terça-feira, 14 de abril de 2015

Políticos investigados na Lava-Jato faziam romaria à Petrobras


Registros da Petrobras mostram que 26 de 48 políticos que agora são investigados no Supremo Tribunal Federal no âmbito da Operação Lava-Jato estiveram na estatal entre 2004 e 2014. Nesse período, foram 202 as visitas feitas por eles ao edifício-sede, no Rio de Janeiro. O mais requisitado pelos políticos foi o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, agora delator do esquema. Ele recebeu 17 políticos em 82 oportunidades até 2012, quando deixou o cargo. Há registros também de visitas de políticos ao ex-gerente, Pedro Barusco, e a mais dois ex-diretores denunciados: o petista Renato Duque e Nestor Cerveró. A informação sobre o entra e sai na Petrobras consta de uma das diligências requeridas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O pedido da Procuradoria Geral da República dos dados sobre a movimentação na Petrobras tem o objetivo de reforçar o teor das acusações feitas nas delações premiadas, principalmente a de Paulo Roberto. Na lista há parlamentares sem atuação direta na área de energia, o que poderia dar maior peso às acusações do ex-diretor de que era buscado por políticos interessados em receber propina. A utilização de dados sobre movimentações de políticos foi um dos eixos da denúncia do mensalão. Naquele caso, os dados do Banco Rural revelaram parlamentares que sacavam recursos do esquema na boca do caixa. O deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) foi quem mais esteve com Paulo Roberto Costa. Pelos registros da companhia, foi recebido 30 vezes pelo ex-diretor. Na sua delação, Costa qualificou Gomes como “representante” do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os encontros aconteceram de forma mais frequente a partir de 2008. Naquele ano, Gomes foi quatro vezes à Petrobras se encontrar com Paulo Roberto Costa. No ano seguinte, foram 12 visitas. Em 2010, oito. Em 2011, o deputado fez as últimas duas visitas a Costa, que deixou o cargo no ano seguinte. Em seus depoimentos, Paulo Roberto Costa conta que só conseguiu permanecer na função depois de 2007 por ter recebido o apoio político do grupo liderado por Renan Calheiros. Há registros ainda de quatro visitas de Gomes a Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras. O deputado Vander Loubet (PT-MS) foi quem fez o maior número de visitas à Petrobras. É o único dos 26 políticos que esteve com os quatro dirigentes denunciados da Lava-Jato. Ao todo, ele esteve na estatal 37 vezes entre 2004 e 2014. Com Costa foi apenas uma visita, em 2010. Em três oportunidades, foi recebido pelo petista Renato Duque; em duas, reuniu-se com Cerveró; e uma vez com Barusco. Nas outras visitas, foi recebido por servidores, entre eles um assessor do ex-diretor Guilherme Estrella, da área de Exploração. Loubet é ligado ao senador Delcídio Amaral (PT-MS), que teve a citação feita a ele arquivada. Na Lava-Jato, a atuação de Loubet é vinculada à do ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que fez 11 visitas à estatal, uma delas a Costa, em 2012, e outra a Duque, em 2010. As demais foram aos ex-presidentes José Eduardo Dutra e Graça Foster, e a funcionários de escalões inferiores. Partido responsável pela indicação de Costa em 2004, o PP tem o maior número de políticos que visitaram a Petrobras: 14. Onze deles se encontraram diretamente com o ex-diretor, inclusive o presidente do partido, Ciro Nogueira (PI). Das seis visitas de Nogueira, quatro foram a Costa. Ciro comanda o grupo do PP que venceu a batalha interna deflagrada após a morte do ex-deputado José Janene (PP-PR). Segundo o doleiro Alberto Youssef, Nogueira foi quem passou a decidir quem receberia propina na legenda. O atual líder do PP na Câmara, Eduardo da Fonte (PE), esteve 16 vezes na Petrobras e, em 12 oportunidades, foi recebido por Costa. Fonte esteve ainda com Pedro Barusco, em 2008. O parlamentar é apontado como um dos que recebia “mesada” do esquema de corrupção. Paulo Roberto Costa recebeu também visitas de caciques peemedebistas. O senador Valdir Raupp (RO), presidente interino do PMDB, esteve com ele em 2011. Nas outras quatro visitas à Petrobras, Raupp se reuniu com José Eduardo Dutra e Graça Foster e com o ex-gerente de Comunicação, Wilson Santarosa. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) foi outro cacique do partido que esteve com Costa (em 2010). O deputado José Mentor (PT-SP) teve três encontros com Costa, um em 2007 e outros dois em 2009. Mentor é o terceiro parlamentar mais presente na companhia, com 19 visitas, e esteve também quatro vezes com Renato Duque. As demais visitas de Mentor foram a Estrella, Dutra, Graça e outros funcionários de escalões inferiores. Os petistas foram os únicos políticos, entre os investigados, que foram recebidos por Duque, suposto operador do partido no esquema de corrupção. Além de Loubet, Mentor e Vaccarezza, o líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE), esteve com Costa em 2007, quando era secretário estadual em Pernambuco. Dois ex-deputados presos na semana passada — Pedro Corrêa e Luiz Argôlo (SD-BA) — também fizeram visitas à Petrobras. Há nos registros da companhia dados sobre políticos que não se encontraram com nenhum dos dirigentes sob suspeita. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), esteve na Petrobras somente uma vez, em 2004. Na ocasião, encontrou-se com o ex-presidente José Eduardo Dutra.

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