segunda-feira, 29 de junho de 2015

AS REAÇÕES À MINHA COLUNA NA FOLHA E O ESTADO DE DIREITO

Há muito tempo um texto meu — e, ouso dizer, um texto na imprensa — não rendia tanto bochicho como a minha coluna de sexta na Folha, em que aponto, sim, abusos da operação Lava Jato e o uso da prisão preventiva como instrumento de pressão, o que não tem, felizmente, prescrição legal. As hipóteses conspiratórias é que são as mais divertidas. Também é interessante ver os sites e blogs de esquerda mais ou menos abestalhados, tentando entender qual é a minha. Qual é a minha? Acho que um TEXTO MEU DE JULHO DE 2005 EXPLICA.

Eu estou me referindo a um artigo que vai completar dez anos no mês que vem. Eu me oriento por princípios, por fundamentos, por valores que compõem a essência dos direitos individuais. Eu nunca pergunto quais são os meus adversários da hora. Eu tenho os adversários de sempre:
– o autoritarismo;
– a ilegalidade;
– o coletivismo;
– o rancor;
– a boçalidade.
NUNCA — E NUNCA QUER DIZER “NUNCA” — condescendi com arroubos do estado sobre os direitos individuais, de quem quer que seja. A minha praia são os fundamentos da democracia representativa. E ponto.
Em julho de 2005, a Polícia Federal desencadeou uma operação que resultou na prisão da empresária Eliana Tranchesi, que viria a morrer de câncer, quase sete anos depois, no dia 24 de fevereiro de 2012. Eliana e outras pessoas ligadas à sua empresa foram acusadas de contrabando, formação de quadrilha etc. Em nenhum momento, no texto que vai completar 10 anos daqui a alguns dias, entrei no mérito da investigação ou contestei provas. Até porque eu não tinha elementos para isso. O que me causou horror:
– o espetáculo de truculência da Polícia Federal;
– a decisão que me pareceu deliberada de humilhar Eliana;
– o uso da prisão como prova de que o PT significava uma nova era na República;
– o uso da operação como expressão do arranca-rabo de classes;
– o incentivo ao ódio a Eliana porque ela significaria a insensibilidade dos ricos…
Reitero: deixei claro, então, o que deixo claro agora. Que os culpados pagassem. Mas sem espetacularização. TRANSCREVO TRECHOS DO TEXTO QUE VAI FAZER DEZ ANOS NO MÊS QUE VEM. E EU ME ORGULHO MUITO POR TÊ-LO ESCRITO — no post abaixo deste, vocês o encontram na íntegra. ATENÇÃO! EU AINDA NÃO TINHA ESTE BLOG. O ARTIGO FOI PUBLICADO NO SITE DA REVISTA “PRIMEIRA LEITURA”. Seguem trechos em azul. Volto em seguida.
Deem um copo de sangue aos canibais, Eles estão com sede. Se Eliana Tranchesi cometeu um ou todos os crimes de que é acusada, que pague por eles. Mas já foi julgada e condenada? (…) Que Estado de Direito é este que primeiro pune para depois investigar? Todo empresário “deste país”, como diz aquele, deve recorrer ao STF para conseguir um habeas corpus preventivo. Sob qual pretexto? Qualquer um. A democracia à moda Putin-Lula-Chávez não precisa de motivos. Precisa de pretextos.
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Quer dizer que a investigação está em curso há dez meses, e só agora se decidiu pela punição, invadindo a empresa e a casa de Eliana Tranchesi com homens armados até os dentes e coletes à prova de bala? Nada menos de 240 foram mobilizados. O que acharam que ela faria? Agredi-los com vestidos Chanel e gravatas Ermenegildo Zegna?
(…)
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Na TV, a casa de Eliana é chamada “mansão”. Vamos comer os ricos. Ricos não têm casa. Ricos têm mansão! Vamos prender Eliana Tranchesi e deixar os contrabandistas da 25 de Março à solta, já que cumprem uma função social
(…)
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. As redações já estão coalhadas com as “provas” enviadas pela Polícia Federal. Vocês conhecerão todos os “horrores” de Eliana Tranchesi antes que ela mesma saiba o que se diz dela. Assim entendem ser o Estado de Direito. Acham que, assim, não há discriminação. A regra de ouro é a seguinte: já que não há Estado de Direito para os pobres, que não haja também para ricos. Se um pobre e preto pode ser preso a qualquer momento, sem justificativa, por que não uma loura rica? É o socialismo da miséria material e da indigência intelectual. Não nos ocorre dar ao preto pobre os mesmos direitos da loura rica. A primeira coisa que se faz é cassar os da loura rica. Igualando todo mundo por baixo. Enquanto Lula faz discursos enérgicos na França sobre as injustiças sociais no… Haiti. Lula para presidente do Haiti! Eis o meu lema.
(…)
Os canibais fiquem certos. Não me arrependo de uma miserável linha do texto que escrevi em defesa da Daslu [eu tinha escrito um texto criticando os que atacaram a inauguração da megaloja porque eram nada mais do que ressentidos] ainda que Eliana seja culpada de tudo de que a acusam. Eu o assino de novo. Porque suas eventuais transgressões não diluem a névoa de ressentimento e canalhice invejosa que cobriu a inauguração de sua loja. Os que a hostilizavam não o faziam porque ela sonegava, mas porque a queriam responsável pelas misérias do Brasil. 
(…)
Os canibais podem rosnar e soltar a sua baba vermelha. Não arredo pé.
Voltei
O que vai acima, em azul, era Reinaldo Azevedo há 10 anos, ainda antes de este blog existir. Os petistas queriam, então, demonstrar que havia um novo poder no Brasil, com novos valores. A operação contra Eliana Tranchesi foi deflagrada um mês depois de Roberto Jefferson botar a boca no trombone, denunciando o mensalão.
Mas não foi apenas nesse caso, não. No site Primeira Leitura, reagi quando a Polícia Federal, acompanhada de uma equipe de TV, filmou o também já morto Celso Pitta, de pijama, no portão, sendo preso. Ou quando um repórter vestiu um colete da PF para se imiscuir na operação que prendeu Paulo Maluf — sim, Maluf, um sujeito que já me processou. Felizmente, ele perdeu.
Alguns trouxas e vigaristas que estão especulando sobre as minhas motivações de agora desconhecem a trajetória do que penso. Porque eles, sim, se orientam apenas pela oportunidade; porque seus princípios atendem só às suas necessidades da hora, imaginam que outros possam fazer do mesmo modo.
A revista e o site Primeira Leitura fecharam menos de um ano depois daquele texto. O clima na nossa imprensa, então, era de pega-pra-capar contra Eliane. Ela apanhava no jornalismo nem tanto por causa da acusação de sonegação. O que se considerava inaceitável, como se dizia, é que fizesse um “templo de consumo para os ricos num país pobre”, como se fechamento da Daslu, o que acabou acontecendo — ao menos naquelas dimensões —, fosse trazer algum bem ao país e aos miseráveis.
Quando vi a Polícia Federal, em 2005, armada até os dentes, acompanhada de equipes de TV, prender uma senhora de camisola — e pouco me importava se sonegadora ou não —, numa mobilização de 240 agentes, concluí que algo muito ruim estava em curso no país e que aquilo duraria por um bom tempo.
Sigo sendo o mesmo Reinaldo. No meu mundo, ou as coisas se dão de acordo com as leis democraticamente pactuadas ou não se dão de jeito nenhum. Não opero na zona cinzenta entre a democracia e o autoritarismo. É por isso que há tantos anos dou combate ao petismo. Que, por óbvio, tem de ser combatido de acordo com a… lei. Por Reinaldo Azevedo

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