segunda-feira, 16 de março de 2015

Executivo da Camargo Corrêa delatou como o tesoureiro petista João Vaccari cobrava propina


O vice-presidente comercial da construtora Camargo Corrêa, Eduardo Leite, foi fundamental para o Ministério Público constatar que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, cobrava propina em pagamentos disfarçados de doações partidárias. Segundo o procurador federal Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, Leite confirmou o que inúmeros outros delatores já diziam: em depoimento de delação premiada, relatou que se encontrou pessoalmente com Vaccari e que o petista cobrou sua fatia do suborno distribuído pela empreiteira em troca de facilidades em obras da Petrobras. O tesoureiro ainda apresentava a solução mágica para não levantar pistas, segundo Leite. Era simples: parte da propina, originada de verba desviada da estatal, poderia ser paga na forma de contribuições oficiais, devidamente registradas na Justiça Eleitoral. "O colaborador Eduardo Leite afirmou textualmente que se encontrou com Vaccari e que ele lhe pediu doações eleitorais a título de propina", afirmou Dallagnol. Vaccari usava o mesmo disfarce - contribuições eleitorais declaradas - para receber propina de diversas empreiteiras. De acordo com as investigações, ele chegava a se encontrar com executivos das empresas, acompanhado do ex-diretor de Serviços da estatal, o petista Renato Duque, e do ex-gerente de Serviços, Pedro Barusco. Nesta segunda-feira Vaccari foi denunciado com outras 26 pessoas por desviar verbas em quatro obras da Petrobras, todas tocadas por OAS, Mendes Júnior e Setal. O Ministério Público mapeou a data das doações eleitorais e comparou com o dia de cada pagamento da Petrobras feito para as empresas envolvidas no esquema. Uma doação de 500.000 reais liberada por uma empresa de Augusto Mendonça Neto (sócio da Setal Óleo e Gás) para o Diretório Nacional do PT, por exemplo, saiu no dia 7 de abril de 2010, menos de uma semana depois de o consórcio Interpar - formado por Mendes Júnior, Setal Óleo e Gás e MPE - receber um desembolso de 38 milhões de reais da Petrobras. Vaccari intermediou, pelo menos, doações de 4,2 milhões de reais de empresas investigadas que, na verdade, eram oriundos do propinoduto da Petrobras. Foram 24 repasses de empreiteiras, em dezoito meses, no período de 2008 a 2010. "Há doações para o Diretório Nacional do PT e três ou quatro para diretórios locais", afirmou o procurador Deltan Dallagnol. As contribuições foram feitas a pedido do petista Renato Duque. Não faltaram menções à atuação criminosa de Vaccari ao longo da investigação. Os principais delatores relataram a participação do petista no petrolão. O doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, o empresário Augusto Mendonça Neto e o lobista Júlio Camargo já tinham envolvido Vaccari no esquema. O ex-gerente Pedro Barusco foi o mais detalhista, ao ponto de especificar a fatia repassada ao PT em cada contrato. Barusco chegou a estimar que Vaccari desviou até 200 milhões de dólares para o PT pelo propinoduto. Mas o depoimento de Leite, da Camargo Corrêa, foi decisivo para não deixar dúvidas da conduta criminosa do tesoureiro. 

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