quarta-feira, 27 de maio de 2015

Justiça dos EUA diz que Marin recebe R$ 2 mi por ano de propina da Traffic

Detido nesta quarta-feira (27) em Zurique, na Suíça, acusado de fraude e corrupção, José Maria Marin teria recebido, segundo a Justiça dos Estados Unidos, R$ 2 milhões por ano da Traffic de propina. A empresa de José Hawilla – ou J. Hawilla, como é conhecido – adquiriu os direitos de transmissão da Copa do Brasil e pagava propina para o dirigente brasileiro. "Entre 1990 e 2009, a Traffic acertou uma série de contratos com a CBF, a federação brasileira de futebol, para adquirir direitos comerciais da Copa do Brasil, um torneio anual com clubes brasileiros", diz o documento da investigação da Justiça dos Estados Unidos. "Durante este período, Marin recebeu propina na negociação da venda de direitos econômicos da Copa do Brasil. Como resultado de um acordo alcançado entre CBF e Traffic em 22 janeiro de 2009, a Traffic detinha os direitos de cada edição da Copa do Brasil para ser jogado a partir de 2009 até 2014". Réu confesso, José Hawilla, de 71 anos, dono da Traffic Group, maior agência de marketing esportivo da América Latina, que tem os direitos de transmissão, patrocínio e promoção de campeonatos de futebol e jogadores, além de empresas de comunicação no Brasil, também é citado pela Justiça americana. Segundo a nota do governo dos Estados Unidos, o executivo teria concordado com o confisco de US$ 151 milhões (pouco mais de R$ 475 milhões, na cotação atual) de seu patrimônio – US$ 25 milhões (R$ 78 milhões) deste total já teriam sido pagos no momento da confissão. Hawilla está em liberdade e continua vivendo nos Estados Unidos, informou o seu advogado, José Luiz de Oliveira Lima (foi defensor do bandido petista mensaleiro José Dirceu no processo do Mensalão do PT). Segundo Oliveira Lima, "o empresário apóia as investigações e prestou os esclarecimentos necessários à autoridades americanas. A Tusa (braço da Traffic nos EUA) fez um acordo e pagará multa às autoridades competentes". A empresa de J. Hawilla é a atual responsável pelos direitos de torneios como a Libertadores, passes de jogadores como o argentino Conca e o brasileiro Hernanes, dona de times como o Estoril Praia, de Portugal, e pelas vendas de camarotes do Allianz Parque, estádio do Palmeiras, em São Paulo. A Traffic teve exclusividade na comercialização de direitos internacionais de TV da Copa do Mundo da Fifa no Brasil, em 2014. O empresário brasileiro também foi o responsável pelo contrato celebrado em 1996 entre a Nike e a seleção brasileira - alvo de uma CPI, encerrada em junho de 2001, sem desdobramentos práticos. Em 2008, J. Hawilla foi eleito o 56º homem mais influente do futebol mundial pela revista britânica World Soccer. 

Marin foi detido com outros seis dirigentes da Fifa pela polícia suíça em uma operação surpresa, realizada a pedido das autoridades dos Estados Unidos. Os cartolas são investigados pela Justiça americana em um suposto esquema de corrupção. Eles participariam do congresso da Fifa e da eleição da entidade, que ocorre nesta sexta-feira (29). Agora, deverão ser extraditados para os Estados Unidos, onde a Procuradoria de Nova York faz a investigação. Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a maior parte do esquema envolvia subornos e propinas entre dirigentes da Fifa e executivos do setor na comercialização de jogos e direitos de marketing de campeonatos como eliminatórias da Copa do Mundo na América do Norte, a Concacaf, a Copa América, a Libertadores e a Copa do Brasil – esta última, organizada pela CBF. Os alvos da operação são principalmente dirigentes da Concacaf, entidade que engloba os países das Américas do Norte e Central e do Caribe. As autoridades também investigam o pagamento de propina envolvendo o patrocínio da CBF por uma grande empresa dos EUA, a escolha da África do Sul como anfitrião da Copa de 2010 e as eleições presidenciais da Fifa em 2011. As acusações, segundo a polícia suíça, estão relacionadas a um vasto esquema de corrupção de mais de US$ 100 milhões dentro da Fifa nos últimos 20 anos. Além dos detidos nesta quarta-feira, outros sete dirigentes e empresários foram acusados de corrupção no caso por lavagem de dinheiro e fraude. Quatro acusados detidos confessaram culpa no caso. "Era um esquema que atuava há 24 anos para enriquecer dirigentes através da corrupção no futebol internacional", informa nota da Justiça americana. "A Fifa vai cooperar plenamente com a investigação e apoiará a busca por provas. Como observado pelas autoridades suíças, a coleta de provas está sendo realizada numa base de cooperação. Estamos satisfeitos em ver que a investigação está sendo energicamente perseguida para o bem do futebol e acredito que vai ajudar a reforçar as medidas que a Fifa já toma", informou a entidade em nota divulgada para a imprensa.

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