domingo, 17 de maio de 2015

A petista Graça Foster teve medo de ser presa, mostra gravação de reunião do conselho da Petrobras

A ex-presidente da estatal, a petista Graça Foster, dividiu com integrantes do Conselho de Administração da Petrobras preocupação até em ser presa e de ter que entregar bens durante reunião para discutir a baixa de valores em balanço da empresa devido à corrupção e desvalorização de ativos. No áudio e ata da reunião do dia 23 de janeiro, Graça e conselheiros conversaram sobre a metodologia usada para calcular os números que estimavam uma baixa de R$ 88,6 bilhões nos ativos da empresa. Os cálculos, desprezados posteriormente, foram feitos pela Deloitte e pelo BNP Paribas. Durante a reunião do dia 23, o conselheiro Francisco Roberto de Albuquerque perguntou se foi ponderado na metodologia apresentada quais riscos adicionais existiriam sobre processos judiciais no Exterior e no Brasil em relação à companhia. Graça Foster respondeu que não fora levado em conta na metodologia: "Se eu vou ser presa ou não, não entrou na metodologia. Se eu vou ter que entregar a casa que moro por conta desses valores, não entrou na metodologia. Fizemos as contas como as contas são". A ex-presidente da Petrobras relatou aos presentes que, na véspera, durante reunião da diretoria, fora admitido, do ponto de vista administrativo e interno da empresa, má gestão dos diretores e que todos deveriam ser demitidos. "Não é possível que essa diretoria, durante três anos, no meu caso e do (Almir) Barbassa, durante outros quatro anos, deixamos que tal coisa acontecesse. Eu posso dizer: não, mas eu era diretora de Gás e Energia e na área de Gás e Energia as coisas estão acomodadas. Mas eu, como diretora e presidente, não poderia ter deixado chegar aonde chegou". Em seguida, Graça Foster diz que, fora da companhia, os riscos eram outros: ''Aí até fala em prisão. Até fala em prisão tem aqui. Eu estou falando de uma metodologia 'by the book'. Agora, o que vai acontecer com meu emprego? Com a minha carreira? Com a minha vida pessoal? Eu não sei, tenho os advogados que vão dizer. A metodologia tem que ser imune aos meus medos e meus receios". O balanço auditado do terceiro trimestre deveria ter sido apresentado até 14 de novembro de 2014, mas não o foi porque não recebeu o aval da empresa de auditoria PwC (PricewaterhouseCoopers). Depoimento do ex-diretor Paulo Roberto Costa à Justiça, um mês antes, levou a PwC se recusar a assinar o documento até que o efeito da corrupção nos negócios da estatal fosse conhecido e eliminado. Após dois adiamentos, o balanço com os resultados do empresa no terceiro trimestre de 2014 foi divulgado no dia 28 de janeiro, mas ainda sem assinatura da PwC. A recusa persistia diante da dificuldade da empresa em contabilizar os desvios feitos pelo esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato e a perda de valor recuperável de alguns de seus ativos devido a falhas e sobrepreços nos projetos. O valor encontrado, de R$ 88,6 bilhões, acabou descartado porque, no entender dos conselheiros, incorporava perdas além da corrupção, como a desvalorização cambial e fatores de mercado. Em abril, a Petrobras divulgou perdas de R$ 6,2 bilhões em corrupção, R$ 44,6 bilhões em reavaliação de projetos e prejuízo de R$ 22 bilhões em 2014.

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