quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Procurador diz que o esquema de propina na BR Distribuidora funcionou até hoje

A nova frente de investigação da Operação Lava Jato, que apura o pagamento de propinas na BR Distribuidora pela empresa catarinense Arxo, funcionou "até a data de hoje", segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. "Eu diria que vai até a data de hoje", afirmou o procurador, que integra a força-tarefa da operação responsável pela investigação de corrupção na Petrobras: "É muito recente". A BR Distribuidora é a subsidiária da Petrobras que atua na distribuição, comercialização e industrialização de produtos de petróleo e derivados, além de atividades de importação e exportação. Segundo a petroleira, a empresa tem mais de 7.000 postos de combustíveis – a maior rede do País. A Arxo, sediada em Piçarras (litoral norte de Santa Catarina), produz tanques para armazenamento de combustível, e era fornecedora da BR Distribuidora. Ela ainda tem contratos em andamento com a estatal. Segundo o procurador, a nona fase da Lava Jato, deflagrada nesta quinta-feira (5), começa a descobrir um amplo leque de empresas envolvidas em corrupção. "Saímos do núcleo empreiteiras. É muito mais variado do que isso", declarou Lima. Na sétima fase da Lava Jato, deflagrada em novembro, executivos de grandes empreiteiras do país foram presos. A investigação, que agora identificou 11 novos operadores do pagamento de propinas na Petrobras e na BR Distribuidora, mostrou um esquema de corrupção "muito vasto", de acordo com o procurador: "Não foram uma ou duas operações. São centenas de operações, das mais variadas". Dois dos executivos da Arxo foram presos temporariamente, sob suspeita de pagamento de propina à estatal. Os dois executivos já presos temporariamente são Gilson João Pereira, sócio e presidente da Arxo, e Sérgio Ambrósio Maçaneiro, um dos diretores da empresa. Eles deverão ser levados ainda hoje para Curitiba. Outro sócio da Arxo, João Gualberto Pereira Neto, que também tem mandado de prisão preventiva contra si, está nos Estados Unidos, e tem retorno aguardado ao Brasil ainda nesta quinta-feira. Um quarto mandado de prisão, contra um operador do esquema que vive no Rio de Janeiro, ainda não havia sido cumprido até a publicação desta reportagem. A expectativa, agora, é que outras empresas envolvidas no esquema procurem o Ministério Público Federal para prestar informações sobre o caso, comentou o procurador. 


Nesta nova fase da Lava Jato, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi levado à Polícia Federal para prestar depoimento. A polícia afirma que ele é um dos 11 novos operadores investigados por intermediar o pagamento de propina a agentes públicos das estatais. Com Vaccari, a polícia esperava obter informações sobre doações ao partido por empresas que mantinham contrato com a Petrobras. "Nem sempre essas doações passam pelo caminho legal", afirmou o procurador Carlos Fernando Lima. Segundo o delegado Igor Romário de Paula, Vaccari foi conduzido para esclarecer o "pedido de doações legais e ilegais" ao PT, feito por ele tanto a pessoas que tinham contratos com a Petrobras quanto a quem não tinha. Vaccari chegou à sede da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, na Lapa, por volta das 9h30 e deixou o local de táxi, às 12h30, acompanhado por um advogado. As informações sobre os pedidos partiram de colaboradores da investigação, como o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que firmou acordo de colaboração premiada com a Justiça. Na delação, Barusco estima que o PT tenha recebido entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões entre 2003 e 2013 de propina retirada dos 90 maiores contratos da Petrobras. O delator disse que o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, teve "participação" no recebimento desse suborno e ficou, até março de 2013, com US$ 4,5 milhões. Ainda segundo ele, em outra fase, houve pagamentos até fevereiro do ano passado. O depoimento foi prestado no dia 20 de novembro último e veio à tona nesta quinta-feira. A grande dificuldade da Polícia Federal, agora, será identificar essas doações ilegais, feitas na maioria das vezes com dinheiro vivo, segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. "Isso é muito difícil de rastrear. Essa verificação é que será feita a partir de hoje", afirmou. Além dos depoimentos dos colaboradores, a investigação ira atrás de extratos da movimentação bancária dos operadores e empresários envolvidos, além de registros de visitas para a entrega do dinheiro. "A prova, basicamente, será indiciária", afirma Santos Lima.

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