sexta-feira, 19 de junho de 2015

ARTIGO DE REINALDO AZEVEDO - "O ENTERRO DA ÚLTIMA QUIMERA"

Lula, a quem chamo "Babalorixá de Banânia", numa homenagem duvidosa a Kakânia, de Musil (pesquise a respeito se for o caso), resolveu me atacar na sexta-feira, dia 12, na abertura do 5º Congresso do PT. No lugar dele, eu jamais pagaria esse pau a um crítico, a menos que a crítica me incomodasse bastante. Parece ser o caso. O chefão petista confundiu uma coluna que escrevi aqui no dia 24 de abril do ano passado (folha.com/no1445129) com um post do meu blog, no site da "Veja", e me chamou de "blogueiro falastrão". Por que a braveza? Afirmei então: "O PT começou a morrer. Que bom!". Uma leitura um tantinho atenta daquele texto – e não espero muito de quem já confessou ficar com sono lendo até Chico Buarque; a minha sintaxe, afinal, vai um pouco além do dó-ré-mi– evidencia que não antevi a iminente desaparição do partido, ainda que pudesse ser do meu gosto. E é. O PT tinha começado a morrer, asseverei, como organização vocacionada a ser o imperativo categórico. É teoria política, não o varejão em que Lula se especializou. Seis meses antes das eleições, a legenda sonhava com a maior bancada da história para impor a reforma política dos sonhos, na base de plebiscitos. Não iria acontecer, percebi. E não eram os protestos contra a Copa que me alertavam para o começo da morte do PT, até porque eles ainda estavam vincados pela linguagem e pelas palavras de ordem das esquerdas, o que não implica que os manifestantes soubessem disso. É que havia algo de fatalmente regressivo naquele papo de cobrar isso e aquilo "padrão Fifa". Pedia-se, na prática, mais Estado na veia. E eu notava as palpitações, ainda incipientes, dos que já não mais aguentavam o Estado em sua jugular. Eu me permito citar um trecho: "Os blogs sujos viraram caricatura. A cultura antipetista está em expansão. E isso, obviamente, é bom. (...) Não sei se Dilma será ou não reeleita (...). Ainda que o partido venha a ter o melhor desempenho de sua história, terá começado a morrer mesmo assim. Refiro-me (...) a uma 'agitação das mentalidades' que costuma anunciar as mudanças realmente relevantes". Tivesse lido com cuidado o que escrevi, Lula teria cometido menos erros – e eu me congratulo com sua desatenção. Não quero que acorde de seu delírio. Depois de ver aprovado seu pacote de ajuste recessivo da economia, depois de ter feito acordo para voltar atrás na desoneração da folha de pagamentos, depois de ter feito o contrário do que anunciou em campanha, Dilma se viu obrigada a vetar a fórmula 85/95 para a aposentadoria, no que fez bem, propondo, no lugar, a 90/100, que também inviabiliza o sistema, mas com mais vagar. Quando se põem nessa equação as manobras fiscais para fechar as contas de 2014 – não sei se notaram, mas o relatório do representante do Ministério Público no TCU acusa a presidente de infringir os artigos 10 e 11 da Lei 1.079, que define crime de responsabilidade –, estamos diante da falência de um modelo de gestão e de um modo de fazer política que caracterizam e explicam o petismo. Pouco me importa se o PT vencerá ou não as eleições presidenciais de 2018. Nunca fiz previsões eleitorais e não começarei agora. Há pouco mais de um ano, escrevi que o partido havia começado a morrer. Agora, assino seu atestado de óbito. Está morto. E notem que nem escrevi a palavra "corrupção".

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