sexta-feira, 13 de março de 2015

Argentina abre todos os arquivos do atentado antissemita de 1994




O governo argentino tornou oficial uma promessa que já havia feito e que não há garantia nenhuma de que irá cumprir: um decreto que prevê a liberação dos arquivos completos da investigação do atentado de 1994 contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) foi publicado no Diário Oficial nesta sexta-feira. O texto prevê a desclassificação (retirada da confidencialidade) "da totalidade da documentação" relacionada ao ataque, assim como "de toda outra nova documentação, relatório ou arquivo que não tenham sido fornecidos oportunamente ao caso e que possam ser de interesse para a investigação". O atentado contra a Amia deixou 85 mortos e mais de 300 feridos. O decreto responde a um pedido da promotoria argentina, que tomou as rédeas da investigação após a morte do procurador-geral Alberto Nisman, que investigava o caso desde 2004. Nisman foi encontrado morto com um tiro na cabeça em seu apartamento no dia 18 de janeiro em circunstâncias que ainda são investigadas. O corpo foi encontrado dias depois da apresentação de uma grave denúncia contra a presidente Cristina Kirchner e vários apoiadores, segundo a qual o governo teria trabalhado para encobrir iranianos envolvidos no atentado. O vice-presidente da Delegação de Associações Israelitas Argentinas, Waldo Wolff, celebrou a decisão, embora tenha levantado dúvidas sobre a confiabilidade dos arquivos que estão em poder da central de espionagem argentina. "Para além de celebrar toda informação nova que possa vir, o que está em questão é a veracidade da informação, entendendo que o governo que abriu a documentação hoje é acusado de ser parte de um aparato que não tinha controle", disse à Radio Mitre, referindo-se ao relatório do procurador-geral que acusa a presidente. No dia seguinte à morte de Nisman, em meio à comoção em torno do caso, o chefe da Secretaria de Inteligência, Oscar Parrilli, enviou ofício à juíza Servini de Cubría autorizando a liberação dos documentos que o procurador solicitara. Nisman havia solicitado acesso a "identificações, ações, fatos e circunstâncias correspondentes ao pessoal de inteligência que surgem do produto das intervenções telefônicas" constantes da denúncia. A questão dos documentos secretos voltou à tona no dia 1º de março, quando Cristina fez seu último discurso diante do Congresso na abertura das sessões legislativas. Enquanto a ela falava, parlamentares opositores mostraram cartazes reforçando a questão: "Amia - Abertura de arquivos", dizia um dos cartazes, irritando a presidente. Nesta sexta, como era de se esperar, o governo fez propaganda da publicação do decreto, por meio do chefe de Gabinete, Aníbal Fernández. "Essa desclassificação foi feita há muitos anos, primeiro para quem tinha de investigar 'prima facie', como o promotor Nisman", disse a jornalistas. "O que foi feito no dia de ontem, por decisão da presidente, foi tornar pública (a documentação) para que possam ter acesso, por exemplo, os familiares (das vítimas do atentado), de tal forma que ninguém que duvide que a informação existente foi alvo de inquietação para o governo".

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