sábado, 7 de março de 2015

Siderúrgica da Vale pode levar US$ 1 bilhão do BNDES

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está analisando um empréstimo de pelo menos US$ 1 bilhão (R$ 3 bilhões) à Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará. Sociedade entre a Vale (50%) e as sul-coreanas Dongkuk (30%) e Posco (20%), a usina tem o início da produção previsto para 2016. No momento em que o mundo convive com um excedente de capacidade de 600 milhões de toneladas de aço, a CSP é um dos raros projetos do setor que caminham para sair do papel. O investimento total está estimado em US$ 4,86 bilhões. As negociações do empréstimo de longo prazo estão avançadas e a expectativa é que a operação seja finalizada ainda no primeiro semestre. Além do BNDES, bancos comerciais e agências de crédito coreanas como a Korea Trade Insurance Corporation (Ksure) e o Korea EximBank devem complementar o financiamento, dizem fontes próximas às negociações. O valor total a ser aprovado ainda está em análise, porque pode incluir o pagamento de empréstimos-ponte anteriores. Se aprovado, este pode ser um dos últimos financiamentos de grande porte do BNDES para a indústria em 2015, já que a ordem no governo é fechar as torneiras do banco de fomento. Em janeiro, o banco francês BNP Paribas aprovou um empréstimo-ponte de US$ 240 milhões por seis meses para a construção da usina, o segundo do projeto. O primeiro, no valor de US$ 900 milhões, foi contratado pela CSP com um pool de bancos formado por Santander, HSBC e as instituições financeiras coreanas Korea Finance Corporation (KoFC) e Nonghyup Bank. Além de US$ 1,2 bilhão injetado via financiamentos de curto prazo, cerca de US$ 2 bilhões em capital próprio já foram aportados pelos acionistas na CSP. Desse montante, a Vale investiu US$ 1 bilhão desde 2011. Em 2015, a mineradora planeja destinar US$ 185 milhões ao projeto, uma pequena parte de seu orçamento anual de US$ 10 bilhões. Em um cenário de derrocada dos preços do minério de ferro, que beiram a mínima histórica, a Vale tem frisado o foco no aumento da produção e da qualidade da commodity, seu carro-chefe, concentrando esforços na conclusão dos projetos S11D, em Carajás, e Itabiritos, nos Sistemas Sul e Sudeste. Os recursos concedidos à CSP estão sendo investidos na construção da planta, localizada na cidade de São Gonçalo do Amarante, no Ceará. Segundo a empresa, 60% das obras, tocadas pela Posco E&C, já foram concluídas. Além disso, 94% dos equipamentos estão comprados, inclusive o alto-forno importado da Coréia do Sul. No dia 22 de janeiro, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, participou da cerimônia de assentamento do alto-forno 1 da siderúrgica, ao lado dos presidentes da Dongkuk, Sae-Joo Chang, e da Posco, Jin Il Kim. A siderúrgica terá capacidade para produzir 3 milhões de toneladas de placas de aço por ano. A viabilidade da usina em um momento de preços deprimidos e demanda fraca está calcada em contratos firmes de 15 anos com os próprios sócios. Os coreanos se comprometeram a comprar 80% da produção anual - 1,6 milhão de toneladas pela Dongkuk e 800 mil toneladas pela Posco. As outras 600 mil toneladas cabem à Vale. Uma das hipóteses é que a brasileira destine as placas à California Steel, usina americana da qual é sócia. A CSP é o único empreendimento de siderurgia que ainda consta na lista de projetos da Vale. Há algum tempo a mineradora vem enxugando a área: paralisou o desenvolvimento da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), no Espírito Santo, por falta de um parceiro, e pôs em revisão o cronograma da Companhia Siderúrgica do Pará (Alpa), por dificuldades logísticas. Na virada de 2012 para 2013, a Vale extinguiu o cargo de diretor global de siderurgia, então ocupado por Aristides Corbellini. O freio veio em resposta à falta de perspectivas no setor e à estratégia da Vale na gestão de Murilo Ferreira: manter a disciplina de capital e se ater ao seu principal negócio. No passado, a falta de investimentos no setor siderúrgico foi um dos ingredientes no embate entre o governo federal e o ex-presidente da Vale, Roger Agnelli. Na época, o então presidente e alcaguete Lula (ele delatava companheiros para o Dops paulista durante a ditadura militar, conforme Romeu Tuma Jr, em seu livro "Assassinato de reputações") batia na tecla de que a Vale deveria ajudar a agregar valor à pauta comercial do País, transformando minério em aço para exportação. Em 2010, Agnelli chegou a incluir no orçamento investimentos em quatro usinas - Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), CSU, Alpa e CSP -, mas apenas a CSA, parceria com a alemã ThyssenKrupp, se concretizou. Ainda assim, se mostrou um mau negócio. No fim de 2012, a Vale decidiu realizar uma baixa contábil de US$ 583 milhões, referente à sua participação de 26,87% no projeto, do qual a ThyssenKrupp tentou se desfazer sem sucesso.

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