Mesmo que o regulamento não mude por causa do processo decisório, precisa ser melhor vigiado. Falta um controle eficiente das compras, do copinho de plástico às plataformas. Em 2004 (início do período investigado na Lava-Jato), 92% de tudo que a companhia comprou foi sem concorrência. Essa proporção caiu drasticamente nos anos seguintes, quando a Petrobras passou a privilegiar as licitações por convite, que chegaram a 76% em 2009. Desde 2012, os contratos por inexigibilidade e dispensa voltaram a crescer. No ano passado, quase foram 40% do total. Nessas duas modalidades, a Petrobras contrata diretamente de um fornecedor, mas precisa comprovar que só ele é capaz de entregar aquele serviço ou equipamento dentro de determinadas especificações ou que detém produto ou tecnologia sem similares no mercado. Há ainda a contratação direta por urgência. Em tese, as licitações por convite são melhores para a estatal do que as compras por dispensa ou inexigibilidade, porque existe concorrência. Mas investigados na Lava-Jato que se tornaram delatores revelaram que os certames por convite favoreceram o cartel que direcionava contratos de grandes obras. Com a ajuda dos ex-diretores Renato Duque (petista) e Paulo Roberto Costa, que também aderiu à delação premiada, muitas concorrências foram encenadas. O ex-gerente de engenharia da Petrobras, Pedro Barusco, e o executivo da Setal, Augusto Mendonça, disseram à Justiça que a lista de convidados para licitações era decidida pelos ex-diretores com integrantes de um cartel. Após limitar os convites às “sócias do clube”, decidia-se qual empresa venceria para que as outras fizessem propostas mais altas. Dessa forma, um contrato superfaturado, direcionado para determinada empreiteira, passava pelos órgãos de controle como fruto de uma seleção por menor preço, sem a necessidade de justificativas como as exigidas na dispensa ou inexigibilidade de licitação. A revelação dessa dinâmica já tem sido usada por defensores dos executivos das empreiteiras que estão presos para derrubar a tese da Petrobras de que foi vítima do cartel.

Nenhum comentário: