terça-feira, 3 de março de 2015

Petrobras foi liberada para captar até US$ 19 bilhões este ano


A Petrobras foi liberada para buscar financiamento, ainda neste ano, de até 19 bilhões de dólares. A cifra corresponde a 14% do endividamento total da estatal, que soma 130 bilhões de dólares, segundo fonte diretamente envolvida nas negociações. A captação foi aprovada na última reunião do conselho de administração da empresa. Apesar do aval dos controladores,ainda não há uma definição sobre o modelo da operação, que está sendo desenhado pela nova diretoria financeira, liderada por Ivan Monteiro. A decisão de ir ao mercado em 2015 atrás de recursos indica uma mudança de rota na companhia. Na gestão da ex-presidente Graça Foster, que deixou a Petrobras no mês passado, a ordem era passar o ano sem tentar acessar o mercado e viver exclusivamente do dinheiro que possui em caixa, para evitar pagar os juros altos que serão cobrados diante das incertezas impostas à empresa pela Operação Lava Jato, que investiga o megaesquema de corrupção na estatal. O mercado não tem conhecimento do real tamanho do patrimônio da petroleira, depois que vieram à tona denúncias de que muitos projetos foram alvo de corrupção e superfaturados. Além disso, com a queda livre no preço do petróleo, a tendência é de que o crédito às empresas do setor de petróleo e gás fique mais escasso. Apesar disso,a equipe do atual presidente da Petrobras, o petista Aldemir Bendine (amigão da Val), tem outra visão: de que o caixa está muito apertado para dar conta de todos os investimentos que a Petrobras tem pela frente em um curto espaço de tempo. Já em 2016, terá que comprar equipamentos caros para avançar na exploração do campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, considerado a grande oportunidade de fazer dinheiro a custo baixo, em relação à média dos campos da estatal. Se mantiver o cronograma, a empresa conseguirá começar a produzir e melhorar suas condições financeiras em 2018 ou 2019, um horizonte pequeno na indústria do petróleo. Enquanto as finanças da Petrobras estavam nas mãos de Graça Foster, a intenção era recorrer à ajuda de bancos públicos, estimada em no máximo 6 bilhões de reais. Esse plano foi descartado por Monteiro. A estatal está disposta a enfrentar as adversidades do mercado para ter acesso a financiamentos em pouco tempo. "O valor de 19 bilhões de dólares é o que está autorizado para captação. Mas não quer dizer que a empresa conseguirá reunir esse dinheiro", afirmou a fonte. A publicação do balanço financeiro de 2014 pela Petrobras é a peça chave para que a estatal consiga acessar o mercado de crédito internacional neste ano. Um analista de um grande banco privado que não quis se identificar pondera ainda que, mesmo que consiga acessar o mercado, a elevação do endividamento da petroleira comprometerá ainda mais seu nível de alavancagem (relação entre patrimônio e dívida), o que pode motivar novos rebaixamentos de nota por agências de classificação de risco, além da Moody's, que já cassou o selo de grau de investimento da empresa. O indicador de alavancagem é um dos mais observados pelas agências de risco na hora de bater o martelo sobre a nota de cada empresa. Sem o aval da agência e com dificuldades de mensurar o seu patrimônio, a perspectiva é de que a Petrobras pague muito mais caro pelo financiamento do que no passado, quando conseguiu fechar captações com juros inferiores aos praticados no mercado interno, de cerca de 4% ao ano. "Já há um movimento local de aversão ao risco que, somado a todas as dificuldades da Petrobras e à queda do preço do petróleo, torna as condições de financiamento uma incógnita", avalia o economista-chefe da RC Consultores, Thiago Biscuola. Em sua opinião, já era esperado que a Petrobras recorresse ao mercado neste ano. A avaliação se a medida é positiva ou não, diz o economista, está vinculada às condições da operação, que ainda é uma incógnita, mesmo dentro da empresa.

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