terça-feira, 10 de março de 2015

Delator da Lava Jato depõe na CPI da Petrobras e diz que está "aliviado" por devolver dinheiro de propina

O engenheiro Pedro Barusco disse estar aliviado por ajudar no repatriamento do dinheiro que possui em contas no Exterior. Ao responder uma pergunta do relator da CPI da Petrobras, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), ele disse que entrou em um “caminho sem volta”. ”Eu tive a fraqueza de começar. Primeiro, eu fiquei feliz (com as contas no Exterior) e isso virou um pânico. Agora estou aliviado por estar ajudando na repatriação. Eu não recomendo para ninguém. É muito doloroso”, disse.


Barusco está prestando depoimento desde as 11 horas à CPI da Petrobras e, até o momento, confirmou tudo o que afirmou nos depoimentos que prestou à Justiça Federal no processo de delação premiada decorrente da Operação Lava Jato. Ele ratificou que recebeu cerca de US$ 97 milhões em propinas de 2003 a 2011, quando trabalhava na Petrobras, e entre 2011 e 2013, período em que ocupou uma diretoria na empresa privada Setebrasil, constituída para construir sondas de perfuração do pré-sal e financiada com recursos públicos – do BNDES e fundos de pensão. Barusco repetiu que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, recebeu algo entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propinas no período, e que esse dinheiro era recebido em nome do PT. Ele disse não saber se havia alguém acima de Vaccari. Falou que conheceu o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, mas que manteve com ele apenas relações profissionais, e que conheceu o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, mas nunca discutiu propina com ele. O engenheiro apontou a formação de cartel de empreiteiras em obras como as das refinarias Abreu e Lima e do Complexo Petroquímico do Rio e Janeiro (Comperj) - nos depoimentos ele fala ainda que o mesmo aconteceu em relação às refinarias Replan, Revap, Reduc, Relan e Repar. Barusco também disse que o mesmo esquema funcionou em relação à construção do gasoduto Gasene, que liga o Espírito Santo à Bahia. Ao responder pergunta feita pelo deputado Bruno Covas (PSDB-SP), disse que os mil quilômetros de gasoduto foram divididos em vários trechos, cada qual dividido entre empresas, como as construtoras Bueno e Galvão Engenharia. Assim como acontecia nos demais contratos, ele disse que as obras da Gasene eram divididas da seguinte forma: metade para ele e o ex-diretor Renato Duque e a outra metade para Vaccari. Ao responder perguntas do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), ele mencionou partidos destinatários da propina. “Até onde eu sabia a propina ia para o PP, PMDB e PT”, disse. Ele detalhou o processo de constituição da empresa Setebrasil, que geriu contratos no valor de US$ 22 bilhões com a Petrobras para a construção de sondas de perfuração. Ele confirmou que Vaccari pediu uma propina de valor muito elevado e que o repasse acabou reduzido em 0,1%. Nos depoimentos judiciais, ratificados por ele, Barusco afirmou que a propina era distribuída da seguinte maneira: 2/3 para Vaccari e 1/3 para a “Casa” – ou seja, para os diretores da Setebrasil: Barusco, João Carlos de Medeiros Ferraz (presidente da Setebrasil) e Eduardo Musa (diretor de Participações). A propina destinada a Vaccari tinha origem nos contratos firmados entre a Setebrasil e os estaleiros Atlântico Sul, Enseada do Paraguaçu, Rio Grande e Kepel Fels. A propina destinada à “Casa” tinha origem nos contratos firmados entre a Setebrasil e os estaleiros Kepel Fels e Jurong. Ele acrescentou que cada empresa que participava do esquema tinha um operador próprio. Ele mencionou os nomes de Shinko Nakandakari (operador da Galvão Engenharia, EIT e Contreiras) e Mário Goes (operador da UTC, MPE, OAS, Mendes Júnior, Andrade Gutierrez, Schain, Carioca e Bueno Engenharia). Nos depoimentos, Barusco menciona ainda Júlio Gerion de Almeida Camargo (operador da Toyo e da Camargo Correia).

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