segunda-feira, 8 de junho de 2015

A possibilidade de democracia na Turquia ainda respira

A possibilidade de haver uma democracia de fato na Turquia — não, eu não considero aquele um regime democrático! — ainda respira. O Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), de orientação islâmica, comandado com mão de ferro pelo presidente Recep Erdogan, obteve 41% dos votos, o que deve lhe render, segundo a imprensa local, 258 cadeiras das 550 no Parlamento — 18 a menos do que a maioria necessária (metade mais um) para governar sem precisar fazer uma coalizão. A derrota de Erdogan é maior porque, no início da campanha eleitoral, ele ambicionava fazer ao menos 400 cadeiras. Com 330 — o correspondente a três quintos —, ele já conseguiria propor um referendo para ampliar os poderes da Presidência da República. O agora presidente turco exerce, vamos dizer assim, um modelo Vladimir Putin de “democracia”, com viés islâmico. Depois de permanecer como primeiro-ministro da Turquia de março de 2003 a agosto de 2014, elegeu-se presidente. E, aí, ora vejam, teve a idéia de aumentar os poderes da… Presidência. Erdogan foi surpreendido pelo desempenho do Partido Democrático (HDP), pró-curdo, que obteve 12,5% dos votos. O Partido do Povo (CHP), ficou com 25,2%, e o Partido da Ação Nacionalista (MHP), ambos seculares, com 16,5%. Qualquer que seja a composição para governar, avalia-se que o presidente não obterá os três quintos necessários para mudar a Constituição. E essa é certamente uma boa notícia para a, quem sabe um dia, democracia turca. Só pra deixar claro: eleições compõem as condições necessárias de uma democracia, mas não suficientes. Na Turquia, a imprensa sofre censura religiosa, e jornalistas estão presos por delitos de opinião, ainda que a acusação oficial seja de conspiração. Um país com essas características não pode ser considerado democrático, a menos que a gente comece a achar que existe uma “democracia tipicamente turca”. Estejam certos: sempre que é preciso ficar colando penduricalhos à democracia, estamos falando de outra coisa. Por Reinaldo Azevedo

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