quinta-feira, 9 de abril de 2015

Na CPI, Vaccari expõe nervosismo e admite encontros com Renato Duque e Barusco


O tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, falou nesta quinta-feira à CPI da Petrobras por quase oito horas. Apesar de ter negado todas as acusações de que arrecadava propina para o partido, Vaccari expôs seu nervosismo e distribuiu respostas evidentemente ensaiadas com sua defesa. Ainda assim, deu informações importantes: admitiu ter ido ao escritório do doleiro Alberto Youssef e reconheceu ter mantido encontros com o ex-diretor Renato Duque e o ex-gerente Pedro Barusco, indiciados por participarem do esquema de divisão de propina. Trêmulo e nervoso, Vaccari agiu sempre na defensiva. Não demonstrou qualquer indignação a respeito das acusações feitas contra ele. Não respondeu nem mesmo quando foi chamado de "criminoso" e "Pinóquio". Por diversas vezes, deixou transparecer o roteiro combinado para evitar surpresas. Proferiu incontáveis vezes uma frase genérica quando confrontado com questionamentos sobre fatos concretos: "As afirmações dos delatores sobre a minha pessoa não são verdadeiras". O líder do PT, o folclórico Sibá Machado (AC) permaneceu ao lado do advogado de Vaccari, Luiz Flávio D'Urso, na mesa da CPI. Indagado pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), Vaccari acabou admitindo que esteve no escritório do doleiro Alberto Youssef - embora tenha dito que não se reuniu com o criminoso. "Eu estive no escritório dele, mas ele não estava presente". O tesoureiro ponderou que esteve só uma vez na empresa do doleiro, mas que na ocasião ele não estava no local. "Foi uma visita que, entre chegar, subir e descer, demorou quatro minutos", declarou. O depoente apresentou a inverossímil explicação de que foi convidado por Youssef para comparecer, e que se deslocou até o escritório sem ter sido informado sobre qual seria o tema do encontro. "Essa dúvida eu também tenho", afirmou. A sequência de perguntas de Sampaio foi a mais tensa, com várias interrupções e protestos de petistas contra os termos usados pelo tucano contra o tesoureiro. Carlos Sampaio encerrou sua participação com um último golpe: "O senhor tem tudo para ser preso e o PT, extinto", disse ele. Ao longo do depoimento, Vaccari não conseguiu disfarçar o nervosismo. Com as mãos trêmulas e gaguejando, ele se enrolou ao tentar responder se foi beneficiado com dinheiro fraudulento oriundo das obras no Gasene, conforme o ex-gerente da estatal Pedro Barusco afirmou à CPI em março. O deputado Bruno Covas (PSDB-) foi direto na pergunta: "O senhor confirma ou nega o recebimento de propina no Gasene?". Vaccari disse: "Conheci o Barusco quando ele já tinha se aposentado. Sou tesoureiro do PT desde 2010, então com certeza não participei". O parlamentar tucano rebateu: "Então o senhor confirma ou nega?". Vaccari novamente tergiversou, evitando dar uma resposta pontual: "Vou reafirmar que conheci o Barusco somente em 2010. As declarações que foram feitas nas delações premiadas não são verdadeiras". A mesma pergunta foi feita pelo menos quatro vezes, mas o tesoureiro petista desconversou em todas. Em outro momento, o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) perguntou ao petista se ele conhecia os hotéis e restaurantes onde, segundo o ex-gerente Pedro Barusco, a divisão da propina era negociada com a presença de Vaccari. O petista confirmou conhecer o hotel Windsor Copacabana, no Rio de Janeiro. Em seguida, negou ter jantado lá com Barusco ou o ex-diretor Renato Duque. Mas, quando Otávio Leite lembrou que a CPI já pediu as imagens que podem comprovar os encontros, Vaccari mudou a resposta: "Não me recordo". Vaccari também foi evasivo ao ser questionado se estaria disposto a fazer uma acareação com Pedro Barusco. Após consultar o advogado, disse que não cabe a ele fazer essa determinação e fugiu da resposta. "Desde o início do processo, sempre me coloquei à disposição das autoridades competentes para que fossem dados todos os esclarecimentos", repetiu. O tesoureiro admitiu conhecer o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, apontado nas investigações como uma espécie de sócio do petista na divisão da propina. Mas negou ter tratado de qualquer assunto financeiro com ele. O tesoureiro fez o mesmo ao se referir a Pedro Barusco, ex-gerente da Diretoria de Serviços que admite ter dividido propina com Duque e Vaccari. O tesoureiro do PT disse que se encontrou "algumas vezes" com Barusco, que relata encontros frequentes com o petista para tratar da divisão do dinheiro. A resposta foi parecida quando o relator da CPI, Luiz Sérgio, perguntou sobre o relacionamento de Vaccari com outros envolvidos no esquema, como os ex-diretores Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, o ex-presidente José Sérgio Gabrielli e os empresários Augusto Mendonça, Gerson Almada, Eduardo Leite e Ricardo Pessoa, investigados na Lava Jato. O petista repetiu que, apesar de conhecer essas pessoas, nunca tratou de assuntos ilícitos com elas. Aparentando insegurança, disse que as contribuições feitas por empresas ao Partido dos Trabalhadores ocorriam via transferência bancária, escrituradas e registradas na Justiça Eleitoral. "Sempre que fiz visitas às empresas ou pessoas físicas que fizeram doação, essas doações foram feitas de forma voluntária dentro da capacidade e da proposta que cada doador queira fazer, sem nenhum outro compromisso", disse ele. Em sua fala inicial, o petista gastou o tempo dando uma "aula" aos deputados sobre arrecadação de dinheiro para campanhas e partidos, como se os parlamentares não conhecessem os trâmites. Vaccari argumentou que as empresas investigadas na Operação Lava Jato doaram de forma semelhante para campanhas do PT, do PSDB e do PMDB. O petista tentou construir a insustentável tese de que as empresas citadas doaram para outros partidos e, portanto, todos estão no mesmo patamar ético. Em 2014, disse Vaccari, o PT obteve 25% de sua arrecadação por meio das empresas investigadas na Lava Jato. No PSDB, esse porcentual foi de 24%, e o PMDB obteve 21% da sua arrecadação das empresas que participaram do cartel. Inicialmente, o tesoureiro não fez menção aos depoimentos de executivos de empreiteiras delatores do petrolão, que o apontam como arrecadador de propina para o Partido dos Trabalhadores. Um grande tumulto precedeu o depoimento do petista: parlamentares bateram boca assim que o tesoureiro chegou ao colegiado e, pouco depois, ratos foram soltos na CPI. Vaccari obteve nesta quarta-feira um habeas corpus que o desobrigou de assinar um termo se comprometendo a dizer apenas a verdade na CPI, como é exigido dos depoentes. João Vaccari Neto é réu no escândalo do petrolão pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e formação de quadrilha. De acordo com denúncia apresentada pelo Ministério Público e acatada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o tesoureiro do PT recebeu propinas na forma de doação eleitoral registradas.

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