terça-feira, 9 de junho de 2015

Dilma mantém distância do PT e não vai participar da sessão “malha-Levy”. Ou: Lula quer conversão à esquerda. Manda brasa!

Às vezes, o governo faz a coisa certa. Às vezes, a presidente Dilma Rousseff toma a decisão correta. Quando isso acontece, especialmente porque é raro, é preciso que se aponte a recusa do erro. A que me refiro? Dilma viajou para a Bélgica nesta terça-feira. A previsão inicial é de que já estaria de volta na quinta-feira, quando o PT abre, na Bahia, o seu 5º Congresso. Mas não será assim. A presidente só retorna na madrugada de sexta-feira. Não vai participar, portanto, da solenidade de abertura do evento, como estava programado. Ainda não está confirmado se ela vai ao encontro da companheirada na própria sexta-feira ou no sábado, no encerramento. É claro que a presidente faz bem em cair fora da abertura. Ela sabe a patuscada que lá está armada contra Joaquim Levy, aquele que, segundo ela, não é Judas, e que chega a ser um Jesus Cristo, segundo Michel Temer, vice-presidente da República e coordenador político do governo. A situação não deixa de ser surrealista. Dilma evita a abertura de um congresso do seu partido porque não quer participar — e está certa — do linchamento político de Levy. Até parece que os petistas lhe fazem um favor empregando-o, não ele um favor ao petismo tentando consertar as bobagens feitas nos últimos anos. Ir a um encontro dessa natureza, na abertura, sem que se tenham contido os radicais, é o mesmo que entregar o ministro às cobras. Ora, diga-se de novo: a política econômica que está aí é de Dilma, não de Levy. Ela só o chamou porque ele é ele; se precisasse de um petista, Aloizio Mercadante estaria à mão. A falta de Dilma à abertura deixa frustradas todas as correntes. As esquerdas do partido queriam que ela assistisse à sessão “malha-Levy”. Os ditos moderados lulistas da “Construindo um Novo Brasil”, a corrente majoritária, queriam que ela usasse o evento como uma reaproximação com a base. É evidente que não faz sentido a presidente da República participar de uma, como vou chamar?, “sessão de descarrego” contra seu ministro da Fazenda. Ainda que compareça ao local na sexta ou no sáb-feira, o recado está dado.
Conversão à esquerda
A corrente “Construindo um Novo Brasil”, majoritária no PT, vai apresentar um documento no 5º Congresso em que prega, para 2018, a aliança com partidos de esquerda e com movimento sociais. No encontro do próximo fim de semana, o grupo não pretende liderar as críticas a Levy — mas também não irá defendê-lo — e dirá que a salvação da legenda está numa conversão à esquerda.
Diz o texto:
“(…) Nossa proposta é a constituição de uma nova coalizão, orgânica e plural, que se enraíze nos bairros, locais de estudo e trabalho, centros de cultura e pesquisa, capaz de organizar a mobilização social, o enfrentamento político-ideológico, a disputa de hegemonia e a construção de uma nova maioria nacional”(…) 
Vamos traduzir: isso quer dizer que o PT já tem a certeza de que não haverá uma aliança com o PMDB em 2018, o que é, sem dúvida, uma boa notícia. Os petistas de Lula estão anunciando, em suma, que vão suportar Levy agora para, depois, tentar uma volta à esquerda. O partido já foi bom em incendiar o imaginário popular. Hoje em dia, quando se fala da turma, os brasileiros logo pensam em roubalheira, polícia e cadeia. Tenho certa curiosidade de saber contra quem os petistas dispararão seus petardos em 2018, não é?, depois de 16 anos de governo companheiro. O País ainda estará muito longe da retomada de um crescimento sólido, sustentável, e parte dos alvos serão parceiros de jornada. Parece certo que, em 2018, ou o PMDB terá candidato próprio ou se somará a forças que hoje estão fora do poder. A palavra “hegemonia” merece atenção no texto da “Construindo um Novo Brasil”. O PT hegemonizou, de fato, a política nos últimos anos se unindo a frações do conservadorismo. Será mesmo possível criar uma força majoritária, com um mínimo de consenso, apelando apenas à esquerdas? Até onde a vista alcança, não! Mas acreditem, não serei eu a tentar impedir o PT de cometer um erro. Dilma tomou a decisão correta. Quanto mais longe ela ficar dos erros e preconceitos do PT, melhor para o País.  Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário: