quarta-feira, 13 de maio de 2015

Segundo FMI, o Brasil não cresce e tem pouca credibilidade

O Brasil está em uma situação difícil. Essa é a primeira frase da avaliação anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a economia brasileira, o chamado “Artigo IV”. A instituição havia reduzido, semanas atrás, as projeções sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para contração de 1% este ano e crescimento de 0,9% em 2016. No documento apresentado nesta terça-feira, o FMI afirma que o fraco desempenho da atividade reflete o impacto da baixa competitividade, a queda da credibilidade das políticas econômicas e a piora nas condições externas para o País. “Garantir um crescimento forte e sustentável é essencial para consolidar os ganhos impressionantes na inclusão social e requer, entre outras coisas, um reequilíbrio do consumo em direção a um crescimento liderado pelo investimento”, diz o relatório. A instituição avalia que o crescimento decepcionante também é reflexo das medidas recentes de ajuste fiscal, das altas taxas de juros e dos cortes de investimento na Petrobras provocados pelas investigações da operação Lava Jato. Mesmo assim, o FMI argumenta que uma aplicação bem sucedida das medidas de ajuste deve ajudar a melhorar a atividade mais para frente: “O espaço para políticas de estímulo é limitado e o foco deveria ser, por sua vez, aliviar gargalos na oferta e impulsionar a capacidade produtiva". Para o FMI, o crescimento tende a melhorar no médio prazo, mas o potencial depende muito da implementação de reformas estruturais urgentes. “Os riscos para as projeções são significativamente para baixo e incluem ramificações adversas da atual investigação de corrupção envolvendo a Petrobras, a possibilidade de as metas fiscais não serem inteiramente atingidas e de racionamento de água e energia”, explica o documento. A implementação dos ajustes necessários não vai ser fácil, reconhece o FMI: “Entretanto, qualquer comprometimento no esforço das políticas econômicas pode colocar em risco as projeções de médio prazo, sem gerar nenhum benefício significativo no curto prazo". Na parte de recomendações, o FMI sugere que a política monetária permaneça apertada e o câmbio continue como a principal ferramenta de absorção de choques externos. “As intervenções (no câmbio) deveriam se limitar a episódios de excessiva volatilidade". O Fundo também orienta que a concessão de empréstimos pelos bancos públicos tenha um papel complementar, atuando em mercados que não são atendidos pelas instituições privadas. O FMI também diz que políticas específicas para fortalecer o sistema financeiro, especialmente um endurecimento das exigências de empréstimos para preservar a qualidade dos ativos dos bancos públicos, são “aconselháveis”. Isso ajudaria a lidar com vulnerabilidades no sistema que possam surgir em um ambiente marcado pelo crescimento baixo, as condições financeiras mais restritivas e um possível aumento do desemprego. As análises feitas pela equipe econômica do FMI apontam que a baixa taxa de desemprego dos últimos anos “mascaravam” uma deterioração no mercado de trabalho. Segundo a instituição, o desemprego deve crescer em função da atividade econômica fraca e do aumento na taxa de participação. “As quedas mais recentes nas taxas de desemprego refletem uma contração na força de trabalho, que mascara uma paralisação no crescimento do emprego em meio à desaceleração da atividade econômica”, diz o relatório, apontando que a criação de vagas na indústria e na construção civil tem caído fortemente desde o início de 2014. “Se a taxa de participação voltar para a média de entre 2008 e 2014, de 56,8%, o desemprego pode subir para 6,5%, tudo mais constante”. O texto aponta ainda que as pressões salariais continuam fortes, com os ganhos reais dos salários subindo acima da produtividade. Isso reflete, em parte, os grandes aumentos do salário mínimo.

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