sábado, 7 de fevereiro de 2015

Três de dez conselheiros da Petrobras votaram contra o petista Aldemir Bendine, o "amigo" da socialite Val Marchiori

O nome de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras não teve aprovação de todos os integrantes do Conselho de Administração da estatal. O placar ficou em 7 votos a favor contra 3 contra. Mauro Cunha, que representa os acionistas donos de ações ordinárias, José Guimarães Monforte, representante dos donos das preferenciais (ambos representam os acionistas minoritários), e Silvio Sinedino, eleito pelos trabalhadores, deram voto contrário à escolha da presidente Dilma Rousseff para o cargo. Dentro do colegiado, apenas esses três membros são considerados independentes pelo mercado. Os votos de todos os dez integrantes do conselho têm o mesmo peso. O nome de Bendine também desagradou o corpo técnico da Petrobras e os investidores. As ações da estatal caíram quase 7%. Para o mercado, a indicação do ex-presidente do Banco do Brasil, "amigo íntimo" da socialite Val Marchiori, significa que o governo vai continuar interferindo diretamente na gestão da estatal. Além disso, o executivo tem sua credibilidade questionada por conta de pendências com a Receita Federal, acusações de um ex-motorista e um empréstimo nebuloso para a socialite Val Marchiori. O governo federal é o acionista controlador da estatal. Presidido pelo ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, o conselho é formado em sua maioria por nomes indicados pelo governo. Os outros sete membros são: os ex-ministros Guido Mantega e Miriam Belchior; o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Marcio Zimmermann; o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que chegou a ser cotado para o cargo; o general Francisco Roberto de Albuquerque; o vice-presidente da Fundação Getulio Vargas, Sérgio Quintella; além da agora ex-presidente da Petrobras, Graça Foster, que cedeu sua vaga para Bendine no colegiado. Os quatro primeiros sempre votam "em bloco". Na última reunião, que avaliou o balanço da Petrobras, Quintella e Graça divergiram do "bloco" em relação à divulgação dos R$ 88,6 bilhões de sobrevalorização dos ativos da Petrobras. A publicação do número irritou Dilma e a levou a aceitar a entrega do cargo feita pela petista Graça Foster, a quarta desde dezembro. Conforme informou a Petrobras, o nome do ex-presidente do Banco do Brasil para presidir a empresa foi eleito "por maioria" do conselho. O conselheiro Mauro Cunha, que raramente comenta publicamente a respeito da Petrobras, divulgou nota, no fim da tarde, em que considerou a eleição de Bendine "mais um episódio de desrespeito ao Conselho de Administração". Afirmou, ainda, que "o controlador mais uma vez impôs sua vontade sobre os interesses da Petrobras". "Os conselheiros tomaram conhecimento do nome do novo Presidente da Companhia pela imprensa, antes do assunto ser discutido. Eu gostaria de dizer em público as verdades que pus em ata, mas correria o risco de sofrer retaliações, como já sofri no passado", disse. Afirmou, ainda, que foram ignorados "os apelos de investidores de longo prazo". "Como diz o Fato Relevante, a decisão foi por maioria, e não por unanimidade - de onde se pode concluir a posição desde conselheiro". Também em nota, Sinedino criticou o nome imposto pelo governo. "As indicações por partidos políticos, como a Polícia Federal e a Justiça vêm demonstrando, acabam cobrando um alto preço em corrupção e malfeitos". Ele chegou a sugerir na reunião do conselho que a diretoria da Petrobras fosse escolhida pelo governo federal entre uma lista triplice apresentada pelos trabalhadores. Mas a proposta, elaborada em conjunto com as associações sindicais do setor, não prosperou. Era só o que faltava, eleger uma diretoria formada por funcionários petralhas. A eleição dos demais membros da diretoria, escolhidos para ocupar os lugares deixados pelos diretores que pediram demissão junto com Graça Foster, também foi "por maioria", e não por unanimidade. Ivan Monteiro, atual vice-presidente de Finanças do Banco do Brasil, será o novo diretor financeiro da Petrobras. O cargo é chave para enfrentar a atual crise pela qual a petroleira passa. O conselho também definiu quem serão os novos diretores da Petrobras que ocuparão o lugar daqueles que renunciaram. Solange da Silva Guedes, atual gerente-executiva de Exploração e Produção Corporativa, será a nova diretora de Exploração e Produção, em substituição a José Miranda Formigli Filho. Jorge Celestino Ramos, atual gerente-executivo de Logística do Abastecimento, ocupará a diretoria de Abastecimento em substituição a José Carlos Cosenza. Hugo Repsold Júnior, gerente-executivo de Gás e Energia Corporativo, será diretor de Gás e Energia em substituição a José Alcides Santoro Martins. Roberto Moro, hoje gerente-executivo de engenharia para Empreendimentos Submarinos, ocupará a diretoria de Engenharia, Tecnologia e Materiais em substituição a José Antônio de Figueiredo. Dentre todos os problemas da Petrobras, o mais urgente nó a ser desfeito pela nova diretoria da Petrobras é a publicação do balanço auditado com o lançamento das perdas decorrentes da corrupção. É crucial para a Petrobras ter o balanço auditado por dois motivos: sem o aval da auditora independente PwC (PricewaterhouseCoopers), a estatal fica em risco iminente de perder o grau de investimento para a sua nota de crédito e pode ter parte de sua dívida cobrada imediatamente, antes do vencimento. No dia 3 deste mês, a agência de risco Moody's deu 30 dias para a estatal publicar os dados, sob o risco de perder a nota de investimento. A Fitch também rebaixou a classificação de risco da Petrobras para o último passo antes de risco especulativo - muitos fundos não aplicam seus recursos em ações e títulos de empresas com essa avaliação. Resumindo: não mudou nada, continua a petralhada mandando na Petrobras. O destino da estatal é trágico.

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