quarta-feira, 6 de maio de 2015

ENGEVIX AMEAÇA DEMITIR 7 MIL TRABALHADORES DOS SEUS ESTALEIROS DE RIO GRANDE


Em situação financeira desesperadora, o grupo Engevix deu um ultimato à Caixa Econômica Federal: cerca de sete mil trabalhadores do estaleiro controlado pela empresa no município de São José do Norte (RS) serão dispensados, nos próximos dias, caso o banco não libere imediatamente uma parcela de R$ 63 milhões retida desde outubro do ano passado para financiar a construção de navios-plataforma encomendadas pela Petrobras. Fontes ligadas à cúpula da empresa afirmam que ela chegou a uma situação "limite" e precisa urgentemente de dinheiro novo para assegurar sua sobrevivência. Um dos sócios da Engevix, José Antunes Sobrinho, está na China para negociar um empréstimo de US$ 230 milhões com bancos locais. A operação, segundo essas fontes, estaria praticamente fechada. Os chineses, porém, decidiram só concretizar o financiamento quando houver a liberação de crédito por instituições brasileiras. É por isso que a discussão do grupo com a CEF tornou-se ainda mais dramática. A Engevix detém 70% da Ecovix, controladora do estaleiro gaúcho, que tem oito encomendas para cascos de plataformas do tipo FPSO. Elas serão usadas na exploração de petróleo na camada do pré-sal. Além disso, havia contratos para três sondas com a Sete Brasil, que estão em compasso de espera. Os outros 30% da Ecovix pertencem a um consórcio de cinco empresas japonesas liderado pela Mitsubishi Heavy Industries. A CEF é agente repassadora de parte de um financiamento total de R$ 200 milhões concedido ao estaleiro pelo Fundo de Marinha Mercante. Pela programação original, o repasse de R$ 63 milhões deveria ter sido feito há mais de seis meses, conforme executivos da Engevix. Os bancos têm adotado, no entanto, postura de forte cautela para liberar crédito aos grupos investigados pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato. É o caso da Engevix, acusada de ter participado do cartel que pagou propina a ex-dirigentes da Petrobras, em troca de contratos com a estatal. Gerson Almada, outro sócio do grupo, passou mais de cinco meses detido na Polícia Federal, em Curitiba, e só foi solto na semana passada. Ele agora cumpre prisão domiciliar e usa tornezeleira. Uma reunião amanhã, com dirigentes da CEF, é uma das últimas esperanças do grupo em solucionar o impasse e ganhar sobrevida. A instituição entende que nem todas as exigências para a liberação do crédito foram devidamente cumpridas. Há quem veja, no governo, uma tentativa de blefe. Se o dinheiro da CEF não sair imediatamente e o empréstimo chinês não for viabilizado, as demissões na Ecovix abrangerão todo o contingente de trabalhadores e serão feitas já nos próximos dias porque "o fôlego acabou", segundo uma pessoa que acompanha o dia a dia da empresa. Hoje são pouco mais de sete mil trabalhadores diretos. Outras duas mil pessoas são empregadas indiretamente. No pico das obras, o estaleiro tinha 8,5 mil funcionários. A Engevix discute um acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União e tem feito uma extensa renegociação de suas dívidas com 11 bancos comerciais. Os sócios tentam evitar, a todo custo, um pedido de recuperação da empresa. Eles já se conformaram, entretanto, com um encolhimento drástico do grupo e uma volta às suas origens: a engenharia de consultoria, ou seja, elaboração de projetos. Além de ter vendido a Desenvix, que detinha 350 megawatts instalados em geração de energia, o grupo já fechou a venda de sua fatia nos aeroportos de Brasília (DF) e São Gonçalo do Amarante (RN) aos argentinos da Corporación América. Os empresários do país vizinho haviam se associado à Engevix para constituir a Inframérica, que arrematou 100% da concessão do aeroporto nordestino e 51% de Brasília - os 49% restantes ficaram com a Infraero. O negócio, cujo valor não foi divulgado, ainda precisa ser aprovado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Além da Ecovix, sobrou no grupo a hidrelétrica de São Roque (SC), em construção.

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