quinta-feira, 19 de março de 2015

Os delírios ditatoriais do bolivariano Rui Falcão. Ou: Congresso vai convocar a Secom a explicar a explicitação de crimes contida em documento?

Um dia depois de ter vindo a público o documento aloprado da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), que admite usar pistoleiros da Internet, que chama “soldados”, para “disparar munição” do governo, ficamos sabendo que Rui Falcão, presidente do PT, quer que o Planalto corte verba de publicidade oficial das emissoras que “apoiaram” ou “convocaram” a manifestação de protesto do dia 15.

Nota: ninguém nem apoiou nem convocou. Veículos de comunicação noticiaram a convocação e cobriram o evento, como fizeram com o “protesto a favor” do dia 13, organizado pela CUT, pelo PT e por partidos e entidades de esquerda.

E daí? Rui Falcão não está tentando ser justo. Ele está sendo apenas petista. Isso quer dizer o seguinte: se eles estão no governo e se a verba de publicidade existe, então esse dinheiro pertence ao PT e pode ser usado para punir os que considera adversários e beneficiar os amigos.

Vejam que curioso. No fim das contas, o que é o petrolão senão rigorosamente isto: a apropriação do que é público por entes privados, em nome de uma causa? Sim, claro!, havia os que roubavam apenas em nome do próprio enriquecimento. Mas só um rematado canalha faria uma distinção moral entre os dois ladrões, não é?, o que rouba para si e o que rouba para financiar uma suposta utopia.

A propósito e antes que continue com Falcão: o Congresso brasileiro estará se desmoralizando se não chamar o titular da Secom — Thomas Traumann ou quem estiver no seu lugar — para se explicar. Qual é a relação entre o governo federal e os ditos “blogs progressistas”, também chamados de blogs sujos? Quanto isso custa por mês? Que tipo de “munição” o governo federal fornece a eles? Os ataques sistemáticos que fazem a membros do Supremo, órgãos de imprensa, jornalistas, políticos de oposição e também da base — especialmente os do PMDB — estão n0 preço? Parece que sim, não é?

Que critério o governo emprega para distribuir essa verba? Número de acessos? Alinhamento ideológico? Simpatia pessoal? Outro ainda mais inconfessável? E que se lembre: a Secom defendia no texto outros procedimentos ilegais, como usar a estrutura de comunicação estatal para o proselitismo pró-governo e empregar verba oficial para elevar a popularidade do prefeito Fernando Haddad.

Quanto a Falcão, dizer o quê? Quando esses caras são acusados de tentações bolivarianas, reclamam. E logo surge algum bobalhão da academia ou alguma Poliana lesada da imprensa para marcar as diferenças. Ora, claro que há diferenças. Mas, como fica evidente, o petismo só não involui para o bolivarianismo porque as instituições brasileiras não permitem, não porque os companheiros não queiram. Eles querem. O uso que fazem da verba pública para beneficiar apaniguados é a prova mais evidente dessa tentação.

Que fique claro! O que está no documento da Secom é, entendo, a admissão de práticas criminosas, que Rui Falcão pretende ampliar. Qualquer critério de distribuição de verba oficial de publicidade que não leve em conta a eficiência do veículo na comunicação com o público — refiro-me a número de telespectadores, leitores, internautas, ouvintes etc. — é uma fraude e é pratica similar ao roubo.

O dinheiro pertence à sociedade, não aos governantes. E é essa sociedade que decide, no que respeita à publicidade, quem é e quem não é relevante. Se o PT quer pagar os blogs sujos, que o faça com o seu dinheiro, não com o da população. Se o PT quer a simpatia de emissoras de televisão, que compre lá um horário, em vez de empregar a verba de publicidade, que é disciplinada pela Constituição e pelas leis.

Um governo chega, às vezes, ao grau zero da articulação. Foi o que se viu nesta quarta-feira com o espetáculo patético protagonizado por Cid Gomes (PROS), em boa hora já ex-ministro da Educação. Numa palestra, o homem disse haver 300 achacadores no Congresso. Ainda que houvesse 400, na democracia, quando um ministro de estado diz algo assim, está obrigado a dar os nomes. Obviamente não tenho a menor simpatia por um ataque ao Legislativo bucéfalo como esse. Ele me remete aos “300 picaretas” que Lula dizia existirem no Parlamento brasileiro em 1993. Ganhou até uma música de um grupo de rock. Vinte e dois anos depois, o PT está no 13º ano de poder e já tem nas costas o mensalão e o petrolão.

Ademais, quem é Cid para falar? Não ocupava a pasta em razão de alguma especial inclinação para a área. Estava lá em razão de um acordo político. O ministério lhe foi dado para beneficiar o tal PROS, um partido surgido do nada — do troca-troca indecoroso que a legislação permite —, com o único propósito de participar dos despojos da balcanização que toma conta da política brasileira. O Cid que foi demitido nunca deveria ter sido convidado.

É evidente que o homem deveria se desculpar. Em vez disso, resolveu ter um chilique e enfiar o dedo na cara do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de quem ele tem o direito de não gostar. Mas deve respeito à função institucional do outro, ora essa! Daqui do meu conservadorismo, pouco me importam disposições subjetivas e esferas de opinião. A instituição tem de ser preservada. O fato de haver um pedido de inquérito para investigar Cunha não dá a um ministro de estado o direito se portar como um vândalo.

E aconteceu, então, o inédito. Tão logo Cid deixou o Congresso, com uma claque importada do Ceará a acompanhá-lo, Cunha foi ao Palácio do Planalto e voltou com o anúncio: o homem tinha sido demitido. Na verdade, ele sabia que já chegara com o emprego por um fio. Mas sabem como é… Os Gomes, do Principado de Sobral, nunca se dobram nem — ou muito especialmente — às regras do decoro.

Nunca se tinha visto nada parecido. Dilma ficou, obviamente, sem opção. O PMDB avisou: se Cid Gomes ficasse no cargo, o partido abandonaria o barco do governo. É evidente que Dilma não precisava de mais essa crise. Cid sai em meio à lambança no Fies, o programa que financia o terceiro grau em instituições privadas, que alcança agora cifras estratosféricas.

Foi um espetáculo patético. Cid foi demitido, na prática, por Cunha — e muito bem demitido, diga-se. Saiu de lá em seu próprio carro, aplaudido por aqueles que havia levado para aplaudi-lo. O Brasil é um país valente. É impressionante que sobreviva. Por Reinaldo Azevedo

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