quinta-feira, 4 de junho de 2015

ANTISSEMITISMO – Documento que embasou pedido absurdo vem à luz; as coisas pioraram bastante; reitor e pró-reitor têm de renunciar. Cadê Janine, o professor de Ética? Ou: A “burritisia” nacional

A Universidade Federal de Santa Maria tornou público o documento em que se baseou José Fernando Schlosser, pró-reitor de pós-graduação da instituição, para enviar um memorando cobrando informações, em caráter de “urgência”, sobre a “presença (sic) de discentes e/ou docentes israelenses neste programa de pós-graduação”. A divulgação do documento torna tudo muito pior. Se o reitor Paulo Afonso Burmann achava que poderia sair pela tangente nessa história, a reivindicação feita por entidades sindicais ligadas à universidade e por um certo Comitê Santamariense de Solidariedade ao Povo Palestino torna tudo pior, dada a delinquência política e intelectual em que é vazado o documento. Leiam (se preciso, clique na imagem para ampliá-la).


Como se nota, os postulantes transformam Israel num estado criminoso e partem do princípio de que o Brasil não mantém relações diplomáticas com o país. A sua avaliação sobre o conflito israelo-palestino é marcadamente ideológica. Pior: apela a um legalismo tosco para, ao fim e ao cabo, propor um ato claramente discriminatório, conforme se lê no item 4 do documento:
“Há, no momento, ou a perspectiva, de [NR: MANTIVE A PONTUAÇÃO ANALFABETA DO ORIGINAL] a UFSM receber alunos/professores/autoridades/profissionais israelenses? Se positivo, a convite/proposta de quem?”
Observem que não se mira uma campanha persecutória apenas contra os israelenses, mas também contra quem os convidou. Burmann pretende se escudar na Lei de Acesso à Informação para justificar o pedido. É uma tentativa de enrolar o público. Sim, a lei existe. Uma autoridade não é obrigada a fornecer informações se julgar o pedido improcedente, a menos que o solicitante obtenha na Justiça uma ordem para a divulgação dos dados. Considerando os prolegômenos da petição, duvido que algum juiz autorizasse tal coisa. E, se o fizesse, seria o caso de apelar ao Conselho Nacional de Justiça. O Conselho Universitário e o Ministério da Educação têm de entrar em ação. Reitor e pró-reitor têm de deixar imediatamente os cargos de confiança que ocupam, sem prejuízo de demais órgãos competentes tomarem as devidas medidas legais. Um dos muitos aspectos nojentos do documento é sua tentativa malsucedida de esconder o preconceito, a discriminação e a perseguição política numa linguagem supostamente decorosa. Será que as tais entidades que assinam esse lixo se lembram de que a Constituição da República Federativa do Brasil repudia o terrorismo no Inciso VIII do Artigo 4º? Quem é governo na Faixa de Gaza, onde teria ocorrido o suposto “massacre”? A que prática recorre o Hamas? É fácil entender: caberia, agora, aos que discordam desse absurdo enviar uma petição à UFSM, ancorando-se no Artigo 4º, para cobrar uma lista de todos os alunos e professores que tenham eventuais ligações com países árabes? Não! O que se deu na universidade é intolerável e tem de ter consequências administrativas e penais, com base na mesma Constituição evocada para fazer aquela solicitação. A propósito: cadê a determinação judicial para que aqueles dados fossem divulgados?
Quem é?
O caso despertou em mim outras curiosidades. Quem integra o tal “Comitê Santamariense de Solidariedade ao Povo Palestino”? Quais são suas atividades regulares? Quem financia o grupo? Qual é a sua pauta? Que interferência tem na UFSM? Há membros do corpo discente e docente envolvidos com essa entidade? Doze anos de poder petista transformaram as universidades federais em antros de militância política. O encadeamento do raciocínio que sustenta o documento busca transformar a perseguição num ato humanista.
“Burritsia” nacional
Mundo afora, as universidades concentram a “intelligentsia” dos respectivos países. A nossa reúne a “burritsia”. Na estupidez sem limites em que se ancora o texto, a gente lê que “a atual (sic) política externa brasileira se baseia no tripé democracia, desenvolvimento e descolonização”.
Como??? ATUAL? O chamado discurso dos “Três Ds” — nesta ordem: democracia, descolonização e desenvolvimento — foi pronunciado na Assembleia Geral das Nações Unidas por um brasileiro em 1963 — HÁ CINQUENTA E DOIS ANOS, PORTANTO! Quando a África e parte considerável da Ásia ainda abrigavam colônias. Quem fez tal defesa foi o chanceler João Augusto de Araújo Castro. Afirmar que, ainda hoje, a “descolonização” é uma prioridade da política externa é coisa de gente que tem os dois pés no chão e as duas mãos também… Onde estão as colônias? Pior: tratar os palestinos como um povo sob ação colonial é de uma delinquência intelectual e moral sem-par. Se israelenses são colonizadores, onde fica a matriz? Eu não tenho dúvida de que essa gente responderia: “Nova York”! Tal consideração, embora não pareça, reflete a opinião de quem é contra a existência do próprio estado de Israel. Cadê o senhor Renato Janine Ribeiro, ministro da Educação e professor de ética? Cadê o Ministério Público? Cadê a Secretaria Nacional de Direitos Humanos? Os humanistas no geral e os judeus, em particular, não podem deixar isso barato. Ainda que os tais convênios secretos existissem — acusação típica de mentes paranóicas —, por que estudantes e professores israelenses deveriam, por isso, merecer alguma forma de tratamento especial? Ainda que Israel fosse o que dizem esses celerados, por que cidadãos daquele país deveriam ser expostos a alguma forma de restrição ou molestamento? Porque são judeus ou porque são israelenses? Existe boa resposta para isso, reitor Burmann? Existe boa resposta para isso, professor Schlosser? Tenho uma recomendação a ambos: renunciem aos respectivos cargos, ainda que permaneçam, por enquanto, como professores da universidade. Vocês perderam a autoridade moral de ocupar suas cadeiras, na hipótese de que a tenham tido algum dia.
Cadê Janine? Espero que ele não se esconda na “autonomia universitária”, ou terei de considerar que as universidades brasileiras são livres para praticar antissemitismo e para violar a Constituição. Por Reinaldo Azevedo

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